Comecei a trabalhar com propaganda em 1994, como estagiário da agência de Pedrinho da Rocha, um dos maiores nomes da direção de arte baiana, também conhecido como o Mago do Carnaval (foi ele quem inventou o abadá e criou boa parte das marcas dos blocos e artistas do carnaval baiano).
Trabalhei em diversas agências, ao lado de profissionais como João Silva, Aloísio Pititinga, Conde Badaró, Renato Tavares, Paulo PG, Dude, Antonio Luiz Nilo e outros grandes nomes da propaganda baiana.
Ajudei a criar muita coisa. Vi muito trabalho ser veiculado. Atendi clientes de todos os portes.
Em 1998, fiz meu primeiro e-mail (o ZipMail) e, desde então, comecei a descobrir o mundo dos bits: o Napster em 2000, o atentado ao WTC ao vivo via internet em 2001, os instant messengers e os álbuns de foto em 2002, o Firefox em 2003, o Gmail em 2004, o YouTube e o iPod em 2005, o Twitter em 2006…
As descobertas me levavam a mais descobertas e eu buscava me aprofundar no mundo digital. Criei em 2004 meu primeiro site! E foi para minha própria agência, a Usina Criativa, que, além de criar anúncios e comerciais, desenvolvia sites para clientes em 2004 e 2005.
Em 2006, fui o responsável pela estratégia de lançamento de um aplicativo mobile (criado pela Spiritus Mundi) para a Nokia (o MobCopa) e, desde então, comecei a imergir no mundo digital.
Continuo criando algumas marcas, dando risada com comercial de cerveja e tal, mas, de lá pra cá, muita coisa mudou… muita coisa mesmo.
Só uma coisa continua a mesma… as próprias agências!
“Metade do orçamento investido em propaganda é desperdiçado. O problema é que não sei que metade é essa”. John Wanamaker (1876), pioneiro das lojas de departamento.
As agências de propaganda continuam criando anúncios, mensurando muito pouco dos resultados (ou quase nada), recebendo seus 20% de comissão e empurrando a vida com a barriga pra ver até onde tudo vai parar…
“O conceito de construção de marca existe há cerca de um século. Porém, os publicitários ainda não sabem muito mais do que John Wanamaker, pioneiro das lojas de departamento, sabia há mais de século, quando fez sua notória declaração”. Trecho do livro A Lógica do Consumo.
Segundo Jeff Jarvis, no livro O que a Google Faria, “as agências resistirão às mudanças até que a economia do setor seja alterada”. A questão é que a economia já está sendo drasticamente alterada.
Vejamos alguns números:
- Na Inglaterra em 2008 já era previsto que a publicidade online superaria, em investimentos, a TV no final de 2009. No entanto, com a crise econômica internacional, a internet superou a TV logo no 1º semestre de 2009. Aliás, a verba publicitária inglesa para internet em 2006 já superava a verba para rádio e revistas.
- Nos EUA, o gasto com publicidade online cresceu 13,9% em 2010, alcançando US$ 25,8 bilhões, enquanto o gasto com anúncios em jornais impressos caiu 8,2%, descendo para US$ 22,8 bilhões.
- No Brasil, o investimento publicitário online cresceu 36% no primeiro trimestre de 2008 chegando a R$ 134,3 milhões. Com isso, pela primeira vez a internet recebeu mais recursos que a TV por assinatura no país.
- A internet continua a ser a mídia que mais cresce no Brasil, tendo faturado R$ 933,7 milhões, 28,8% a mais que no ano anterior. A internet, em 2010, representa 4,4% do total das verbas publicitárias no País.
Está bom? Mais um pouco? Vamos lá:
- O Brasil é o 8° país do mundo em acesso à internet;
- Ultrapassamos os 80 milhões de usuários em 2010;
- 93% dos brasileiros se acham mais bem informados e 88% se sentem mais comunicativos com a internet;
- 41% dos brasileiros têm computador em casa;
- 48% levam em consideração a opinião do outro usuário;
- Com 22%, a internet já é o segundo meio de consumo de notícias no Brasil, atrás apenas da TV (59%) e bem a frente do rádio, terceiro colocado (8%).
A internet já deixou de ser o futuro há tempos. É realidade e não é de hoje! Para alguns donos de agência de propaganda, no entanto, a internet ainda não é bem uma realidade, menos por ceticismo, mais por apego ao “veio”, ao “filão” dos 20%! #fato
Só que, à medida que o acesso à informação se propaga, à medida que os clientes das agências começam a beber de outras fontes e à medida que o consumidor de outrora começa a dar lugar ao prosumidor, a coisa muda de figura.
Com o prosumidor, esse consumidor pró-ativo, produtor de conteúdo, conectado e bem informado, a propaganda que vemos hoje torna-se cada dia menos relevante.
A alma do negócio, não é a propaganda. A alma do negócio é o próprio negócio.
O atendimento, a preocupação com os detalhes, um produto bem acabado, um serviço bem feito… nem toda propaganda do mundo compensa um produto ruim! #ProntoFalei
O dono de loja, o empresário, o cliente da agência de propaganda, todos devem investir, cada centavo, em qualidade e em relacionamento com o cliente!
Segundo Jeff Jarvis, ainda no livro “O que a Google Faria”, “a propaganda deve nos informar sobre um produto ou seu preço, para que possamos economizar esforço, tempo e dinheiro na busca por ele. Se a meta dos consumidores é reduzir os custos de transação – o esforço de encontrar o produto certo, pelo preço certo – a própria internet não substitui a propaganda? Com freqüência, sim!”
E as agências de propaganda tradicionais? Vão acabar? Se adaptar? Se transformar? O intermediário, que cria dificuldade para vender facilidade, está com os dias contados na era da conectividade! As agências de propaganda precisam, urgentemente, aprender, desaprender e reaprender.
“Toda novidade passa pelo processo de aprendizado. Precisamos estar atentos às questões como inovação, empreendedorismo, criação e adaptabilidade, pois somente acompanhar as mudanças já não basta. Temos que tomar consciência de que somos parte integrante dessas mudanças”. Pedro Cordier, especialista em comunicação, criatividade e conectividade.
Os anunciantes estão começando a aprender que o seu grande diferencial não está no slogan criativo, mas na transparência. É uma questão de relacionamento, não de mensagem!
“A mensagem fundamental do marketing deve mudar de queremos seu dinheiro para compartilhamos seus interesses”. Christopher Locke, no livro Gonzo Marketing.
O papel das agências digitais será o de ajudar as empresas a ouvir o que os prosumidores estão dizendo a respeito de seus produtos e serviços. Exemplos:
- fazendo análise de dados, mensurando e criando redes calcadas na transparência.
- ajudar no lançamento de produtos, de preferência, com a utilização de crowdsourcing, o que contribui para a criação de relacionamentos verdadeiros.
- auxiliar no entendimento e utilização das plataformas sociais;
- produzir informação e conteúdo para as diversas telas.
- desenvolver aplicativos úteis, que realmente possam facilitar a vida do usuário…
“Mercados são conversas.” The Cluetrain Manifesto, trabalho sobre a era da internet, em 2000.
Se a mudança, em si, para muitas pessoas, já é um processo doloroso, imagine a total perda do controle?
No final de 2010, em conversa com um conhecido dono de agência da capital baiana sobre o futuro das agências de propaganda, disse a ele que a agência de propaganda não estava mais no controle. Disse ainda que, na verdade, sequer o cliente dele (o anunciante) estava no controle… quem estava assumindo o controle de tudo era o prosumidor, que, num piscar de olhos, poderia se reunir e manifestar-se contra a favor dessa ou daquela organização, causando um impacto jamais imaginado em outros tempos menos conectados.
Para minha surpresa, a sua resposta foi muito mais consciente do que eu imaginava. Disse ele: “Se eu não procurar observar, entender e me tornar parte dessa mudança, isso aqui tudo (apontando para a bonita e confortável sala de reunião em que estávamos e para os demais departamentos, porta afora…) vai, simplesmente, desaparecer”.
Assista “A última agência de publicidade da Terra (The Last Advertising Agency on Earth), legendado.
[Webinsider]
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Pedro Cordier
Pedro Cordier (pedrocordier@gmail.com) é profissional de comunicação, marketing, propaganda e TI e comunicação com ênfase em planejamento digital. Mantém o blog As coisas não são bem assim e o Twitter @pedrocordier.
9 respostas
Nos desperta e nos faz lembrar do fato de que devemos valorizar muito mais os prosumidores que o produto ou serviço em si. Entendi que não é o produto ou serviço que compra o prosumidor, nem grandes quantias gastas em campanhas e promoções, é o prosumidor que, depois de ter suas prioridades e interesses atendidos, depois de satisfeito torna-se o comprador, ou seja o foco é sempre ele o prossumidor.
No meu ponto de vista, as mudanças são necessárias sempre.
A propaganda sozinha não existe, cabe aos comunicadores evoluirem para uma etapa acima do comum.
Acho importantíssimo novos conceitos de propaganda, pois agora é a hora. A era digital está ai e quem não quer vê-la ou vivê-la ficará pra traz.
Eu vejo que o mundo da propaganda está sempre inovando, e muitas agências, ou melhor donos de agências que não aceitam essas inovações estão saturando e enchendo o mercado com os mesmos conceitos. Ainda não sou formada, mas procuro saber tudo que gira em torno do “fantástico mundo da publicidade” e percebi que o mercado está lotado de comunicadores e profissionais que seguem a risca os modelos tradicionais e acabam sobrando. O que vende hoje são as mudanças, o que seja fora do comum, a inovação.
Como você mesmo disse ” A PROPAGANDA NÃO É A ALMA NO NEGÓCIO”. A alma é o todo, é o novo, é a união de todos os meios para gerar resultados surpreendentes, a busca incansável por mídias mais interativas, a utilização da internet como meio indispensável para maior conexão com os consumidores.
Está na hora de mudar, aliás de aceitar as mudanças, ou tudo que resultará é o fim do FANTÁSTICO MUNDO PUBLICITÁRIO.
Oi Pedro,
Coincidentemente, estou escrevendo um artigo para pós-graduação em cima desse tema “A pro paganda é sempre a alma do negócio?”.
Penso da mesma forma, a alma do negócio é o próprio negócio, é o todo.
Por exemplo:-Que adianta uma propaganda eficiente se não tiver um produto de qualidade competitiva para entregar?
O certo é que todos os departamentos devem estar em sintonia para que o resultado final seja positivo.
Pedro, como vai? Saudades do amigo. Bom te ver
agitando o mercado e com muita competência por
por sinal. Você sempre inteligente e preparado, né rapaz?
Mano, achei sua matéria muito boa e mais que verdadeira. E por isso mesmo sugiro que você reconsidere a fonte que informa que 80% dos brasileiros têm acesso à internet. Têm se divulgado isso e nos parece exagerado.
Agora mesmo a imprensa vem divulgando que o Brasil já opera 200 milhões de celulares, o que não é veredade. O Brasil já vendeu 200 milhões de aparelhos, isso contado desde o lançamento do tijolão da Motorola. Só que a metade desses 200 mihões de aparelhos estão fora de operação, entende? A Internet no Brasil é um sucessão e isso
de fato bate com tudo o que você diz sobre a propaganda no Brasil.
Um abraço forte, velho. E continue brilhante como sempre. WQT. Conde Badaró
Oi, Juliana Xavier. Obrigado pelo comentário.
Na verdade, não creio que a profissão (ou a função) “x” seja mais ou menos importante que a “y”.
E, mais ainda, o relacionamento é importante demais para ficar restrito apenas a um departamento, profissional ou função.
O certo é que todos os profissionais, de todas as áreas, devem estar preparados (ou começar a se preparar) para as mudanças que estão acontecendo.
E a agência de propaganda, deve tirar o foco do seu umbigo, focar no aprendizado e no relacionamento do anunciante com seus prosumidores. O papel da agência está mais para um facilitador do que um “mágico”, um “ilusionista”.
Como citei no artigo, “A alma do negócio é o próprio negócio”.
Muito bacana o teu texto… mas então, depois de tudo que tu disseste, eu diria que “Relações Públicas é que são a alma do negócio”, pois é o profissional que mais preparado está para tratar as questões do relacionamento e transparência com o consumidor, saber e entender quem ele é, saber que agora ele é o prosumidor!
Claro que não quero dizer que os RP’s devem tomar o lugar das agências de publicidade. Apenas que o mais indicado e ideal é que todos trabalhem estrategicamente e eficientemente na chamada comunicação integrada!
Com ela, a comunicação integrada e um trabalho completo, não há perigo de agência nenhuma simplesmente desaparecer!
Oi, Marcelo Miranda! Eu, particularmente, gosto do layout simples e “objetivo” do webinsider.
Se aqui é um site para apresentar textos, reflexões, artigos, pra que “pinduricalhos”?
Mas, concordo com você, sinto falta dos ícones de redes sociais e outros mecanismos para facilitar o compartilhamento! #FicaDica
Forte abraço!
Falando em mudar, a webinsider devia mudar o site né, já faz anos que está com o mesmo layout, não aguento mais ver a cor desse site. Não tem nem icone de redes socias.
Caso precisar de um colaborador para inovar o meu e-mail está ai.
Abraços de um fiel leitor.