O celular apitou as 03:45, era um SMS dizendo: “Risco de desabamento e enchente, saia de sua casa e dirijam-se ao abrigo mais perto. Urgente”.
140 caracteres revelavam: a casa vai cair. Maria sentiu um arrepio daqueles que puxam o cabelo da nuca para cima, viu os filhos dormindo, olhou para o marido desnorteado e entendeu tudo o que poderia acontecer se não fosse rápida, rapidíssima.
Mostrou a mensagem no celular pré-pago para o marido, agora só restava fugir. Não foi Deus que avisou, mas foi como se fosse. Maria, João e os filhos correram, deu tempo de juntar nada, foi pegar um na mão do outro e descer, meio que escorregando, meio que de lado, a descida da estrada que a esta hora já estava cheia de barro, lama, caco, pau e gente da comunidade que havia recebido a mesma informação, na mesma hora e do mesmo jeito, e aí foi um ajudando o outro, até chegarem a um ponto que era seguro.
Maria e sua família se salvaram da enxurrada e desmoronamento que se seguiram porque receberam um alerta via torpedo SMS que teve um custo de menos de 20 centavos para a administração pública.
Maria havia sido cadastrada em um programa municipal que monitora e controla as áreas de risco e alerta os moradores da região quando as chuvas aumentam e existe a possibilidade de desabamento ou enchente. Os funcionários da Prefeitura conseguem se comunicar instantaneamente através de mensagens de texto (SMS) com todos os moradores pré-cadastrados.
Maria havia recebido recentemente a visita de um agente comunitário que anotou seu endereço, quantas pessoas moravam na casa, o número do seu celular e deixou um folheto, tudo muito simples e rápido. Ela poderia ter se cadastrado pela Internet, ou pelo seu próprio celular, enviando a palavra “Enchente” para o numero escrito no folheto.
E não importava se o celular da Maria era Vivo, Oi, TIM, Claro, CTBC ou Sercomtel, se era pré-pago ou de conta ou se tinha crédito. O fato era que se a coisa apertasse lá em cima, o celular ia tocar e Maria saberia exatamente o que fazer aqui em baixo, para salvar sua família.
O Brasil possui hoje mais de 200 milhões de celulares, com aderência em todas as classes sociais, é o quinto maior mercado de telefonia do mundo, mas infelizmente esta estória com final feliz não aconteceu nas últimas tragédias das águas de verão no Rio de Janeiro, em São Paulo ou Minas Gerais.
O envio de alertas por SMS foi parte de uma série de iniciativas de sucesso implantadas pelo setor público na Austrália que diminuíram drasticamente o número de mortos em acidentes naturais, especialmente enchentes, no mesmo mês que a tragédias das águas atingiam os três estados mais ricos do união, levando centenas de vidas.
Incluir torpedos SMS na política de prevenção de acidentes naturais é uma iniciativa de baixo custo, alta capilaridade e excelente retorno que precisa ser adotada imediatamente pelos governantes, nas esferas municipais, estaduais ou federais.
Basta imaginar que um lote de 10.000 SMS, que podem alertar e salvar até 10.000 famílias em áreas de risco, custaria menos de R$ 2.000,00 aos cofres de um município.
O custo do envio de alertas via SMS para moradores cadastrados em áreas de riscos deve entrar obrigatoriamente na verba de publicidade dos governos e municípios. O sistema brasileiro de telefonia móvel esta apto a atender esta demanda. Exija estes serviços em seu município. [Webinsider]
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Marcelo Godoy
<strong>Marcelo Godoy</strong> (marcelogodoy@newtv.com.br) é diretor da <strong><a href="http://www.newtv.com.br" rel="externo">NewTV</a></strong> e um dos organizadores do <strong><a href="http://www.mobilefest.com.br" rel="externo">Mobilefest</a></strong>.
3 respostas
Concordo que o investimento em saneamento básico é essencial. Além de sólidas políticas públicas de habitação. No entanto, não podemos esquecer que essas medidas são de longo prazo. E, mesmo que iniciadas agora, não apresentariam retorno imediato. Enquanto uma medida desse porte (SMS) seria extremamente eficaz para salvar vidas, enquanto o investimento em ações concretas é efetivado.
Também vale lembrar que, no caso do estado do Rio de Janeiro, casas de alto padrão que ficavam em encostas – e, portanto, não tinham problemas de saneamento – também foram atingidas pelas enxurradas. O que mostra que o SMS seria uma alternativa de alerta para todas as classes sociais, com baixíssimo custo.
Realmente, Milena. Por que deixar de salvar vidas com os vinte centavos de um SMS, se podemos comprar um milésimo de um cano com esse dinheiro?
Deveras, investir em saneamento básico e fiscalização de áreas irregulares é necessário; no entanto, uma alternativa não exclui, de forma alguma, a outra.
O que deve estar obrigatoriamente no orçamento dos municípios é investir em saneamento básico e fiscalização de áreas irregulares e não em SMS. É no mínimo um absurdo pensar em se investir em tecnologia enquanto 13 milhões de brasileiros não tem banheiro em casa, não acha????