“Prezado senhor. Desde pequeno, gosto de propaganda. Tenho muito interesse em ingressar nessa carreira. O senhor poderia me indicar as melhores escolas de comunicação?”
Todo profissional já enfrentou esse tipo de pergunta. Cabeluda. E a primeira reação é relativizar a importância de um curso superior especializado. Gostamos de ser não convencionais e o ditado “quem sabe faz; quem não sabe ensina” pesa.
A propaganda deve ser uma das especializações mais datadas. Assim, de pouco adianta conhecer a história da propaganda e menos ainda as pseudoteorias dos best-sellers de marketing. Suas hipóteses e técnicas são quase sempre chumbadas em circunstâncias peculiares e únicas, portanto, incrivelmente perecíveis. A menos que o aluno se interesse por uma antropologia da propaganda, na real, é uma prática informal.
As influências da propaganda flutuam atormentadamente na correnteza dos movimentos sociais, da cultura, da língua, da tecnologia, da economia, dos hábitos, dos valores individuais. Qualquer tentativa de sistematização teórica nasce vencida. A técnica publicitária não se aprende, experimenta-se.
Portanto qual seria o currículo útil para um aspirante a publicitário? O que se deve ensinar?
Se a propaganda é tão permeável a todas as atividades humanas, se ela carece de ética própria, fazer boa propaganda é fator de alguns indispensáveis gostos – curiosidade, observação, risco – e desejáveis habilidades – expressão, análise, autocrítica.
Assim, um bom currículo deveria atender ao desenvolvimento desses gostos e habilidades.
Por exemplo, para atiçar a curiosidade: cultura geral, clássica e étnica; para a observação: excursões para museus, festivais, favelas, cadeias, ruas; para o risco: paraquedismo, roleta-russa, circo. Para trabalhar a expressão: literatura, música, dança e oratória; para a análise: filosofia e xadrez; para a autocrítica: psicanálise.
Metade do currículo deveria ser dedicado a teorias de outras cadeiras (história, literatura, geografia, filosofia, antropologia, estatística) e a outra metade à prática em oficinas, ateliês, estágios, serviços comunitários.
Nas horas extras, no extracurricular, se quiser e tiver tempo e saco, Kotler, Porter e que tais. [Webinsider]
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4 respostas
Gostaria de sugerir um pouquinho do velho Sigmond, uma pitada de Jean Paul e algumas ( inúmeras ) passagens aéreas. Sempre há os que acreditam que tudo é válido como bagagem cultural etc etc etc….. se assim fosse passar umas semanas no Xingu e estudar a comunicação tribal seria o climax da pesquisa laboratorial para futuros publicitários. As Universidades estão cheias de nécios, as ruas idem e basta ver o atual nível da televisão brasileira para perceber que a tendência é piorar….
Pura Utopia do autor que parte do presuposto que todos jovens são proativos e maduros o suficiente para o aprendizado autoditata. Não, não sou professor, acabo de me formar em propaganda e marketing.
Meu caro, ao enumerar os recursos disponíveis para formação de um repertório pensa resumir a experiência acadêmica?
De quais professores ou universidades se refere ao afirmar que “quem sabe faz, quem não sabe ensina”?
Pois, vejo não somente onde estudo mais também como diversas faculdades com professores que atuam ou atuaram no mercado publicitário e suas experiências são empíricas, também.
A gradução se faz necessária para a diretriz deste jovem que pretende desenvolver suas habilidades e tornar-se um profissional.
Concordo que o aprendizado vai além e o aluno, este deve sempre buscar mais, vivenciar para apropriar-se deste conhecimento.
Ah meu caro autor, cuidado ao desmotivar tantos que buscam através da carreira de publicitário realizar-se.
Excelente questão!
Digamos que a comunicação num todo exige além de cursos, a experiência e percepção humana.
Kotler é MKT, e mesmo que tentemos inovar, o “velho” estará sempre lá… em alguma parte do plano.
É uma boa provocação.
Por um lado, há muita coisa questionável nos atuais cursos de Publicidade e Marketing no País. Ainda estamos baseados na premissa de que o aluno não sabe o quais são os conteúdos importantes para sua própria carreira, e por isso não deve ter o direito de escolher quais disciplinas quer aprender.
Agora, por outro lado, é raro ver uma agência anunciar uma vaga de emprego e não exigir que os candidatos tenham curso superior em Publicidade.
Quem tem razão nessa história?