Após quase um mês do covarde massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira em Realengo, muitas perguntas continuam sem resposta. Além de fatores sociais e psicológicos, é fato que a internet teve seu papel na maquinação do crime, na construção de um pensamento religioso pseudo-apocalíptico e na gravação de vídeos e textos para justificativa (ou fama) post mortem do assassino.
Mais triste é notar a semelhança com outros eventos, uma história terrível que estamos revisitando: Blacksburg, EUA, 2007; Columbine High School, EUA, 1999; Dunblane, Escócia, 1996 e tantos outros.
Uma nova geração de assassinos está se apropriando do meio digital como suporte para seus atos, numa espécie de copy-and-paste do mal. Estariam eles fazendo uso do lado negro do virtual, uma entidade imaterial, indefinida, sem governo?
Infelizmente não. A internet do bem e do mal somos todos nós, cada vez mais autores, consumidores e distribuidores de conteúdo. Sem limites, sem escalas, sem censura. O universo digital de hoje dispensa intermediários.
O outro lado da web social é justamente seu oposto e envolve isolamento, solidão, madrugadas adentro em websites, vídeos e fóruns de conteúdo pouco confiável. Nesse contexto, podemos destacar dois aspectos do virtual que potencializam a personalidade psicopática e facilitam o caminho do indivíduo que busca cometer um crime ou assassinato:
1. Buscar, encontrar, aprender
Ferramentas de busca são robôs incapazes de ler um texto, avaliar um vídeo ou acompanhar o desenrolar de um tópico num fórum. Da mesma forma que se tem acesso a livros sagrados, também é possível ler textos racistas de um líder fanático. Aprendemos no YouTube a fazer pão e a atirar com armas de fogo. Repositórios de conteúdos sem classificação ou restrições de acesso fazem parte da cibercultura;
2. Produzir, publicar e distribuir
Você já tentou publicar um texto numa revista de grande circulação? E um livro? Nada fácil. Nos veículos tradicionais qualquer texto, vídeo ou foto precisa passar pela avaliação de um editor, alguém que conhece o assunto. Uma das principais características da web 2.0 é sua capacidade de entregar ferramentas gratuitas de publicação e distribuição de conteúdo para qualquer um a qualquer tempo. Na nuvem digital, um assassino pode publicar um vídeo com seu ato criminoso e uma freira de sua oração matinal.
Não devemos censurar as atividades sociais do ciberespaço, mas sim usar de sua tecnologia para construir ferramentas mais inteligentes e pró-ativas, capazes de selecionar, classificar e notificar as autoridades antes que um crime venha a acontecer.
Infelizmente o ciberespaço esconde mais do que revela, assim como a mente e o coração dos homens. [Webinsider]
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Ricardo Murer
Ricardo Murer é graduado em Ciências da Computação (USP) e mestre em Comunicação (USP). Especialista em estratégia digital e novas tecnologias. Mantém o Twitter @rdmurer.
2 respostas
Ricardo, sua matéria foi muito bem escrita. Parabéns. Uma vez ouvi que o ignorante do amanhã é aquele que não conseguirá filtrar a avalanche de informações cibernéticas, o alfabetizado do amanhã é aquele que conseguirá filtrar e, não muito diferente do que acontece hoje, os líderes serão aqueles que administrarão o conteúdo e sua forma de divulgação. Onde estão os líderes cibernéticos que não estõ atuando agora no tipo de conteúdo que chega à maioria dos embrionários ignorantes cibernéticos atuais ???
Matéria muito interessante e realista, faz a gente parar e pensar a respeito do tema em questão.