A projeção digital tem como meta eliminar o tradicional projetor de 35 mm até meados de 2012. O texto mostra como isto será feito.
Eu tinha um amigo de Nova York chamado Stu Kobak, que era scholar de cinema e principalmente um grande conhecedor de home theater, e foi mencionado aqui antes. Pouco tempo antes de falecer, Stu me escreve, dizendo que havia visto a projeção digital e que não tinha gostado. Prefiro a película, me disse ele na ocasião.
E quando eu fui assistir a primeira projeção em um cinema daqui, comecei a me indagar por que. É provável que, naquela época, por volta de 2002 mais ou menos, a projeção digital não tenha tido o necessário desenvolvimento técnico que tem hoje. Além disso, um dos componentes necessários à transformação do filme convencional em informação digital, o telecine, ainda não havia alcançado a qualidade dos níveis atuais, com até 8 mil linhas de resolução.
E é compreensível, que em um momento da história recente em que a alta definição comercial ainda engatinhava, se observar que projetores digitais com apenas 1.3 K (um mil e trezentas linhas) de resolução não teriam paralelo na qualidade da película 35 mm, quando projetadas em telas de cinema. Parece-me hoje que este deve ter sido o sistema de projeção que o meu amigo Stu viu no cinema, sistema este que ainda equipa muitas salas pelo mundo todo ainda hoje.
De lá para cá, o assunto continua controverso, até mesmo por cineastas. Muitos deles defendem a liberdade de usar cadências mais altas do que a cadência padrão do cinema (24 quadros por segundo), que é notória comprometedora da captura de câmera, pelos chamados artefatos de movimento. Enquanto isso, outros dizem, com certa razão, de que, mesmo com a câmera digital, usar cadências maiores destrói o aspecto visual tradicional das películas 35 mm do cinema.
No passado, os criadores do Todd-AO determinaram que 30 quadros por segundo é a velocidade aceitável para evitar o “judder” na imagem. Mas, em se tratando de película, principalmente a de 70 mm, o processo de filmagem assim feito é muito caro e foi por isso restrito a poucos filmes na época.
Atualmente, este custo se tornou irrelevante, com o uso da câmera digital. Na sua próxima produção, Peter Jackson estará exibindo o seu filme “The Hobbit”, filmado (ou gravado) em mídia digital Redcode a 48 quadros por segundo. E ele mesmo comenta a sua decisão de fazê-lo, alegando maior clareza na imagem do que antes, particularmente para imagens em 3D.
Em tempos recentes criou-se o termo “Digital Cinema” (ou D-Cinema), para separar a mídia de cinema da mídia doméstica. Em função dele, formou-se um conglomerado de empresas constituído principalmente dos grandes estúdios norte-americanos, como Disney, Fox, Metro-Goldwyn-Mayer, Paramount, Sony Pictures, Universal Studios e Warner Brothers. Esta “joint-venture” cinematográfica levou o nome de “Digital Cinema Initiatives” (ou DCI).
As especificações adotadas como padrão de projeção estão estampadas em site próprio, para os potenciais interessados. A ideia das tais “iniciativas” é substituir totalmente o projetor 35 mm por projetores digitais nas salas de exibição, até 2012!
As propostas da DCI
A DCI propõe um padrão de produção e distribuição, todos dois baseados em algoritmos e codecs digitais de alta performance e principalmente segurança contra a pirataria. Isto inclui um formato de vídeo cujos projetores trabalharão, preferencialmente, com imagens de pelo menos 2K (2 mil linhas) de resolução, significando 2048 x 1080 pixels, e se possível 4K (4 mil linhas) ou 4096 x 2160 pixels na tela, já que é esta a equivalência em pixels do fotograma 35 mm. Na parte de áudio usa-se PCM ou WAV (formato Microsoft análogo).
A compactação (compressão) da imagem é feita com o processo JPEG 2000. Embora a DCI admita o uso de MPEG2 e MPEG4 (muito usado no Brasil pela Rain Networks), ele aconselha o JPEG2000, em função da qualidade final.
O transporte para uso no projetor é feito com o empacotamento do conteúdo pelo método Material Exchange Format ou MXF.
Para chegar ao estágio de reprodução nas salas exibidoras, o conteúdo (que já não pode mais ser chamado de “filme”) passa por várias etapas, descritas sucintamente a seguir:
1 – Criação da master: chamada de DSM (“Digital Source Master”), ela é fruto da conversão da captura de fonte (câmera digital ou película) para uma matriz, da qual podem ser convertidas matrizes de outros formatos, incluindo filme e home video.
Antes da matriz ser criada, passa-se o conteúdo capturado para um meio intermediário, chamado de “Digital Intermediate” (DI), que armazena todos os fotogramas na forma de arquivos, aos quais se aplicam alguns métodos de pós-produção, incluindo a correção de cor da fonte, nitidez, grãos, etc.
A DSM inclui também áudio em alta resolução PCM, em 48 ou 96 kHz, a 24 bits, num total de 16 canais, e todas as informações sobre legendas e outros recursos de exibição.
2 – Criação da master para distribuição nos cinemas: chamada de DCDM (“Digital Cinema Distribution Master”), ela compreende o produto final de conversão para sistemas específicos de projeção. Isto torna a DSM compatível com todos os cinemas digitais em existência. O conteúdo original (DSM) é ainda convertido sem compactação.
É neste estágio que é exercido um estrito controle de qualidade do material oriundo da DSM, e quaisquer correções poderão então ser aplicadas.
São incluídos recursos e informações diversas, como, por exemplo, escolha de legendas, através de subcódigos, aqueles mesmos que foram introduzidos na criação do Compact Disc e continuaram em uso no DVD e Blu-Ray.
3 – Criação do pacote cinematográfico: chamado de DCP (“Digital Cinema Package”), é o produto pronto para ser exibido nos cinemas. O DCP é a cópia compactada da master de distribuição (DCDM). Em princípio, ela não pode ser diferente da mesma, mesmo após a compressão de sinal.
No empacotamento, um dos pré-requisitos é a criptografia do conteúdo. O método usado é o AES 128: “Advanced Encryption Standard”, a 128 bits.
A compactação tem o objetivo de economizar memória no disco rígido entregue ao exibidor. Ao nível do projetor, o conteúdo é desempacotado, descomprimido, decriptado e decodificado, e está pronto para ser projetado.
A cadeia final, da criação à reprodução, pela proposta da DCI, fica então assim:
Filmagem → DI → DSM → DCDM → DCP → Projeção
Note-se que as duas primeiras etapas (filmagem em película ou gravação com câmera digital e o intermediário digital) já existiam bem antes da proposta DCI atual.
A distribuição não precisa ser feita necessariamente por disco rígido. Na verdade, a intenção dos estúdios é fazê-la pela Internet ou rede de fibra ótica, ou ainda por satélite.
Evolução
No estágio atual, e contemplando-se o mercado exibidor mundial, estima-se que a base de projetores instalados tem resolução na ordem de 2K. Estes são projetores fabricados por empresas como Barco, Christie, NEC, Kinoton, Strong e Cinemeccanica.
A Sony era, até algum tempo atrás, a principal fornecedora de projetores de 4K de resolução, com o modelo CineAlta©. A partir deste ano, a empresa certamente terá uma concorrência bastante grande, com a adesão de nomes como Barco, Christie e outros.
Embora a Sony use tecnologia proprietária, com o uso de SXRD, uma variante de cristal líquido, outros fabricantes deverão seguir a trilha deixada com o uso de DLP triplo, já provado em sistemas de projeção anteriores.
Ao migrar para projetores de 4K de resolução, o cinema digital chega ao nível de qualidade do fotograma de 35 mm. Para bitolas maiores, como o 70 mm ou o IMAX-70, haverá necessidade de se aumentar a resolução para 6K ou preferencialmente 8K, caso haja interesse em se preservar integralmente a resolução do fotograma original.
A proposta para troca de projetores analógicos de 35 mm para equivalente digitais começou a tomar corpo aproximadamente em 2008, com previsão de encerramento em 2012, nos cinemas do mundo todo.
Mas, a tecnologia propriamente dita começou mesmo em final dos anos 80 e início de 90 do século passado. A primeira demonstração de cinema digital é relatada como tendo ocorrido em 1992, com o filme “Bugsy”. O evento foi possível graças à cooperação entre a Pacific Bell e a Sony Pictures, mandando o sinal de vídeo de Culver City até o Centro de Convenções em Anaheim, Califórnia. Mas, foi somente em 1999 que as primeiras demonstrações públicas começaram a aparecer, ainda nos Estados Unidos. “Star Wars, episódio 1” foi um dos primeiros filmes exibidos digitalmente.
Considerações gerais
A projeção digital é a continuação do processo de automação das salas exibidoras, e do jeito que esta coisa está indo o mercado de trabalho do operador de cinema (alguns preferem o nome projecionista) ficará quase inexistente, o que, convenhamos, é uma tremenda injustiça com esta classe que tantos anos de entretenimento e prazer nos deu nos cinemas.
Uma coisa que eu ainda não entendi é o virtual alijamento dos codecs de alta resolução, como o Dolby TrueHD e o DTS HD MA, capazes de alcançar 7.1 canais (formato que a maioria das salas não têm) e sem perda nenhuma na qualidade, com relação ao PCM linear.
Existe também uma claríssima contradição entre o que se afirma sobre qualidade de projeção, visto que somente a 4K é que se consegue chegar próximo do filme 35 mm. Mesmo que se diga que as cópias em película são de má qualidade (e muitas são mesmo), não há desculpa de se trocar um formato pelo outro, por conta disso. Ou então, não se explica, neste caso, porque os estúdios não se esmeram mais em fazer cópias melhores, se isto é tecnicamente desejável?
Em outros casos, a substituição da película por projeção digital não chega nem próxima da qualidade desejada, como é o caso do filme em 70 mm (Super Panavision) ou, pior ainda, do IMAX-70, que necessitaria de um projetor com resolução bem maior do que 8K. A Arriflex, por exemplo, estima o equivalente em pixels para negativo 65 mm como sendo na faixa de 8746 x 3855 pixels. Em cujo caso, é infinitamente mais barato projetar direto em 70 mm do que por processo digital.
Não há motivo, e a própria DCI admite isso, que projetores de película não possam conviver pacificamente nas cabines com os novos projetores digitais a serem implantados.
Por outro lado, Olegário de Faria, representante da Strong no Brasil, nos informa que somente três empresas ainda fabricam projetores de 35 mm: a Cinemeccanica (modelo Victoria V), a Kinoton e a própria Strong, com o Simplex Millenium.
A Strong já parou a fabricação completa de projetores Century, do modelo Simplex Apogee e a linha Ballantyne. No prazo de mais cinco anos, disse Olegário, todos os outros acima citados estarão fora de linha também.
Isto deixa o mercado em um beco sem saída, porque, a longo prazo, o custo da manutenção tende a ser cada vez mais caro e talvez escasso.
Por enquanto, eu me pergunto se tudo isso vai de fato valer a pena. Existem evidências de que o filme em película ainda é o melhor meio de preservação de obras do passado e das atuais. Então, é improvável que ele vá desaparecer a curto ou a longo prazo.
O cinema existe como linguagem singular desde os primórdios do século XX. Querer destruir o legado que ele nos deixou, eu creio que ninguém irá fazer, e na verdade os estúdios norte-americanos têm investido fanaticamente em restauração, conservação e preservação de suas obras. E o produto deste trabalho é… preservação em película!
O que sobra no final é a ausência da película no mercado exibidor! E os motivos reais para o banimento de películas das salas exibidoras parecem estar mais ligados ao pavor da pirataria do que propriamente pelas razões financeiras ou de qualidade que nos possam apresentar.
Que o leitor não se engane a meu respeito, porque eu sou francamente a favor de novas tecnologias, e até endossaria sem hesitação a passagem da exibição de um formato para o outro, se não fosse o fato que eu não preciso mais “ir ao cinema” para ver conteúdo digital de boa qualidade.
O Blu-Ray, com suas 1080 linhas de resolução, tem potencial para projeções em telas domésticas, tão generosas ou praticamente equivalentes aos propostos projetores de 2K em implantação no cinema.
Da mesma forma, eu posso escolher a legenda ou áudio que quiser, e ainda tenho a vantagem, como cinéfilo, de guardar o filme de volta na minha coleção e vê-lo de novo sem ter que pagar outro ingresso.
“Ir ao cinema” ainda é uma atividade sacralizante, mesmo que seja nestas minúsculas e inexpressivas salas multiplex dos shoppings. Se retirarem a película por completo, irão eliminar o principal motivo pelo qual eu sou exigido de sair de casa, para “ir ao cinema”.
Mas, se é assim que os exibidores querem, que seja. Provavelmente eu e muitas pessoas da minha geração arrumarão mais desculpas para não sair de casa! Depois não se queixem que o cinema não tem público. [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
18 respostas
Oi, Raoni,
Eu certamente não sou a pessoa indicada para te dar maiores informações sobre isso, porque eu não vivo o dia-a-dia das emissoras, mas vamos lá:
As emissoras de TV tinham o hábito de usar filme em película, 16 ou principalmente 35 mm, para gravar seus shows.
Embora a película 35 mm continue a ser usada, a edição é feita depois de transpor o filme para um intermediário digital.
Atualmente, a maioria dos seriados norte-americanos está se virando para câmera digital, coisa que a Globo já faz há algum tempo.
Uma vez em ambiente digital, o diretor de imagem pode fazer a configuração que achar melhor para tipos específicos de show. Não há uma regra pré-definida, e por isso cada um faz o que achar melhor. Uma das variáveis, neste caso, mais importantes, é a cadência de captura: se com 24 qps, a imagem se aproxima mais para o filme e se com 30 qps ou acima ela tem o aspecto de vídeo. Basta você observar este detalhe, e você pode ter uma idéia de como os shows são capturados com câmera HD.
olá Paulo Roberto, parabéns pelo artigo…
tenho uma grande dúvida, as séries norte-americanas usam película? ou são simplesmente câmeras HD com “ajustes” de cinema? por exemplo… a rede globo e as redes estadunidenses utilizam o mesmo tipo de câmera só que com “configurações” diferentes?
Eu temo que os pequenos exibidores serão de fato afetados por esta mudança, e seria profundamente injusto descontinuar a película, por conta de medo contra a pirataria e sem levar em conta a situação econômica dos cinemas fora das grandes cadeias.
Olá Paulo e colegas comentaristas,
Tema controverso, sem dúvida esse analógico versus digital no cinema. Na minha vivência de projecionista por tantos anos, apeguei-me muito à película, lembrando inclusive do odor da cabine nos tempos do nitrato e acetato. Entretanto, estou consciente que a tecnologia avança a passos largos e o cinema não poderia resistir à mudança. O que questiono, se me permitem é esse prazo exíguo para a substituição do sistema: 2012.
Tenho informação de que um projetor de mídia digital na sala não sai por menos de 500 mil reais! Nos cinemas ditos independentes, como é o caso aqui de minha cidade, quem bancará esse custo? A bilheteria do interior é fraca, infelismente. Por “n” motivos a população não acorre às salas a não ser nos lançamentos dos blockbusters. Já ouvi de um empresário do ramo que não consegue trocar o áudio analógico pelo digital que custa 5.000 dólares! Entendo que apenas as grandes redes tem e terão condições de providenciar a mudança dentro desse curto espaço de tempo.
Quanto às cópias em 35mm não serem boas, creio que não se pode generalizar. Vi a animação ‘RIO’ aqui no lançamento e a projeção estava excelente.
Os colegas de comentário abordam vários detalhes que gostaria de opinar: conheço a sala IMAX de S.Paulo. Vi vários filmes ali e concordo que em termos de áudio não deixa nada a desejar. A potência é de 12.000 watts e bem destribuida na sala. Quanto a imagem, por ocasião da inauguração era em película 70mm., com aquele “frame” enorme, 6 vêzes o 35mm., projeção na horizontal e era coisa de encher os olhos, cair o queixo. Vi ali a animação “Monsters x aliens” e me encantei como uma criança com o brinquedo novo. Logo em seguida, veio a mudança do equipamento para digital. O projetor anterior, novo e caríssimo está lá num canto como a gemer as dores do rolo compressor que passou por cima dele. E a nova imagem meus amigos, continuou como a anterior analógica? Certamente que não. Nas projeções hoje chamadas 2-D, perde de goleada. E quem perdeu realmente? Nós, cinéfilos que ou vemos um espetáculo perfeito ou como diz o Paulo, não compensa mais sair de casa para ir ao cinema!
Não tenho informação se nos EUA, leia-se também Canadá, sede da IMAX, ainda se encontram projeções em fita. Por aqui, inclusive a segunda sala no sistema que existe em Curitiba-PR, também aderiu à mudança.
Abraço a todos.
Oi, Alberto,
As normas de conservação de DVDs são as mesmas para os CDs:
Manter a mídia em estojo adequado, e se sujarem limpar somente com pano macio seco. Se a mídia for contaminada com gordura, não use álcool. Jogue uma ou duas gotas de detergente neutro, passe as mesmas com os dedos no sentido radial (não pode ser movimento circular!). Depois, enxague com água limpa (pode ser filtrada, se quiser) e seque com toalha macia ou outro pano que não deixe fiapo ou débris. E, finalmente, mantenha todos os seus discos em local seco.
Qualquer mídia digital transmite um bitstream, o qual, se interrompido, provocará queda de sinal no decodificador, pixelizando a imagem ou até congelando a mesma e cortando o áudio, dependendo da duração da queda.
Se a reprodução apresenta travamento, a explicação básica é esta, mas é preciso saber em que nível ela se encontra. O problema pode estar no pick-up ótico do reprodutor quanto em dano ou sujeira discos.
Se o travamento se dá no meio da reprodução de um DVD, verifique se o disco não está com descolamento da segunda camada. Se for o caso, logo após a mudança de camada, a reprodução começa a pixelizar, pode travar e continuar ou travar de vez. Voltando o disco ao início, ela volta a reproduzir novamente sem problemas.
Seria interessante testar seus discos com outro leitor, antes de concluir qualquer coisa.
Sobre o problema de embaçamento, verifique se não há nenhum ajuste errado na TV. Tente usar um disco de referência para verificar os ajustes de nitidez e contraste.
Paulo, com o seu vasto conhecimento sobre as mídias cinematográficas peço-lhe orientação quanto a conservação de filmes em DVD. Alguns dos meus filmes estão apresentando uma espécie de embaçamento. Quando vou assisti-los eles apresentam travamento. Qual seria a razão desse embaçamento e como fazer para evitá-lo/retirá-lo. Obrigado.
Para quem tiver interesse:
http://cigsandredvines.blogspot.com/2011/04/exclusive-pt-anderson-shooting-on-65mm.html
Já o segundo cineasta da nova geração americana mexendo com filmagem em 70 mm.
Eu cheguei a mexer também com negativo 70 mm em microscópio eletrônico, mas o uso foi abandonado por causa do custo, naquela época. A resolução da imagem era a melhor possível.
Em outras palavras, em vez de fazer guerra contra, é preciso tirar o melhor que o analógico tem a oferecer, e sem desmerecer os novos avanços no domínio digital.
Olha, Renato,
Infelizmente, eu só poderia te dar uma resposta honesta e convincente no dia em que eu entrasse em uma sala IMAX.
Mas, repare uma coisa: os formatos de som são muito diferentes!
Em termos de som analógico, eu te digo com confiança que as trilhas magnéticas do 70 mm eram imbatíveis. Comparando, a grosso modo, seria a diferença entre uma gravação com fita rodando a 15 ips (Cinemascope) e 30 ips (70 mm), ou seja, dinâmica muito superior e resposta de freqüência idem.
Não é só o formato de som que importa. A instalação do cinema também. Você tem hoje som digital de boa qualidade, pelo menos no que se refere a trilhas de cinema, mas se a sala é mal instalada, não vai adiantar nada.
Eu tenho entrado em salas multiplex, um dia o som está ótimo, uma semana depois não está. Até onde eu sei, o equipamento exige atenção e alinhamento. Uma vez calibrado, não deveria mudar, mas se muda, porque? Eu não sei responder, porque não faço manutenção de cinema.
Poxa Paulo, você elogia tanto as salas de projeção em 70mm em termos de imagem e som que eu vou ter de te fazer uma pergunta cuja resposta de sua parte poderá ou não ser polêmica:
Seriam as salas 70mm citadas por você um equivalente às salas IMAX hoje em dia?
Fico no aguardo.
Um abraço.
Amigos,
Eu recebi uma notícia ontem que vale a pena ser divulgada em um comentário:
Lawrence da Arábia, o magnífico filme épico de David Lean, havia sido objeto de uma restauração fotográfica pelo preservacionista Robert Harris, anos atrás.
No início, a Columbia (Sony Pictures) iria lançar o filme em Blu-Ray, mas isto não aconteceu e frustrou todos aqueles que gostariam de ver o filme em alta resolução.
Mas agora soubemos porque: o negativo preservado está sendo telecinado com 8K de resolução, o que provavelmente representará uma muito melhor qualidade no disco Blu-Ray, a ser lançado em algum momento do futuro.
Quero lembrar que o processo fotográfico originalmente usado foi 65 mm, para Super Panavision 70.
Prezados,
Para o momento, cabe a mim descrever a tecnologia, de forma a que quem lê saiba exatamente onde estará pisando. E porque não dar a minha opinião também.
Em última análise, o que eu quero evitar é o ôba-ôba dos exibidores, em cima de quem tem alguma clareza sobre o assunto. E para provar isso, destaco um trecho de um press release da UCI, repetido em vários sites:
“Em parceria com a Sony Electronics, a rede UCI está lançando nos cinemas do Brasil a tecnologia de projeção digital 4K. A novidade tecnológica oferece aos espectadores uma melhor definição de imagem, que ultrapassa até mesmo os resultados oferecidos pelo Full HD. E isto representa o dobro da qualidade de imagem transmitida hoje nos cinemas tradicionais. A rede pretende instalar um total de 700 projetores até 2012.”
4K não tem definição maior do que 35 mm, muito menos “representa o dobro da qualidade”.
Bem verdade que a maioria do público provavelmente não vai notar diferença alguma. Minha filha, por exemplo, que foi ver “Rio” em 3D ontem e não soube me dizer se era película ou digital.
Na parte de áudio, a fonte certamente será melhor do que a das películas, mas com as instalações atuais, vai fazer alguma diferença?
Sim, eu já entrei em salas atuais com bom som, mas jamais nos níveis das de 70 mm de antigamente, e muito menos no nível das caixas mundanas que eu tenho na minha humilde instalação em casa.
Quanto à questão de custo, ninguém ainda pode dizer nada a respeito. Claro que a economia maior será no salário dos operadores. No que toca ao equipamento, duvido, e faço pouco. A manutenção é um recurso caro, e não se refere somente à mídia. E aqui serão os exibidores, e não os distribuidores, quem dirão se financeiramente a projeção digital vai de fato valer a pena.
Mas, tudo isso, é claro, a minha opinião.
Continuo achando que analógico e digital podem conviver juntos. Banir a projeção em película do parque exibidor é uma temeridade, e o tempo se encarregará de provar isso no meu lugar!
Paulo. Preparemo-nos para o apocalipse.. Saudades de nossos 34 anos, como os atuais de um de seus comentaristas acima. Nessa época, nos “íamos ao cinema”mais do que “iamos assistir a um filme”.. 2K,4K,6K 10K ou o que venha, jamais trarão consigo a magia, o charme e o glamour daqueles templos de exibição. Vivenciamos a ´película em preto e branco, o fascíneo do Technicolor, o Cinemascope, o VistaVison,o 3D, o 70mm etc, sem carencias para o que mais poderia vir em tecnologia. É o “custo beneficio” em detrimento da qualidade e outros aspectos mais. Que prevaleça o bom senso e a coexistencia pacífica entre os formatos já existentes em beneficio dos verdadeiros cinéfilos. Forte abraço
Bem, então vou te sugerir salas que (graças ao deuses ainda existem) podem servir como referência de bom áudio aqui no Rio:
1 – Salas 2, 8, 13 do New York City Center: até recentemente, estas eram as salas “estado da arte” em termos de áudio de cinema no Rio de Janeiro dentro da minha esperiência pessoal. Nunca, em nenhuma outra sala (o exagero é proposital) um “Senhor dos Anéis da vida” soou tão bem como na sala 13. (tentei fazer a melhor calibração no meu set em casa e não cheguei nem perto. Ainda bem, pois, na minha “cartilha” cinema deveria ser parâmetro e não o contrário).
2 – Salas 5 e 6 do Kinoplex Tijuca Shopping: uma das duas (não lembro bem) tem certificado THX e o faz por merecer.
3 – Sala 5 do Cinemark Carioca Shopping: o conjunto tela x poltronas x áudio x tamanho da sala é “casadinho”, de forma que, além de aconchegante, é muito eficiente. Aliás, embora eu esteja falando exclusivamente de áudio, raramente assisti um filme nesta sala com a imagem com qualidade duvidosa.
4 – Salas 5 e 9 do Kinoplex Norte Shopping: novamente o áudio e o tamanho da sala andam juntos e por isso soam muito bem. Destas duas salas a 5 é certificada THX (também fazendo por merecer).
5 – Sala 3 do Cinépolis lagoon: apesar da tela ser um 4:3 gigante, o som é excelente.
Mas aí você me pergunta: se tem essas sala maravilhosas, por que você reclama? Eu respondo: porque alguém recentemente está tendo a brilhante idéia de jogar a maioria dos filmes dublados para estas salas. Aí amigo, dublado eu não consigo né?
Pra não deixar de dar notícia, 2 dos vários shoppings que serão inaugurados no Rio de Janeiro, 2 (o Metropolitano e o Village Mall) terão salas VIP, contando com poltronas de couro totalmente reclináveis com apoio para os pés, mesinha para apoiar a pipoca e o refrigerante, com entradas custando ate R$50,00. Ou seja, coisa de cinema de ficção. O que se espera dentre os que comentam, é que imagem e som sejam espetaculares. Porque se for só pra colocar o pé pra cima…
Além disso, o contrato definitivo da Sala IMAX no New York City Center já foi assinado e mesmo sem provavelmente cumprir os prazos iniciais (maio ou junho), parece que agora vai de vez.
Uma obsevação sobre calibração de áudio x caixas surrounds: a sala imax de SP possui somente duas caixas surrounds visíveis e beeeemmm grandes, que ficam nas colunas laterais traseiras fazendo toe in com quem senta na primeira fileira próximo à tela. E cara, pasme! O envolvimento é perfeito!!!! Assisti ao filme THOR nesta sala que fica no Bourbon Shopping (Barra Funda) e nas cenas da ponte de Asgard (ponte que liga Asgard a outros mundos) quando Heimdall – o guardião – abre a conexão da ponte parece que o chão vai se abrir em baixo dos seus pés. Ainda não tinha ouvido um grave tão forte, controlado, profundo e perturbador ao mesmo tempo!!! Não sei como o piso de lá ainda está inteiro!!! Imagino que se refilmassem o filme Terremoto, a experiencia em IMAX ia ser demais.
Um abraço
Paulo, realmente seus textos são perfeitos; você não pode parar de escrever. Como já declarei antes, não entendo de cinema, mas gosto da mídia. As salas fazem o Áudio ficar do tamanho da imagem (às vezes, maior). Quanto à chegada do formato digital, é inevitável. Custo/Benefício é o parâmetro orientador das produções. O lirismo acabou. No NY Center (aí no Rio) a sala 12 (ou 14, não estou certo) também tem projetor 4K (Sony). Quando estive lá estavam exibindo produção em 2K, mas na sala 2 tinha saído uma animação em 4K. Vou encaminhbar esse seu artigo para um amigo que trabalha com Cinema Digital, embora a origem dele seja Vídeo. Sei que êle vai gostar. Abs
Paulo
Agradeço sua gentileza informando o link onde encontraria o tema requisitado.
Pesquisei um pouco e encontrei uma matéria completa e abrangente sobre o tema telecine:
http://webinsider.uol.com.br/2010/08/06/restauracao-e-preservacao-no-cinema/
Rogério,
Eu tenho vários textos com comentários e explicações sobre telecinagem e restauração, mas não me lembro de todos os títulos de cabeça. Se você não se importa, poderia dar uma procurada nesta lista: http://webinsider.uol.com.br/author/paulo_roberto_elias/?
Renato,
Esta sua observação Blu-Ray versus salas de cinema é a mesma de vários amigos meus. E tem explicação no fato de que o BD-V tem 1080 linhas que, com uma TV competente, você consegue a melhor imagem possível, tipicamente, em até umas 60 e poucas polegadas.
Isto, sem falar de som: nas salas multiplex que eu vou, aquelas caixas de corneta são desproporcionais ao tamanho da sala e soam desequilibradas, não sei se por falta de alinhamento ou se elas são ruins mesmo. Agora, em casa o controle de calibração é mais fácil, as caixas quem escolhe é você e se forem ruins você troca. As trilhas são em digital direto, as melhores chegam a ser exemplares.
A compactação não é ridícula. Ela tem por objetivo diminuir o custo e dificultar a pirataria. Quem roubar conteúdo vai ter que ter em mãos um decodificador profissional, cujo custo é muito alto.
Não se engane, amigo, esta gente sabe muito bem o que está fazendo!
Olá Paulo, boa tarde.
Sinto que apesar das explicações técnicas, é lógico que a nostalgia está batendo forte no seu peito. Eu, com 34 anos, talvez não tenha vivido muito para adquirir tamanha ligação com o 35mm (muito menos com o 70mm). Na verdade, no meu tempo de consumidor de cinema, nunca vi uma exibição numa sala de cinema que sequer se aproximasse da qualidade de imagem de um bom Bluray (com excessão do péssimo filme: Invasão do Mundo – Batalha de Los Angeles, que foi a bola da vez na primeira exibição em 4k no Brasil, na minúscula sala 2 do New York City Center na Barra da Tijuca – RJ) .
Pra mim toda mídia que requer contato, obviamente (e já disse isso num outro comentário) sofre com desgaste, até mesmo precoce de sua banda de imagens, bem como sua banda de áudio (veja po exemplo as vnhetas que passam nos cinema. A qualidade da projeção dessas vinhetas é uma quando o cinema inaugura. Passado um mês, a imagem e o som dessas vinhetas é sofrível).
Deixa eu te contar uma recente história: como gosto de ficção (até mesmo, às vezes, ficção-teen) fui assistir ao filme “Eu sou o número 4” na sala 3 do Kinoplex Nova América. A experiência foi, no mínimo desastrosa, já que a imagem estava impossivelmente escura e turva (principalmente no início do filme) e o som era em Dolby Stereo. Saí da sala, pedi meu dienhiro de volta e fui assistir no Cinépolis Lagoon (Lagoa Rodrigo de Freitas). E lá, na sala 3 (também) a imagem também estava ruim (numa tela 4:3 gigante), mas o som pelo menos estava no formato digital. Embora a frase “toda unanimidade é burra” esteja correta em sua escência, seria muito bom que as salas de cinema tivessem um padrão único, pois veja, conversando com os “cones” (funcionários do Kinoplex) antes de sair, eles disseram que as salas 1, 2, e 3 são analógicas e as salas 4,5 e 6 são digitais. Mas na propaganda DIGITAL deles não se faz esta distinção.
Quanto à compactação do “filme” para se distribuir ao cinema por meio de HDS é ridiculo, pois hoje, nos sistemas domesticos já temos hds baratos que possuem 1 ou 2 Teras de espaço. Será que um filme sem nenhuma compactação chega a isso? Pelo amor de Deus!!!!! Nem em IMAX talvez cheguem a isso tudo.
Olá Paulo
Poxa as vezes leio reportagens (como a sua) e fico me indagando, aonde vamos parar ?
Disso tudo que escreveu em sua matéria, por sinal bem proprietária, posso destacar o operador de cinema, que diante dessa nova realidade, pode começar a procurar outro emprego, ou então fazer um curso de informática, pois já imagino como serão as salas de controle e exibição dos agora entitulados DCP (a palavra película ou filme foi banida). Imagine Paulo a seguinte situação um técnico de informática sentado a frente de um servidor com entrada para diversas gavetas de HD, controlando a exibição através de vários monitores de computador (um para cada sala), num espaço pouco maior que 3.00 por 3.00, dá para imaginar isso ? Eu quero aqui refrescar a memória das pessoas, lembrando um fato recente que ocorreu nos EUA, quando a Kodak anunciou o fechamento de seu último laboratório de revelação de filmes fotográficos. Foi uma comoção imensa dos saudosistas, e ate de profissionais em máquinas reflex analógicas, que ainda relutavam em migrar para as digitais. Pois bem estamos vendo esse “mesmo filme”, mas agora com os projetores análogos (com a morte já anunciada para daqui no máximo 5 anos (conforme seu texto).
Caro Paulo, pelo menos ainda teremos os poucos filmes ainda em fase de produção e filmagem, para podermos relembrar e comparar com o novo sitema de “digital cinema”, que por sinal aguardarei ansiosamente essa nova experiência, feita pelo diretor Peter Jackson em seu novo filme “The Hobbit”.
Alias tenho uma curiosidade, gostaria de saber Paulo se anteriormente teria feito alguma matéria a respeito de TELECINAGEM. O que é, e como é feito o processo de para produção e conversão em video doméstico.
Um abraço
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