Antigamente para se tornar um mito era preciso ter realizado grandes feitos, ser um herói provado até a morte. Era preciso ainda que seus feitos fossem contados de geração em geração, até se tornar uma lenda, para somente então poder entrar no imaginário popular como uma personalidade presente, uma referência a ser seguida, um “deus”.
Hoje em dia, quando as escrituras clássicas estão sendo substituídas por conteúdos bem menos provados pelo tempo, basta protagonizar um bom filme para se tornar um mito.
Há alguns meses atrás, um amigo meu me ligou à noite, com uma voz muito empolgada e disse:
– Hei, o que nós podemos fazer para abrir um negócio na internet e ficarmos ricos?!
– Você acabou de ver A Rede Social?, respondi.
– Sim, como você sabe?, disse ele surpreso.
Por causa de situações similares a estas, que se repetiram várias vezes enquanto o filme era novidade, eu decidi deliberadamente não ver o filme enquanto a onda não passasse. Ontem finalmente vi o filme e preciso concordar: realmente é impossível passar por ele sem pensar sobre sua própria história pessoal e profissional, principalmente se você é um empreendedor.
É quase impossível não se inspirar com o conto, em que um menino nerd se torna um bilionário admirado em todo o mundo. Como em qualquer mito, a identificação é imediata: eu sou um nerd hoje e se seguir os passos do Mark posso ser um bilionário amanhã.
Como não temos visto novos Marks nascendo diariamente, decidi pontuar alguns motivos pelos quais você não é o Mark do filme The Social Network. Queria só frisar isso: estou partindo somente dos personagens, contexto e fatos do filme, e mesmo assim, de memória, não dos dados reais sobre a história do Mark e do Facebook.
1. Você não gabaritou o vestibular de Harvard
Você pode até ser muito inteligente, pode até ter ido muito bem em um vestibular concorrido na USP ou numa federal, mas daí a gabaritar o vestibular de Harvard tem uma enorme distância. Ainda que você, aqui no Brasil, seja mais inteligente que o Mark em Harvard, você está no Brasil, ele estava lá em Harvard, e a maneira como a academia e o mercado se relacionam lá e aqui são completamente diferentes.
2. Você não está nos EUA em fevereiro de 2004
Se o próprio Mark tivesse feito o Facebook alguns anos antes ou alguns anos depois, teria tido um resultado muito diferente do que teve, assim como tiveram seus antecessores e seus sucessores. Você pode falhar por ter começado tarde demais, mas também pode falhar por ter começado cedo demais.
Além disso, é preciso lembrar o que era EUA em 2004: o início da nova onda de startups, a web 2.0 fervilhando, a internet recobrando sua reputação perdida com a bolha, muito dinheiro sendo investido em novas ideias novamente, em 2005 surgiria o TechCrunch. Mesmo que estivesse nas mesmas condições que Mark, hoje teria que lidar com um mundo pós-crise imobiliária.
3. Você não é um excelente programador
Se você for, ignore este ponto. Mas se você não é um ótimo programador, o máximo que você pode ser é um Eduardo Saverin, não um Mark Zuckerberg.
Lembre-se, a ideia do Facebook até os imbecís dos irmãos Winklevoss (lembre-se, me refiro ao filme) poderiam ter. Mas fazer um Facebook, somente Mark em suas noites insones diante do computador poderia. Se você não é um programador, pode até sonhar em se tornar um Steve Jobs ou um Bill Gates, mas nunca um Mark Zuckerberg.
4. Você não sabe a Ilíada de cor em grego antigo
Ainda que você seja um verdadeiro nerd e um gênio da computação, lembre-se que Mark quando entrou na universidade já sabia ler e escrever em francês, hebreu, latin e grego antigo. E sim, decorar a Ilíada faz MUITA diferença na hora de dar sua vida a um projeto – esta sim é uma verdadeira escritura que fala de mitos de verdade nos quais você deveria se inspirar no lugar de um filme de Hollywood. (Ok, aqui eu roubei, eles não contam isso no filme, está na Wikipédia, mas está também no espírito do personagem do filme)
5. Você tem muitos amigos
Se você vai ao cinema com os amigos ver A Rede Social, significa que você tem tempo para ir ao cinema com os amigos, e jamais poderá ser um Mark.
6. Você não é amigo do Sean
Como em qualquer mito, o herói deve encontrar um mentor que o guia em sua trajetória por todos os perigos. Se você não tem um amigo escolado no mundo das startups digitais, terá que errar muito e aprender com seus próprios erros e poderá até acertar, mas não de primeira e tão bonito quanto o Mark.
7. Você está no Brasil
O ecossistema econômico-político brasileiro é muito diferente do americano, isso sem comparar 2004 com hoje. Provavelmente o resultado de sofrer um processo de uma família muito rica e poderosa seria muito diferente aqui do que lá. Aqui, entre os nossos poderosos, não tem essa de “nós somos homens de Harvard, não podemos contratar um mafioso para matar esse cara porque não seria honrado”.
8. Você não tem Investidores
Pelo menos, com certeza, não um investidor anjo como Peter Thiel com 500 mil dólares e a experiência de ter fundado o Paypal.
9. Você não é um canalha
No inicio do filme a namoradinha deixa claro ao Mark: não estou me separando de você porque você é um nerd, mas porque você é um canalha. No final ele flerta com outra garota que corrige a primeira: você não é, mas se esforça muito para ser um canalha. Se este não é o seu caso, e se você não aguentaria a carga emocional de passar para trás e depois ser processado pelo seu melhor e único amigo, não ache que poderá ser um Mark.
10. Você não quer ser um bilionário infeliz
O Mark, pelo menos o Mark Zuckerberg do filme, é um cara triste, sem amigos, com uma vida amorosa frustrante e que se afunda no trabalho, achando que suas conquistas na sua startup vão trazer seu amor de volta. Ele percebe que isso não vai acontecer, mas é tarde demais. Se fosse um filme (mais) romântico e não baseado em fatos reais, ele poderia deixar tudo, largar o Facebook e voltar para o amor de sua vida. Mas não, ele é apenas um bilionário infeliz. Eu não queria estar no lugar dele.
Você pode me contrariar e dizer que tem todos estes pré-requisitos, mas mesmo assim, o Facebook já foi fundado, esta oportunidade já passou, você pode ser você mesmo e ser muito feliz ou muito rico, mas jamais poderá ser Mark Zuckerberg. Eu, por mim, prefiro me inspirar em Aquiles e Ulisses. [Webinsider]
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Gilberto Alves Jr.
Gilberto Jr (gilbertojr@gmail.com) tem experiência no mercado digital como designer de produtos, fundador de duas startups, gerente de projetos em agências digitais e gerente de produto no Scup. Agora procura um novo desafio. Veja mais no Linkedin.
20 respostas
Gostei do artigo. Muito bom!
11. Você escreve artigos desmiolados e cujo conteúdo é de relevância no mínimo dúbia em um blog de tecnologia brasileiro.
Muito bom o texto!
Mas… não há vestibulares nos EUA. O que acontece é o SAT, que é extremamente diferente dos vestibulares brasileiros, portanto Harvard não possui vestibular para que possa ser “gabaritado.”
Estar no Brasil pode ser uma vantagem, pois o atraso que temos em relação aos EUA pode significar que estamos passando pelo momento 2004 dos EUA aqui. Ou seja, mais um ponto para eu me tornar o Zuckerberg 😉
Muito legal o texto, irreverência na medida.
Li e adoro Campbell, boa sugestão da Ilíada (não em grego antigo, é claro).
=)
E gostei da dica do Outliers, o Gladwell é bem legal de ler (valeu @ederaildo!).
Tu sabe como foi aquele evento de capital de risco que rolou em Sampa?!?!? (achei caro praca, mas gostei muito da ideia).
Uma dica para os empreendedores que estão lendo o artigo http://pensandogrande.com.br/tag/capital-de-risco/
Parabéns pela Sociably, legal o case da TIM.
Grande abraço e segue ‘firme na paçoca’ lançando bons textos.
+)
Valeu!
Lucas Selbach
Lendo este texto fiquei com vontade de reler a Ilíada. Estes livros clássicos têm muitos “heróis” inspiradores. Meu preferido é o Aquiles 🙂
A idea do Mark não é novidade, ele só copia e junta o que já tem e foi o primeiro de fazer isso de forma professional, nada mais nada menos, qualquer um poderia ter feito igual, fazendo o primeiro.
Não importa em que pais vive, não importa aonde estudou, não importa se saber programar ou não, a única coisa que Mark fiz de diferente é de juntar coisas já existentes e colocar de forma divertido e centralizado em um só lugar.
A popularidade ele ganhou com um simples truque, fale sobre mim, não importa se falar de mim mal ou bem, mas fale de mim, e isso o Mark conseguir e por isso tem todo esse audiencia e “sucesso” momentario.
Até vai, não podemos saber, eu notei que o facebook é somente uma grande bolha, tem muito ar dentro e pouca coisa que tem valor.
Vamos ver quanto tempo o facebook vai conseguir viver…. 😉
nossa… um link interessante, no entanto com alguns comentarios que beiram revistas novelisticas…
que pena…
@Ederaildo boa referência!
@AlexSandro Cruz, verdade. Quem não pode ser um Mark do filme tb não pode ser um Bill Gates.
@luis, ele só tinha mil dólares. ele fez tudo sozinho no início. e apesar do sucesso explosivo, o servidor nunca caiu (no filme).
@Fabricio, estou analisando um personagem de um filme, não uma pessoa. minha base teórica é de crítica de arte, filosofia e sociologia. para compreender o que estou dizendo sobre “deus” e o “mito” formado a partir do filme, sugiro que procure o autor Joseph Campbell.
@LeoCabral, minha intenção não foi faze uma mapeamento das diferenças regionais, só comparar o personagem do filme com a média (uma abstração) dos empreendedores digitais brasileiros. Obrigado pelo comentário sobre a obsessão, é verdade!
Ridículo o texto, sem consistência e lógica.
Deveria dizer, como a maioria, se gostei ou não do texto. Achei ele apropriado para a mentalidade, tradição e costumes nacionais.
Foram bem colocadas as diferenças regionais, a necessidade de uma bagagem cultural adquirida de meios diversos e aptidão nata. Mais do que isso, deveria completar com uma característica comum entre programadores: obsessões cegas.
Obsessões cegas, quando bem utilizadas podem criar impérios econômicos. Quando mal empregadas, apenas dúzias de discussões regadas à palavras desmedidas sobre qual é a melhor linguagem de programação/framework em listas de discussões.
O artigo poderia ainda fixar-se numa diferença interessante: Mark Zuckerberg não é um rapaz provinciano. Apesar de ter criado uma rede para alunos socializarem online, ele entendeu aspectos básicos de como e para quê as pessoas usam a Web, seja numa universidade, seja do outro lado do mundo.
Se não conseguimos traduzir nossas idéias para o mundo ou arranjar um intéprete ainda estamos muito longe dessa “internacionalização da inovação”.
É fato que pra alguma coisa dar certo muitas vezes não depende somente de nós. Mas a oportunidade também não é única, ela surge em vários momentos.
Mesmo que todos esses pontos não sejam verdadeiros para uma pessoa, ainda assim ela pode tanto sucesso quanto o Mark em um de seus projetos. Há multiplas combinações de opurtunidades que podem fazer com que algo dê certo, mas elas não são somente as que foram citadas no texto.
Me parece que o texto está carregado de raiva quanto ao hype que se tem hoje sobre o Facebook.
Minha opinião.
Curti muito o texto, principalmente os trechos irônicos. muito bom!
Fabricio, o que nosso amigo fez foi apenas uma analogia ao mercado virtual aqui no Brasil e EUA. O termo “heroi” é so uma forma humorada de dizer “vencedor”…homem de sucesso!
Inteligencia não tem absolutamente nenhuma ligação com riquezas ou ser um bilionário. Albert Einstein é um exemplo.
Agora vejamos a situação que:
Você e Mark eram alunos da havard. Tinha o mesmo projeto do Facebook, sem nenhuma virgula faltando. E objetivo estabelecido era: torne esse projeto um sucesso ao ponto de valer bilhões.
Vc chega na mesma empresa que financiou 500$ mil dolares e recebe um não! ….o Mark com/sem seu carisma (não conhecemos pessoalmente) chega la e pega a bagatela. …Eai?
O sucesso profissional está muito mais relacionado a força de vontade e a capacidade de vencer desafios seja eles quais forem. Muitos que aqui comentaram provavelmente trabalham com internet, agora, pare e pense quantas vezes seus projetos receberam investimentos significativos!? vamos dizer, uns 50 mil reais? será que sua “inteligencia”, sua capacidade extraordinária de programar, produzirá algo como o facebook, apple, microsoft?
Bem amigo este seu texto não tem nada com nada cara!
Você esta tratando o dono do face book como um deus. Ele é inteligente? Sem sobra de duvidas, mas isto não quer dizer que pessoas com características diferentes da dele não seja tão bom quanto Zuckerberg.
Você não esta no EUA esta no Brasil??? Que isto cara. Com certeza o Brasil é mais difícil, mas não é impossível!
5. Você tem muitos amigos??????????
Sem comentários.
Vai me desculpar, mas texto completamente sem embasamentos corretos!!
Zuckerberg fala Frances, hebreu, latim e grego antigo…
Cara me explica como isto vai influenciar para o grande negocio! Por acaso você como usuário de facebook pensou:
“Bem antes de usar esta rede preciso saber se o dono fala Frances, hebreu e latim, pois se não falar não vou usar”. NÃO!
Enfim.
Triste.
A idéia do site é ótima.
Mas pra fazer um site que cadastra pessoas, ainda mais no início, com poucas funcionalidades, bastar um fraco programador.
Não dá pra saber se é um “gênio” da programação por ter feito o Facebook.
Ainda mais tendo $ pra contratar pessoas.
Brilhante texto. São precisos muitos ingredientes e aleatoriedades para surgir um Facebook. E saber que o Mark sabia ler e escrever em francês, hebreu, latin e grego antigo me deixou estupefato.
Só um detalhe: o Bill Gates era ótimo programador quando começou.
Ele mesmo corrigia, à noite, o trabalho dos programadores da Microsoft aleatoriamente, escrevendo comentários nada elogiosos ao lado do trecho corrigido.
Mentes parecidas, o Bill também passou um monte de amigos para trás, inclusive o Jobs.
É o tal do Outiliers de Malcolm Gladwell. Estar no lugar certo, nas condições favoráveis e muito trabalho pra realizar.
Muito bom gostei.
Gostei muito do artigo e dos pré-requisitos para se tornar um verdadeiro Mark… Só acho que o tempo não passou, o tempo passa, e o que é sucesso hoje pode não ser amanhã.