Em março a web completou 22 anos – ela foi criada em 13/03/89. Também foi meu aniversário – 44 anos.
Nós todos estamos envelhecendo, querendo ou não – eu, a Web, você, que deve ter bons anos de contato com a Rede, e até mesmo os profissionais que tiveram seu primeiro contato com internet no final dos anos 90, quando saíram da faculdade.
Até estes não são mais tão jovens; têm mais de trinta anos e muitos têm filhos pequenos que já nasceram em contato com a web.
Em suma, o tempo passou – para os pioneiros da internet, para os primeiros jovens profissionais da área e para os que, ainda na faculdade, eram personagens das primeiras matérias sobre a novidade da “geração online”.
A fila andou, mas é justo para quem tem DNA digital – ainda que primitivo – ficar para trás?
Aqui não me refiro à distância entre as novas e “novíssimas” gerações ou a quem não acompanha as mudanças tecnológicas, mas a conteúdo.
Órfão digital
Dias desse, encontrei com um amigo que não via há anos, e havia ingressado no mercado de Comunicação Digital logo após o estouro da “bolha” de 2000. Muito inteligente e com tino para negócios, criou uma startup de aplicativos para mobile que desde o início é um estrondoso sucesso. Mais inserido no meio digital, impossível. Conversa vai, conversa vem, esbarramos no óbvio:
– Eu não entendo, Bruno. A sensação que eu e meus amigos da época da faculdade temos é que absolutamente tudo hoje em matéria de ações em mídias sociais e produção de conteúdo é desenvolvido para quem tem entre 18 e 25 anos. Passou daí, virou órfão digital.
Uma observação importante: a empresa dele sabe que estes órfãos digitais estão carentes de conteúdo.
– Eu tento orientar meus clientes, explico que existe uma multidão de pessoas com mais de 30 anos nas redes sociais ávidas por conteúdo, loucas para consumir. Mas o que aparece, o que gera cases, é a produção para os mais jovens. Até nós mesmos temos que nos controlar de vez em quando. É o caminho mais fácil, mas de uma burrice tremenda.
O que está acontecendo, afinal? Se os órfãos digitais têm mais dinheiro que a geração dos 20 anos, por que este abandono?
Decidem rápido
Fui conversar com outro amigo, expert em comportamento web, e não foi difícil chegar a uma conclusão – até meio lógica, se pararmos para pensar.
– Os pós-adolescentes, em especial aqueles até 25 anos, consomem imediatamente. E isso não tem nada a ver com “não pensar”, pelo contrário, é uma faixa de público bastante crítica, ácida até. Mas eles resolvem rápido, e por isso consomem em um estalar de dedos. Em contrapartida, os mais velhos pensam muito antes de consumir.
O que mais me chamou a atenção durante a conversa foi a real visão de gerações que precisamos ter, e como o difícil é deixar de lado os clichês e preconceitos.
– Quando digo que os mais velhos pensam muito, não estou falando especificamente da geração de 30 anos de agora, mas a toda geração nesta faixa de idade e que está em um estágio em que deseja construir uma vida mais sólida e tem planos mais complexos. É o profissional que está juntando dinheiro para fazer um doutorado no exterior, é a jovem que deseja comprar um apartamento, é o casal que quer ter um filho. Isso independe da década em que estamos, há muitos anos é assim.
Traduzindo: você, que tem 20 e poucos anos hoje e é privilegiado nas ações de comunicação e marketing nas mídias sociais, vai pensar diferente antes de consumir – o bom e velho “pensar duas vezes” – daqui a dez anos. E, caso o mercado não mude, será um órfão digital.
Já parou para pensar – não importa se muito ou pouco – nisso? [Webinsider]
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Para conhecer mais sobre meu trabalho, visite www.bruno-rodrigues.blog.br; para me seguir no Twitter, sou @brunorodrigues; no Facebook estou em www.facebook.com/brunorodrigues.fb.
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Se ainda não conhece, vale a pena checar o padrão brasileiro de redação online que elaborei para o Governo Federal: Padrões Brasil e-Gov: Cartilha de Redação Web.
Bruno Rodrigues
Bruno Rodrigues (bruno-rodrigues@uol.com.br) é autor do livro 'Webwriting' e de 'Cartilha de Redação Web', padrão brasileiro de redação online'.
6 respostas
Evandro, tenho muito medo – por todos nós, por todo o mercado – que as mídias sociais acabem se transformando, literalmente, em ‘mídias superficiais’. Já passamos da primeira infãncia; está na hora das ações começarem a mostrar mais consistência e (quem sabe?) perenidade.
Bruno, faço minhas as suas palavras do 4º comentário.
E nisso, eu tiro o chapéu para os dinossauros da propaganda. Pois conhecem, ou pelo menos se preocupam muito mais em conhecer, muito mais a fundo, o seu público e impactar de forma relevante e duradoura.
O que sinto é bem parecido com o que você definiu…
O que mais vejo hoje são ações superficiais, feitas para serem devoradas e não degustadas. A preocupação é o resultado imediato, e dane-se o futuro…
Por isso é unânime o direcionamento para a saída mais “fácil” e “barata”, a Web.
Mas eu tenho uma teoria sobre isso: essa geração com 30 e poucos, e que trabalha com comunicação desde os primórdios, hoje está cansada de tanto barulho, não têm mais aquele gás de antigamente…
E por isso, muitos cansaram de tentar mudar o mundo. E cada vez mais, não almejam ser a chave da revolução. Só querem paz e uma estabilidade mínima.
E como, normalmente, hoje, ocupam cargos voltados à gestão, e não a cargos “produtivos”, acabam ficando a mercê das novas gerações, cheias de gás, mas voltadas ao que consideram novo e às suas próprias ideologias.
Parabéns pelo artigo e espero que abra a mente de muitas figurinhas por aí… 😉
Fernanda,
Como é bom ler mais um fato que reafirma o que percebo ao redor. Acho que este ‘hype’ pós-teen que assola as campanhas diminuirá ao longo do tempo (meses? anos?), até por uma questão óbvia de necessidade do mercado – que já existe. Será bom de ver, e viver, também… 😉
Você tem toda razão!!! estou fazendo um planejamento de um produto de cabelo para o público feminino de classe C e D, a idade varia entre 27 a 60 anos. São 3 públicos diferentes.
Mas observamos que principalmente as mulheres mais maduras, em todas as entrevistas realizadas, estão conectadas na web a maior parte do seu tempo. Elas querem se inserir na sociedade, e isso inclui os meios digitais.
Também não podemos nos esquecer que a compra pela internet pelo público com a idade entre 45 a 60 anos aumentou nos últimos anos. Para eles, pilares como: comodidade, prazo e segurança são essenciais nas suas decisões de compra.
Portanto, suas considerações acima, positivamente reflexivas para uma comunicação mais efetiva. Dá trabalho, mas é um público que não pode ser esquecido.
Paulo,
O que falta é olhar ao redor, apenas… Mas há uma certa razão do mercado de fornecedores pensar assim: o que o cliente pede é algo que foque 100% no público entre 18 e 25 anos. O resto fica para depois… A questão é que também é função *do fornecedor* orientar o cliente – até porque, em última instância, uma visão mais ampla irá gerar mais trabalho para o próprio fornecedor!
Ótima reflexão, Bruno. Adorei o texto, parabéns!
Precisamos de mais insights como o seu para provar que as ações em mídias sociais devem contemplar mais pessoas, assim como o que acontece nos EUA e na Europa.
Lá as pessoas acima de 25 anos também tem um comportamento muito parecido com o nosso, mas nem por isso deixam de consumir conteúdos específicos e participar de ações que viram cases de sucesso.
Um abraço,
Paulo Fava