A arquivologia é uma ciência que até bem pouco tempo atrás estava numa gaveta, guardada. Ela surgiu como ciência junto à Revolução Francesa, porém há registro de suas aplicações já na época da escrita cuneiforme (algumas Tabletas de Nuzi eram instrumentos arquivísticos – indicavam onde determinado documento estava guardado).
Esta ciência surge agora como mais uma opção para tratar a informação em tempos de explosão informacional. Diria até como uma forte opção. Isso porque a Arquivologia trata de informações orgânicas, ou seja, vai além do documento, trata das informações humanas geradas nas situações de relação entre pessoas e entre pessoas e instituições.
Ou como diziam: é a informação que é prova de alguma ação. Por isso ela é orgânica.
Seus princípios “arquivísticos” são adequados à realidade atual. Um dos princípios é o da organicidade, que vimos acima. Nos ambientes digitais os fluxos informacionais ainda espelham a estrutura, funções e atividades da instituição, em todos os contextos.
E temos à disposição telas de gerenciamento desses fluxos (dashboards), com dados e métricas em relação a sua estrutura e funcionamento. Um retrato real e orgânico daquele momento da instituição.
Proveniência
Um outro princípio é o chamado respeito ao fundo (ou princípio da proveniência) que destaca que uma informação sempre terá um pai (no caso o fundo arquivístico).
Em tempos de cloud computing, é mais do que adequado que uma informação tenha um pai, ou origem. Podemos ainda ver que este princípio da proveniência é aplicado diretamente ao conceito de portal, por exemplo, como plataforma unificadora de relações com os públicos externos e internos das empresas e instituições.
Na cumulatividade (outro princípio arquivístico que afirma que um arquivo é a formação progressiva, natural e orgânica de informações) através de fluxos automatizados dos processos (workflows), seja nos repositórios de conhecimento tácito ou explícito nos ambientes digitais. Mais ainda, destaco que esta formação é potencializada hoje com o uso de ambientes colaborativos nas intranets.
Única e múltipla
Quanto à unicidade, as informações são geradas de forma evolutiva e ao longo dos processos, isto é, na prática, na geração de dossiês e processos administrativos e empresariais. Ou não é um ponto de atenção evitar a duplicidade de informações em ambientes digitais? A informação é única, apesar da multiplicidade de seu uso.
Como deu para ver, a arquivologia é mais atual do que nunca. Pode mudar o seu foco, uma vez documento, agora informação. Mas podemos afirmar que o ponto de atenção hoje é a informação humana digital e a sua perenidade junto à humanidade. Por isso ganha força a ideia da Arquivologia 2.0, incorporando aspectos de ambientes digitais colaborativos em sua matriz.
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Nota da redação: Charlley é autor do livro Arquivologia 2.0, onde traça caminhos possíveis para uma abordagem 2.0 no universo das informações arquivísticas, através da arquitetura de informação, planejamento de portais corporativos e ambientes digitais.
A informação humana digital é o resultado da observação e aplicação dos princípios arquivísticos no universo da informação digital.
[Webinsider]
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Charlley Luz
Charlley Luz é arquivista, professor da pós-graduação em gestão de documentos da FESPSP e consultor em estratégia de informações e ambientes digitais da Feed Consultoria. Autor dos livros Arquivologia 2.0 e Primitivos Digitais.
Uma resposta
É impressionante como as pessoas ainda desconhece a arquivologia num entanto usam e precisam dela,mas acredito em um futuro melhor e artigos como esse nos trazem esperança. ÓTIMO