Desde que os humanos deixaram de ser nômades e começaram a dominar as técnicas de plantio, busca-se registrar conhecimentos e repassar a outras gerações através de imagens – além da tradição oral – os conhecimentos absorvidos em relação à agricultura e sobrevivência. Este fenômeno está registrado nas paredes das cavernas, através da escrita rupestre.
Depois a escrita começou a aprimorar-se com os sumérios, antigos habitantes do golfo pérsico, e que necessitavam de um sistema para registrar suas relações comerciais, seja com outros povos ou entre si. Daí surgem a escrita cuneiforme, cuja tecnologia era a tablita de argila e a cunha, feita de taquara ou de metal para casos de escrita em pedras.
Quase em paralelo aos sumérios, os egípcios também desenvolviam seu sistema próprio de escrita, dividido em dois: uma escrita focada no sagrado (os hieróglifos) específica para templos e faraós e outra mais popular, a demótica, que era utilizada em documentações correntes e relativa a direitos das pessoas comuns.
Mesmo na idade média, no obscurantismo, podemos observar que o conhecimento era restrito aos ambientes monásticos, porém as letras também eram restritas. Muitos aprendiam a decorar orações, mas poucos tinham a missão de escrever. Este escriba medieval trabalhava com outra tecnologia, era o pergaminho, com tintas mais elaboradas e muitas vezes se usava a pena.
A abertura do conhecimento através do iluminismo, que criou universidades e trouxe à tona o conhecimento humano, também gerou uma verdadeira revolução na escrita, a invenção dos tipos móveis (cada letra era uma placa de metal que juntas formavam uma página) possibilitou a cópia em larga escala de livros e jornais. Era a primeira explosão informacional, freada somente pela parcela de analfabetismo que era bastante alta.
Agora estamos na segunda explosão informacional, possibilitada pelo mundo digital onde cada letra é uma sequência de oito bits e a combinação dessas sequências formam palavras e frases, imagens e interação nas páginas dos ambientes digitais. É a tecnologia, assim como o barro e o pergaminho, que temos à nossa disposição. Falamos do mundo 2.0, com novos paradigmas de estruturação de informações, novos usuários que consomem e geram informações e novas relações entre pessoas.
Nesse mundo digital também surge a nova missão do escriba: agora ele é o escriba digital, responsável por garantir a preservação das informações digitais primitivas. Pois as informações geradas hoje, apenas 20 anos após a popularização das tecnologias de informação e comunicação, são as informações primitivas. Para daqui a cem anos, seremos os primitivos digitais.
Essa missão do escriba digital, ou do Arquivista 2.0, é garantir que haja o tratamento e a preservação da informação digital primitiva. Para isso, não precisamos começar a falar em ASCII (bits). Mas temos de saber como se dá a relação das pessoas com as informações digitais.
Para isso, a Arquivologia 2.0 trata a arquitetura de informação, a arquitetura de interface, sabe a utilidade dos portais corporativos, a taxonomia e a folcsonomia. Além do mais, como estes ambientes digitais auxiliam os processos de negócio das empresas, como se dá a relação dos ambientes digitais com as informações orgânicas? São questões que passam ao foco do Arquivista 2.0, responsável pelas informações digitais humanas primitivas.
A arquivologia 2.0 traz em sua matriz a preocupação com a concepção dos ambientes digitais e com as técnicas arquivísticas. Vamos preparar o futuro da informação primitiva, para garantir nossa história para as novas gerações.
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Nota da redação: Charlley é autor do livro Arquivologia 2.0, onde traça caminhos possíveis para uma abordagem 2.0 no universo das informações arquivísticas, através da arquitetura de informação, planejamento de portais corporativos e ambientes digitais.
A informação humana digital é o resultado da observação e aplicação dos princípios arquivísticos no universo da informação digital.
[Webinsider]
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Charlley Luz
Charlley Luz é arquivista, professor da pós-graduação em gestão de documentos da FESPSP e consultor em estratégia de informações e ambientes digitais da Feed Consultoria. Autor dos livros Arquivologia 2.0 e Primitivos Digitais.
2 respostas
Mais uma ótima abordagem Charlley 🙂 Nunca tinha pensado nessa coisa de sermos primitivos digitais, mas é o que somos 😛
Abs!
É de suma importância perceber que desde a antiguidade ja se havia a preocupação em conservar a documentação. Sou Estudante de Arquivologia da UFBA e cada dia que passa estou me identificando e visualizando inúmeras possibilidades de Atuação na área. Arquivologia é a profissão do Futuro.
Aos leigos,
Lembrem-se que toda área do conhecimento alimenta-se de INFORMAÇÃO. Toda organização possui Documentos que precisam ser gerenciado por pessoas capazes de tornar acessível e eficiente a comunicação por meio dos documentos. O Arquivista na Atualidade é um Tradutor de documento, isto é, um trabalho extremamente intelectual.