“(…) agora, o que não pode é ficar olhando para o umbigo, discutindo as coisas pequenas. A nossa profissão é juntar gente com marca, tanto faz se é digital ou não é digital, etc; digital é uma maneira, que é legal, que é ótima, como toda as outras (…)”.
Este foi o depoimento de Celso Loducca em uma entrevista sobre o desempenho do Brasil na categoria Cyber no Festival de Cannes. Infelizmente pouca gente esteve no evento organizado pela revista ProXXIma onde ele fez esta afirmação. Eu estava lá e sem dúvida foi muito inspirador.
Vamos parar de reclamar e trabalhar? Vamos parar de achar que rede social é a última bolacha do pacote? Vamos parar de achar que a internet tem de ser tratada diferente dos outros meios?
Como dizem no Twitter, é muito #mimimi.
A revista Época Negócios recentemente fez um levantamento de todos os investimentos que a internet movimenta no Brasil: publicidade, comércio eletrônico, infraestrutura e conteúdo/serviços.
Foi um dos estudos mais lúcidos que já vi – além de inédito – e mostrou que, somando as quatro categorias, o mercado de internet brasileiro movimenta mais de 50 bilhões de reais. E o número só tende a crescer.
Sim, o Projeto Intermeios afirma que 1.2 bilhão de reais foram investidos em mídia online no Brasil em 2010. Mas isso não leva em conta os números do Google, que, segundo fontes, sozinho movimenta mais que o contabilizado pelo Intermeios.
Pois finalmente o IAB lançou uma estimativa oficial com números de Busca, elevando a participação da mídia online no bolo publicitário para 10%. Além disso, este estudo não considera os investimentos na criação de sites, banners, vídeos, fan pages no Facebook e afins que mostram um mercado bastante saudável.
Mesmo assim você ainda vê agências digitais criticando o modelo brasileiro de publicidade e reclamando do volume de dinheiro investido em mídia online.
Poderia ser mais? Deveria ser mais? Sim, sem dúvida, pelo tempo e pelo número de pessoas na internet.
Se você está acordado, você está online. Se você está dormindo, está off-line.
Assim é a vida hoje.
As agências de search engine marketing tiveram de adaptar seu modelo de negócio para conviver com a supremacia do Google, que não paga nem o desconto de agência previsto pelo CENP, nem o BV. Teve #mimimi? Sim, teve, mas não demorou para todas se coçarem e criar operações rentáveis, a ponto de atrair o interesse de grupos internacionais.
Agora o Facebook está aí, batendo forte para conquistar seu espaço entre os principais veículos do mercado.
Não, ele não paga comissão e muito menos BV. Vai ter choradeira de novo?
Espero que não, espero que o mercado esteja maduro o suficiente para encontrar modelos de negócio que atendam às necessidades dos anunciantes e a rentabilidade que os acionistas esperam de cada empresa. É possível, as agências de busca provaram isso.
Do lado dos veículos, a tecnologia trouxe para a publicidade a capacidade de transacionar mídia em tempo real, nos moldes das bolsas de valores. E o que fazem os portais brasileiros? Ignoram uma oportunidade gigantesca, que foi responsável pelo nascimento da mídia display (ou dos banners e vídeos, se preferir) no maior mercado do mundo, os EUA. Há décadas engenheiros e arquitetos utilizam de tecnologia na criação de seus projetos; por que a publicidade (brasileira) ignora os avanços que estão à sua disposição?
A internet é um ótimo meio para campanhas de performance, mas há muito mais. Precisamos parar de vender tecnologia e vender comunicação, marketing, oportunidades para a marca.
Mas para isso é preciso que paremos de nos achar a última coca-cola do deserto. É preciso entender a dinâmica do mercado publicitário como um todo, falar a linguagem dos anunciantes e, principalmente, parar de olhar para o próprio umbigo. [Webinsider]
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Texto publicado na revista ProXXIma.
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Marcelo Sant'Iago
Marcelo Sant'Iago (mbreak@gmail.com) é colunista do Webinsider desde 2003. No Twitter é @msant_iago.