Nevermind, gravação que marcou minha adolescência, acaba de completar 20 anos. Considerado um marco por especialistas, o disco me provocou uma reflexão. Por que ainda chama tanta atenção dos fãs e da mídia?
Em uma época em que os hits de sucesso eram Michael Jackson e Guns & Roses, o Nirvana chegou quebrando os paradigmas das receitas de sucesso. Michael era conhecido por coreografias espetaculares, clipes com últimos recursos computacionais. O Guns era a típica banda de rock, usando seu uniforme padrão de roupas pretas de couro e bandanas; seus shows eram megaproduções, com luzes e efeitos. Kurt Cobain e banda eram o oposto disso – eles fugiam do estereótipo do popstar tradicional com suas limusines, mansões em Hollywood, produtores e seguranças, o mundo paralelo das estrelas.
O Nirvana era formado por típicos jovens ocidentais. Como o próprio nome do movimento explica (grunge), eles apresentavam uma imagem e estética suja perto dos pop stars do momento. Um trio de bagunceiros, irreverentes, despretensiosos no modo de vestir e portar. Escreviam músicas que mostram a contradição de um jovem normal: algumas vezes apaixonados, alguns momentos felizes, mas também músicas depressivas e perturbadoras.
Assessores de imprensa e seguranças? A banda se jogava em cima do público nos shows. Megaproduções? A banda mesmo após o sucesso gostava de se apresentar em pequenas casas undergrounds.
Claro que além do talento artístico e musical, um importante ponto do sucesso foi identificação do Nirvana com seu público, baseado na sinceridade da banda. O público se enxergava no Nirvana, o que não conseguia fazer com os outros músicos que ficavam afastados, atrás das muralhas do sucesso. As pessoas estavam cansadas do mundo fantasioso das estrelas, onde tudo é grandioso, exagerado e irreal.
O movimento grunge trouxe a aproximação entre as pessoas e as estrelas, mostrando que todos são imperfeitos. Nem sempre estamos felizes, mesmo estrelas do rock como Kurt Cobain, um jovem de sucesso, talentoso e bem sucedido, mas também depressivo, com dúvidas e angústias.
Levando esse raciocínio dos 20 anos de Nevermind para a propaganda, vejo muitas familiaridades entre o momento atual da comunicação e o movimento grunge.
No mundo das redes sociais, onde esconder um fato se torna cada vez mais difícil, onde descobrir uma mentira é cada vez mais rápido, a sinceridade, a espontaneidade e a verdade se tornaram necessidade na construção de marcas.
Vimos por muitos anos o reinado das propagandas fantasiosas, mostrando consumidores perfeitos, mulheres belíssimas, famílias felizes, casas arrumadas, o céu sempre azul. A típica propaganda de margarina.
Estamos no tempo da propaganda grunge, onde o consumidor quer se relacionar com marcas verdadeiras, que são consumidas por pessoas reais. Está na hora de levar a estética grunge para a comunicação – vamos sujar o mundo perfeito da margarina e parar de maquiar o mundo real.
As redes sociais já estão fazendo isso – tirando as marcas do pedestal da TV, onde ficavam atrás de seu VT maravilhoso, com sua superprodução, desenvolvido pela sua agência de propaganda.
Agora o consumidor comum pode compartilhar os defeitos e erros das empresas, tornando-as imperfeitas. Mas não é por isso que as marcas irão perder o seu valor ou serem menos desejadas, veja o exemplo do Nirvana. O que se precisa é construir um diálogo verdadeiro, uma comunicação grunge, mas sem esquecer o talento. [Webinsider]
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Rafael Andaku
Rafael Andaku (rafael@e-brand.com.br) é consultor da inbate e diretor de criação da e-brand