O que muita gente esquece quando enaltece o “storytelling” na construção de um discurso de comunicação, é que o “telling” é infinitamente mais importante que o “story”.
A arte não está na história em si. Seria simples demais. A literatura inteira, universal, em todos os tempos, é feita de poucas histórias. Muito poucas. Mas por falta de interesse no “contar”, por falta de talento no “escrever”, mata-se por uma “boa história”. Recorre-se à pilatrangem de buscar histórias com ingredientes superficiais, fáceis de tocar, fazer chorar e fazer rir. Vemos novelas demais. Lemos jornais demais. Novelas e jornais são compêndios de histórias. Todas as mesmas, chatas, bobas, embrutecedoras.
A arte está na escrita, flui da linguagem e não dos fatos. São as palavras que constroem a verdadeira experiência. A história não passa de um suporte para a expressão. Por pouco que pareça, qualquer história serve a quem sabe escrever, contar. Conte-me a história de Don Quixote, ou Moby Dick, ou o Vermelho e o Negro. Capaz de não sair nada além de uma série de descrições de personagens com uma trajetória heroica até seus fins. Cervantes e Melville e Stendhal contaram-nos essas histórias parecidas, em milhares de páginas, febres, lágrimas, tremores, transformações pela – e somente pela – escrita, única, inimitável, imortal.
O resto, bem, o resto é o resto. Pode até vender refrigerante, sabonete e carro. Para quem já quer refrigerante, sabonete, carro. É pouco. Pouco demais. [Webinsider]
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