O empresário ou diretor de marketing que teve a oportunidade de negociar com uma agência de mídia social provavelmente tem ideia do que vou escrever, para ele isso não é novidade alguma: o modelo de agência de mídia social que é adotado pela maioria das empresas está fadado ao fracasso. Os resultados pífios são um sintoma de um problema incrustado na mentalidade dos profissionais.
O mercado corporativo não gasta dinheiro com comunicação, ao contrário, gastos são cortados como unhas, com revisão periódica. Calma, não estou ignorando todas as campanhas feitas para divulgar os produtos e serviços… Quando esse tipo de despesa tem previsão de retorno para a corporação ele é chamado de investimento, o que é muito diferente de gasto.
Agências tradicionais de publicidade e marketing já aprenderam uma grande lição: pouco adianta fazer aquela campanha super criativa, envolvente, ganhadora de prêmios, mas que não vende um parafuso. Para o terceiro setor e para a gestão pública as métricas são diferentes, mas o mundo capitalista é matemático: vendeu, permanece; não vendeu, corta.
Foco no retorno sobre o investimento?
É aí que as agências de mídia social apanham como criança que faz travessura dentro da igreja, falta maturidade no entendimento de sua finalidade.
Por dar treinamento para agências pude notar onde o problema começa: para boa parte delas, engajar pessoas é a coisa mais bacana que pode acontecer, planejar projetos focados em obter menções positivas e um número grande de “likes” e “RTs” é o objetivo.
Emplacar uma hashtag (um termo qualquer) nos Trend Topics do Twitter (uma espécie de lista dos termos mais quentes no momento) é visto como uma grande vitória da marca.
Não me recordo bem qual o ano, mas durante um bom tempo uma hashtag conhecida como “#forasarney” ficou lá nos assuntos mais quentes da ferramenta como uma forma de pressão para que o distinto senador renunciasse ou fosse destituído.
Resultado: nenhum, Sarney está lá firme e forte! De quebra ainda contratou um especialista para organizar comitiva de influenciadores à Brasília, que, obviamente, enfiaram o rabo no meio das pernas diante do senador. Pensando bem, houve um resultado, o especialista ganhou dinheiro.
Muito se fala em calcular o ROI (retorno sobre gasto, investimento) da mídia social, mas é claro que ninguém consegue. Pensando bem, não é que falta capacidade de mensurar os resultados, talvez falte coragem para dizer ao cliente que o dinheiro investido dele traduziu-se em um punhado de cliques.
De quem é a culpa: da mídia, das agências, dos clientes ou dos produtos?
O problema não está na mídia social, muito menos nos produtos. O meio, se bem utilizado, pode sim trazer muito retorno a quem investe. Se não é da mídia, de quem é a responsabilidade pelo baixo retorno?
A agência tem a maior parcela, por não trabalhar de forma organizada e focada na obtenção de resultados práticos, abrir mão de contratar e/ou treinar mão de obra qualificada e vender o sonho encantando de que tudo dará certo se a empresa engajar consumidores. Ela se esquece apenas de quantificar quantos serão e como eles impactarão no resultado final.
O cliente também tem sua parcela, menor do que a da agência, mas tem. Ao relegar ao meio digital migalhas do seu orçamento é obrigado a trabalhar com enroladores profissionais. Raro é o cliente que destina uma verba substancial, define os objetivos com clareza, exige pesquisa, planejamento e métricas de uma agência.
O fato é que a torneira está se fechando. Li em outro artigo que as startups de mídia social estão morrendo, não poderia ser diferente. Enquanto o trabalho for realizado de forma pouco responsável como se fosse lazer, não há porque ter valor agregado em sua remuneração. [Webinsider]
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Marcelo Vitorino
Marcelo Vitorino (@mvitorino_) é palestrante e consultor de comunicação, marketing digital e gestão de crise. Mais informações em seu site pessoal.
3 respostas
Hoje em dia as muitas pessoas com pouco conhecimento se juntam umas as outras e se dizem “agências de redes sociais” lotando perfis de gente através de SPAM. Faltam profissionais capacitados.
Bom artigo. Só não concordo quando se fala em startips de outras mídias sociais. Nos EUA já apareceram outras 2 redes que só crescem e dados estatísticos mostram que o facebook por exemplo só cai.
Fato! Vamos parar de induzir os clientes aos milhões de cliques ou trending topics, hein? Quero ver essas agências mostrar o resultado, o número de convergências, enfim. Compras fãs no Facebook é muito fácil, o difícil é convencer eles de comprar o seu produto!