Toda organização vende um processo do qual seus clientes não querem fazer ou não tem capacidade de realizar – Nepô;
Vamos rever o conceito o qual as organizações vendem de fato para compreender melhor os efeitos que uma Revolução Cognitiva poderá ter nos negócios nos dois setores principais. Vou defender como hipótese: organizações que vendem ideias e as que vendem matérias.
Tal reconceituação é necessária, pois a ideia da divisão de serviços e produtos é anacrônica diante da atual mudança, pois aqui o que é importante é como as mercadorias vendidas circulam no mercado.
Esse diferencial da circulação de mercadorias será determinante para medir possíveis impactos em uma Revolução Cognitiva.
As organizações que vivem da circulação de ideias serão fortemente atingidas e as outras, no início, parcialmente.
Dito isso, podemos dizer que:
Toda organização vem ao mundo para resolver processos para os quais o cliente não pode ou não quer fazer sozinho, desde comer fora de casa, fazer a unha, ou construir um carro, uma ponte ou aprender um idioma.
Uma organização, assim, resolve problemas, fazendo determinados processos que nos ajudam a viver melhor e pelos quais temos recursos e consideramos justo o preço a pagar.
Existem dois tipos de processo:
- Empresas que vendem e circulam matérias. Envolve processos que implicam necessariamente o uso e a transformação da natureza, necessitam de algum elemento físico a ser transformado em objeto a ser consumido. E, por sua vez, de um canal físico para circulação das mercadorias;
- Empresas que vendem e circulam ideias. NÃO envolve a transformação da natureza, trabalham apenas com as ideias, independem do objeto a ser consumido, pois ele é um meio para a circulação de ideias (livros, cds, dvds, etc.). E, por sua vez, de um canal cognitivo para circulação das mercadorias;
Empresas de matérias – podem fazer ao mesmo tempo ou de forma exclusiva:
- Geradora de matérias-primas;
- Transformadora de matérias-primas;
- Circuladora de matérias;
- Reparadora/Recicladora de matérias;
- Alugadora de produtos de consumo.
Empresas de matérias têm uma taxa alta de tangibilidade e dependem fortemente dos meios físicos de circulação, tais como: estradas, portos, aeroportos, ferrovias.
Podemos citar como empresas de matérias:
- Uma montadora de automóveis;
- Uma empresa de petróleo;
- Uma mineradora;
- Uma empresa de equipamentos de informática;
- Uma empresa de telefone;
- Uma empresa de vestuário;
- Uma construtora.
Tal segmento tem como características:
- Empresas vendedoras dos processos que envolvem matéria atuam na área fim da sociedade;
- Melhoram nossa capacidade de sobrevivência no meio, através de produtos concretos;
- Manipulam e/ou transformam necessariamente a natureza;
- Tais organizações vendem produtos brutos ou transformados;
- Os resultados são tangíveis, passíveis de serem manipulados;
- Empresas de produtos utilizam os ambientes cognitivos disponíveis para melhorá-los;
- Mudanças nos ambientes cognitivos afetam a forma de como se deve melhorar os produtos, seja diretamente na produção, seja na qualidade da gestão, na tomada de decisões ou ainda na forma de venda, divulgação e promoção;
- Nesse segmento, uma Revolução Cognitiva cria um forte impacto, pois, caso seus preceitos não sejam adotados, perde-se o diferencial competitivo, pois mais gente pode inventar novos produtos de forma mais barata e eficiente de melhorá-los e vendê-los;
- Toda empresa de matérias precisa de ideias para criar e aprimorar seus produtos, o que pode dar a impressão, muitas vezes, que é uma empresa de ideias, porém tais organizações dependem da circulação física para obter resultados e terá um impacto específico diante de uma Revolução Cognitiva, pois não terá a circulação de produtos fortemente atingida.
Empresas de ideias podem fazer ao mesmo tempo ou de forma exclusiva:
- Geradora de ideias;
- Circuladora;
- Filtradora de ideias;
- Armazenadora;
- Buscadora.
Uma empresa de ideias tem uma taxa alta de intangibilidade e depende fortemente dos meios cognitivos para circulação de seus produtos: rede de livrarias, bancas de jornais, lojas de música, cinemas e, papéis, correio, fax, telefone e, mais recentemente, da rede digital (internet), que vem gradualmente eliminando a necessidade dos meios físicos.
São exemplos de organizações de ideias;
- Uma empresa de consultoria;
- Uma empresa de seguro;
- Uma empresa de comunicação;
- Uma empresa de advocacia;
- Uma empresa de treinamento;
- Uma empresa de pesquisa;
- Uma empresa de software;
- Uma editora;
- Uma produtora de vídeos;
- Um banco (sim, o dinheiro é apenas uma ideia, contida em notas, em cartões ou em extratos).
Tal segmento tem como característica:
- Empresas que vendem processos que NÃO envolvem matéria atuam na área meio da sociedade;
- Melhoram nossa capacidade de sobrevivência, através de ideias para melhorar processos e produtos e a capacidade de decidir com um melhor equilíbrio entre o custo/benefício;
- NÃO manipulam ou transformam a natureza;
- Tais organizações vendem ideias;
- Os resultados são intangíveis, nunca manipulados;
- Empresas de ideias utilizam os ambientes cognitivos disponíveis para criar e circular seus produtos;
- Mudanças nos ambientes cognitivos, como uma Revolução Cognitiva, afetam a forma de como circulam os produtos e o próprio negócio, que fica mais vulnerável à concorrência;
- Nesse segmento uma Revolução Cognitiva cria um forte impacto de curto prazo, pois, caso seus preceitos não sejam adotados, perde-se o diferencial competitivo, pois mais concorrentes podem entrar no mercado de uma forma mais eficiente;
- Toda empresa de ideias precisa eventualmente de meios físicos para circulá-las, o que pode dar a impressão muitas vezes que é uma empresa de matérias, mas é uma falsa impressão, pois NÃO depende necessariamente da circulação física para obter resultados e terá um impacto específico mais forte e mais rápido diante de uma Revolução Cognitiva.
Empresas de ideias em Revoluções Cognitivas precisam:
- Repensar o serviço que prestam à sociedade, pois ficaram com uma fala-impressão delas mesmo, em função do ambiente cognitivo passado;
- Se readequar ao novo meio circulante de ideias;
- Se adaptar a nova forma de produção de ideias;
- Criar uma nova forma de gerar valor no novo ambiente.
Sem esse mapa conceitual, fica mais difícil trabalhar melhor as estratégias para a implantação da nova cultura digital em cada setor.
A partir deste post, podemos avançar em vários outros. Servirá de base para novas reflexões sobre estratégia no mundo 2.0.
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Carlos Nepomuceno
Carlos Nepomuceno: Entender para agir, capacitar para inovar! Pesquisa, conteúdo, capacitação, futuro, inovação, estratégia.