A metáfora da nuvem como o lugar onde se guarda informação fora da própria máquina não é óbvia.
Por que uma nuvem? Porque ela está sempre lá em cima, é “ubiqua”? Ou porque ela está carregada? É algo etéreo de onde se desprende coisas materais – assim como é simbolicamente etéreo esse lugar onde armazenamos as nossas coisas?
É essa não obviedade junto com a sugestividade que talvez tenha disseminado a noção de “nuvem” com esse sentido. Talvez usar esse termo entre não-iniciados provoque um sentimento de superioridade em quem consegue conectar os sentidos.
Mas estou falando de nuvem e internet porque me peguei agora fazendo uma relação nova entre internet e essa palavra. Faz duas horas que estou fazendo “coisas” na frente do computador. Estou encarando a tela, interpretando informação e interagindo, oferecendo algo de volta.
São duas horas em que aparentemente estou fora do meu corpo. Existo apenas como uma ideia tendo como o horizonte um monitor e, por controle remoto, aciono dedos para agirem sobre o teclado.
O que eu fiz? “Coisas”. Coisas úteis, de certa forma, mas mais ou menos indefinidas. Um pouco de faxina, um pouco de leitura e armazenamento de coisas para “ver depois”, enfim, nem saberia direito de bate pronto dizer o que foram essas coisas.
E a sensação foi essa: de estar diante de uma nuvem (metafórica) de insetos, que não terminam, que ficam circulando, que eu não sei bem o que são e que vou (passivamente?) catando com hashis e engarrafando. E lá se foram mais duas horas. [Webinsider]
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Juliano Spyer
Juliano Spyer (www.julianospyer.com.br) é mestre pelo programa de antropologia digital da University College London e atua como consultor, pesquisador e palestrante. É autor de Conectado (Zahar, 2007), primeiro livro brasileiro sobre mídia social.