“A única revolução possível é dentro de nós” – Mahatma Gandhi
De modo geral, quem decide virar o próprio patrão, inicialmente tem por objetivo o sucesso financeiro e a liberdade de escolher caminhos e horários. No entanto, logo se percebe que estes benefícios são insuficientes para a empreitada e também um tanto ilusórios. Para seguir em frente é necessário algo maior, que motive e justifique tamanho esforço. É necessário um sentimento de propósito e realização pessoal.
Há um benefício de grande valor que comumente não é considerado pelos empreendedores. Assim como um filho que deixa a casa dos pais, a pessoa que deixa de ser empregada inicia um processo de autoconhecimento.
Infelizmente, muitas pessoas (obviamente não todas) na condição de empregados buscam um cargo para o qual suas forças sejam suficientes e suas fraquezas, toleradas. Repetem continuamente atitudes e crenças falhas, até encontrarem um emprego que lhes seja compatível. Na perspectiva do empregado, o problema é o ambiente. Porém, para o empreendedor, o problema só pode ser ele mesmo.
Ser dono de um pequeno negócio é ser o ponto de apoio de uma estrutura, como em uma pirâmide invertida. Lá embaixo, está o dono sustentando e equilibrando. Na condição de líder, o dono propaga suas virtudes, valores e fraquezas por toda a estrutura. Ele observa que os colaboradores mudam com o tempo, mas alguns problemas persistem como se alguém os provocasse continuamente.
Quem seria? Sim, o empreendedor é o problema, mas também é a solução de todo o negócio. Portanto, para que os negócios cresçam, o dono precisa se desenvolver. Todo líder precisa olhar para sua equipe e usá-la como espelho para conhecer suas próprias virtudes e fraquezas. “A tropa é o espelho do comandante”, um amigo/mentor me dizia. Isso coloca uma imensidade de responsabilidades e possibilidades sobre o empreendedor.
Inicia-se então o processo de autoconhecimento.
O gráfico abaixo faz um comparativo entre as perspectivas de empregados e empreendedores. O círculo de influência representa tudo o que podemos influenciar nos resultados, mas não defini-los. Por exemplo: não podemos escolher as oportunidades da vida, mas podemos escolher estar preparados para elas. Da mesma forma, não podemos garantir que os clientes comprem, mas podemos treinar melhor os vendedores. Na vida pessoal, não podemos escolher as notas de nossos filhos, mas podemos ajudá-los com os estudos. Não escolhemos os resultados, mas escolhemos nossas atitudes em relação aos problemas.
A zona de preocupação representa todos os itens aos quais dedicamos alguma atenção. Preocupamo-nos com a manutenção da casa, com a saúde dos filhos, com o lançamento de um filme esperado, com o churrasco do fim de semana, etc. Como empregados, tendemos a concentrar nossa preocupação nas atividades de nossa atribuição, como entregar um relatório, fazer uma entrevista, finalizar um projeto, etc.
Devido a fatores externos, inerentes ao ambiente coorporativo, tende-se a fugir de atribuições que tragam algum tipo de risco, seja social, financeiro, psicológico, etc. Além disso, em algumas culturas organizacionais, as recompensas por ir além das atribuições do cargo são poucas ou inexistentes.
A zona de preocupação do empreendedor tende a ser maior. Em um processo natural e gradativo, ele passa a preocupar-se com movimentos mercadológicos, econômicos e sociais que afetam seus negócios. Ele percebe que, apesar de esses itens estarem fora de seu alcance, é possível escolher sua reação e influenciar resultados.
Diariamente o empregado é estimulado a ficar dentro de sua zona de conforto, devido às limitações de seu cargo, politicagens, falta de confiança, falta de reconhecimento, remuneração desproporcional ao desempenho, etc. Ele vai aos poucos se limitando às tarefas cujo resultado é conhecido. Com o tempo, sua zona de conforto diminui e sair dela torna-se mais difícil.
O empreendedor se vê livre dessas forças opressoras. Além disso, não há mais como terceirizar a culpa. Pela própria necessidade, desejos e expectativas dos que o rodeiam, ele é forçado a ir além de sua zona de conforto. Com o tempo, ela aumenta e ele passa a sentir-se mais confortável com os novos desafios.
Esta é a primeira etapa do autoconhecimento: perceber e aceitar a condição de agente de mudanças e tornar-se integralmente responsável pelos problemas, seus ou de terceiros.
O empreendimento é a situação e oportunidade que coloca em evidência o poder da escolha e da influência do dono. Percebe-se que o líder influencia as pessoas ao redor de maneira consciente e inconscientemente. Nos hábitos inconscientes que moram os vilões da cultura organizacional e familiar. Todos sabem que o exemplo é a melhor forma de educação dos filhos. Isso também se aplica às organizações.
Com o tempo, o empreendedor passa a perceber sua própria instabilidade emocional. Percebe que suas decisões não podem oscilar de acordo com as pessoas ao redor, do humor, do clima atmosférico ou do saldo do caixa. É necessário consistência e concentração de esforços para que haja evolução. O empreendedor aprende a ser a mesma pessoa por mais do que alguns dias ou meses. Percebe que gerenciar o rumo da empresa em uma perspectiva de dias ou horas é bastante difícil.
Logo, o empreendedor se vê obrigado a desenvolver suas competências emocionais e sociais, para fazer jus à posição que ocupa. Tais competências são elementos chave na formação de equipes e na execução de planos. Estas definem o grau de sucesso da aplicação das teorias e técnicas e, é justamente pela carência destas competências que muitos executivos se perdem na execução de brilhantes planejamentos.
Ao longo do caminho, os empreendedores que iniciaram o processo de autoconhecimento têm várias epifanias. Novas visões e valores surgem e os empreendedores possuem a chance de exercitá-los intensamente, pois não estão submersos em uma cultura organizacional, modelada por terceiros. Por isso, empreender é um exercício de autoconhecimento. Particularmente, considero este benefício maior que qualquer outro. Além disso, independe do sucesso do empreendimento. Empreendedorismo é a busca pelo sucesso exterior, condicionado ao sucesso interior. [Webinsider]
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Daniel Rodrigo Bastreghi
Daniel Rodrigo Bastreghi é sócio administrador e Consultor de Marketing na DRB.MKT. Atua no planejamento, orientação e assessoria de ações integradas de marketing digital, pesquisas e implantação de sistemas MarTech.