Depois do Youtube, ou melhor “YOU”, ter figurado na capa da Times na virada do ano de 2006 para 2007, parecia que havia chegado a hora do Anonymous estampar a capa da Times e ser a personalidade de nosso tempo – ao menos de 2011.
É o hacktivismo se consolidando; lógico que a vitória do Anonymous, que se deu na votação popular, ainda precisava ser referendada pelo júri oficial.
Mas esse dado em si já fala muito do momento de nossa sociedade.
Considerando o conservadorismo da revista, acusada de “hesitar na cobertura dos protestos árabes” na editoria das capas, como nos revela a imagem abaixo exposta no site motherboard.
The protester
À primeira vista é de se espantar que tenham eleito o termo genérico “The Protester” – que textualmente se refere a todos os “protestadores” mundo afora (e que englobaria o Anonymous).
Há de se indagar do motivo pelo qual tenham ilustrado a capa da personalidade do ano de 2011 com a imagem de um protestante árabe.
Mas se olharmos bem, compreendemos: de fato, a “primavera árabe”, por mais que tenha dedo da CIA, é algo sem precedente na história recente humana e mais um passo à americanização globalização mundial.
Ademais, representa o método tradicional de protesto, atualizado pelo uso revolucionário das redes – ainda assim é o mesmo, só que diferente.
Já o Anonymous representa não apenas uma nova maneira de agir, mas, principalmente, uma nova maneira de se pensar e articular, quebrando paradigmas muito além do digital – e tendo assim influenciado praticamente todos os movimentos de resistência com o conceito “You are the one, yet you are many. Help spread the word, build your future”. E isto não apenas em minha opinião, mas amplamente debatido na imprensa inglesa.
Por isto é que eu gostaria de ter visto esta capa aqui: talvez com um toque árabe para fazer alusão ao fato de que são os anonymous em todo mundo, de todas as formas, que fazem os movimentos de mudança acontecer e se consolidarem.
Contudo, se formos ponderados e menos teóricos da conspiração, temos que concordar que a capa vencedora, por trazer um personagem genérico (pero non troppo), engloba mais movimentos e revela o poder do protesto.
Poder este que é melhor que tenha traços árabes, dos novos aliados, do que cara alguma do Anonymous ou jeito de ex-aliados que agora ocupam as ruas, como o Occupy Wall St. – ou pior: que lembrem antigos fantasmas do comunismo e da anarquia, motivo pelo qual a capa alternativa abaixo deve ter perdido a seleção final.
Notem que citam muitos movimentos, até destacam os Occupy, mas nenhuma menção ao Anonymous.
Aqui um apanhado das últimas capas contendo as personalidades – tire suas próprias conclusoes ou simplesmente acompanhe através delas uma parte da história.
Quem merecia figurar aí e só não o faz por ter sido calado por uma difamação barata e armada (IMHO), superado pelo fundador do Facebook, M.Zuckerberg, é o responsável pelo Wikileaks, Julian Assange.
Fica aqui a homenagem, no dia em que o congresso americano aprovou a CISPA.
E que todos cultivem a liberdade e o poder de se ser ANONYMOUS.
[Webinsider]
Klaus Denecke-Rabello
Klaus Denecke-Rabello (twitter.com/klaus2tag ) é consultor da 2tag.net, diretor de comunicação da AMIpanema, professor de comunicação digital da ESPM-Rio e consultor da campanha nacional de acessibilidade. Escreve blogs sobre desenvolvimento sustentável e filosofia e acredita no papel transformador das marcas.
2 respostas
Obrigado por seu tempo e comentário, Thiago Oliveira.
O padrão de publicação, principalmente da escolha das capas já é público e notório, mas o que se buscou neste artigo era refletir sobre as intenções por trás dos interesses.
A escolha por “protestador” – note que destaquei com aspas já no texto original -, se deve exatamente por protestante ter cunho religioso e manifestante, palavra por ti sugerida, não ter o mesmo peso e conceito almejados: nem toda manifestação é contestadora.
Com a utilização das aspas, tomei a liberdade de fazer uso do recurso do neologismo, reforçando a idéia das pessoas que exercem este ato manifestarem uma opinião pró-teste dos valores vigentes.
Talvez fosse o caso de ter explicado isto já no original – de toda maneira, obrigado por ter me dado a oportunidade de explicitar isto aqui e ter assim ajudado a clarear um pouco mais da intenção do artigo.
A revista vai colocar na capa quem interessa e não quem merece, como todas as publicações editoriais fazem.
Sobre a escolha das palavras, eu usaria “manifestante” em lugar de protestante ou protestadores.
Protestador não exite, e protestante, apesar de correto,é mais conhecido como sendo um linha religiosa.