Quantas vezes nos deparamos com uma situação que não conhecemos um assunto ou tema. Basta alguém evidenciar tal tema no nosso meio ou entorno e, de repente, tudo parece falar disso. Assim foi para mim o tema “modelos de negócios”.
Nunca tinha ouvido falar ou lido nada a respeito. Um dia, por conta de um tema que procurava para elaborar minha dissertação de mestrado, fui sugerida a estudar modelos de negócios. Disse eu a essa pessoa: Modelos o quê? Não seria plano de negócios? Ela me respondeu. Não, modelos de negócios. Eu não fazia ideia do que se tratava. Entrei de cabeça. Em um mês eu tinha o mapa do processo, os principais artigos e pesquisadores de destaque no mundo. Passei a usar as redes sociais para encontrar o que procurava e a cada dia agregava mais uma pessoa, mais um artigo, mais um pesquisador. Fantásticas descobertas que culminaram com a publicação de uma dissertação, originaram vários artigos, workshops ministrados e muita, muita conversa sobre tema. E que agora faz parte do meu dia a dia.
Afinal, do que se tratam modelos de negócios?
Os anos noventa foram marcados pelo surgimento de um novo espaço conceitual decorrente da pulverização e acessibilidade à internet, que resultou em significativas transformações na sociedade, na forma de realizar negócios, no relacionamento entre as pessoas e na aproximação de mercados.
Esse novo espaço conceitual trouxe a exigência de mudanças na forma de organizar os negócios que surgiam e que precisavam ser modelados sob uma nova ótica uma vez que critérios adotados na era industrial já não podiam ser considerados nesta nova era do conhecimento. Como resultante desse processo, houve o surgimento de empresas que iniciaram suas transações comerciais baseadas no ambiente virtual.
Naquele momento, essa forma de transação originou o termo “modelo de negócio” por se tratar de um ambiente diferente do até então existente. Com o passar do tempo e a banalização deste tipo de comércio, identificou-se que qualquer negócio tem um tipo específico de modelo, alguns formando determinados padrões, outros abrindo novos mercados e inovando.
Para qualquer negócio, existe um modelo
Assim, de acordo com o autor Alex Osterwalder, modelos de negócios descrevem a lógica de como uma organização cria, captura e entrega valor aos seus clientes. Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente em um evento que aconteceu em novembro de 2011 no Rio de Janeiro. Podemos dizer também que modelos de negócios é a representação dos processos de uma empresa de como esta oferece valor aos seus clientes, obtém seu lucro e se mantém de forma sustentável ao longo de um período de tempo.
É o caso da Xerox que criou um novo modelo de negócio, ao iniciar a comercialização de máquinas copiadoras, cedendo os equipamentos e ganhando na venda dos tonners e papeis especiais. Mohamed Yunus cria um novo modelo de negócio quando implanta o serviço de microcrédito para população de baixa renda pelo Grameen Bankem em Bangladesh. Podemos citar ainda a criação de um mercado totalmente novo no caso do Google e a criação dos anúncios AdWords por meio da internet como proposição de valor ao cliente. Ou da Nespresso, que cria um mercado doméstico para o café expresso e, por meio da patente de um sache, fideliza seus clientes.
Planejamento estratégico da inovação
A inovação em um modelo de negócio não surge ao acaso. É algo que deve ser administrado e monitorado, estruturado em processo e utilizado para alavancar o potencial criativo de uma organização. Requer habilidade e destreza para lidar com incertezas e com opiniões contrárias. O surgimento de uma boa solução requer tempo, dedicação e uma equipe plenamente motivada.
Para tanto existem técnicas e uma linguagem que pode ser estudada e aplicada no dia a dia. Alex Osterwalder, num processo de co-criação com mais 470 praticantes da metodologia ao redor do mundo, disponibilizou e tem difundido no que chamamos de Canvas, um quadro que apresenta nove blocos e que representa os processos organizacionais.
A partir da prática do design thinking, é possível criar, modelar e idealizar modelos de negócios inovadores. Há um ano venho apresentando isso em cursos, palestras e workshops entre São Paulo e Florianópolis, além de adotar a mesma metodologia em processos de diagnóstico organizacional, como identificação de processos internos na empresa e até mesmo como base para o planejamento organizacional. E posso afirmar que funciona. Os resultados são surpreendentes e motivadores.
E o que dizer da Kodak x Fujifilm? Bem, isso é tema para um workshop, mas basicamente a Kodak não mudou o seu modelo de negócio vindo a quebrar enquanto que a Fuji (não mais só filmes) identificou possibilidades de inovação, viu que colágeno servia não somente para produzir filmes, criou um portfólio de modelos de negócios, incorporou outras variáveis, inclusive cosméticos, e permanece competitiva e lucrativa desbancando o império da concorrente Kodak.
Saiba mais sobre este assunto no site BMGen Brasil e conheça a bem sucedida experiência do curso que ministrei recentemente na ESPM em São Paulo. Tivemos a oportunidade de discutir e ampliar conhecimento com um grupo de 30 pessoas que agora aplicam isso no seu dia a dia. Conheça os depoimentos de quem gostou da metodologia.
[Webinsider]
Maria Augusta Orofino
Maria Augusta Orofino é mestre em Gestão do Conhecimento pela UFSC. Especialista em administração pública e marketing. Atua na InnovaService. É diretora da Prospect Ideias em Movimento. Autora do blog www.mariaaugusta.com.br.