Em dezembro de 2006 eu estava começando a empreender, modelando meu primeiro projeto, aprendendo sobre investimento, mercado, sociedade, clientes, produto, serviço e marketing, e me apoiei intensamente nos meus pares, sócios e parceiros, tentando construir a melhor história possível. Uma das maneiras que tenho de retribuir o apoio recebido é me esforçar, como posso, em passar aos demais o conhecimento que construimos após muita batalha.
Escrevi esse texto para os empreendedores que estão começando, não os que ainda nem começaram (para esses, eu tenho o texto “Como criar uma startup de serviço na internet“).
O meu público-alvo é o empreendedor que já tem um projeto funcionando, está capitalizado de alguma maneira – seja por investimento, empréstimo ou primeiros clientes pagantes – e agora vai iniciar a empresa. Ou então, o empreendedor que já passou por esses primeiros passos e iniciou recentemente a empresa, mas ainda está nas primeiras fases de crescimento. Se você não se encaixa em nenhum dos grupos descritos, espero que leia mesmo assim e tire algum proveito do texto, afinal, conhecimento nunca é demais.
“Prepare-se, será mais difícil do que você pensa, mas faremos dar certo”
Essa foi a primeira frase que um dos investidores da Monashees Capital me falou, durante o aperto de mãos que simbolizou o primeiro aporte financeiro recebido pela boo-box, em julho de 2007. É claro que ele estava certo. Acredito que ninguém está completamente pronto para fazer o que nunca fez, e empreendedorismo de alto impacto exige que você faça algo inédito em pelo menos alguns aspectos.
Mas isso não quer dizer que você deva ser um maluco que sai fazendo coisas aleatoriamente. Muito pelo contrário, o trecho mais importante da frase acima é o “prepare-se”. Sim, você deve se preparar como for possível: estudando muito seu mercado, seus clientes, os casos anteriores de empresas similares, cenários parecidos em outros países.
Pode-se aprender em diferentes situações, com filmes, videogames, táticas militares, músicas, viagens, etc. Prepare-se! Toda a bagagem que você puder acumular será insuficiente e você precisará montar o avião em queda livre.
Vá para a borda do penhasco e salte. Construa suas asas durante a queda.
Ray Bradbury no Brown Daily Herald (24 de março de 1995)
O mercado não tem sentimentos
No mercado brasileiro todas as pessoas são muito abertas ao “vamos falar”, “vamos marcar”, que são quase sentenças obrigatórias após encontros inesperados em restaurantes ou bares. Mas isso é fachada.
A verdade é que o mercado não tem sentimentos, não é seu amigo e não vai facilitar porque você está começando. Seu serviço precisa ser o melhor, seu discurso de vendas deve ser preciso e você vai falhar repetidamente até acertar todos os detalhes, mas não se preocupe, foi assim com todos antes de você.
Não minta, nem para você mesmo
Não adianta tentar enganar o cliente; ele não é bobo e mesmo que não entenda do seu mercado especificamente, não vai pagar mais de uma vez por algo que não acrescente valor. E você quer os clientes recorrentes.
É importante ser sincero, principalmente consigo mesmo. Se algo não está minimamente bom nem para você, não vá para o mercado apresentá-lo aos demais. Seja transparente com todos e leve ao mercado algo que te orgulhe. Não precisa ser perfeito, mas precisa ter valor, do contrário a mentira (esse ser de pernas curtas) aparecerá e te envergonhará.
Seus sócios são seus melhores amigos, mesmo não sendo
São raros os empreendedores completos, com estratégia, produto, marketing, técnica, tudo em uma só pessoa. A maior parte de nós não tem todas essas capacidades desenvolvidas, mas você pode suprir isso com bons sócios.
Seu sócio será seu irmão, seu cônjuge, seu par em tudo. Deve haver cumplicidade e sinceridade total, e, mais importante: não pode haver segredos. Não deve haver nenhuma informação sobre sua empresa que você diria a um funcionário, amigo ou esposa, e não ao seu sócio, e esse comportamento deve ser mútuo. Ambos devem ter confiança total um no outro.
O menor sinal de desconfiança entre sócios pode gerar uma rachadura, muitas vezes irrecuperável, na estrutura da empresa. Eu tenho vários sócios, todos confiam uns nos outros e a comunicação é com total transparência, há inclusive diferentes reuniões onde a “roupa suja” é lavada abertamente.
Contrate rápido, demita mais rápido
O time é o ativo mais importante da minha empresa, foi esse o maior valor que criamos desde 2007. Para manter um time coeso e produtivo é preciso vencer vários desafios, o primeiro é contratar as pessoas certas para a empresa.
Em uma empresa de rápido crescimento, há recrutamento constante e os processos seletivos, por mais bem-executados que sejam, podem trazer para o time pessoas não preparadas para a função ou sem um bom encaixe na cultura da empresa.
Muitas vezes um profissional tem todas as características técnicas necessárias para uma função, além de um comportamento que funciona muito bem em vários tipos de empresas, mas não na sua empresa.
Quando qualquer incompatibilidade insolúvel é detectada, é importante ambos (você e o profissional) terem consciência que a “culpa” não é de ninguém e o melhor é fazer a transição do profissional o mais rápido possível.
Esteja pronto para demitir, não é fácil
Não é fácil demitir um profissional, você sempre pensa nos problemas pessoais de cada um, em como a pessoa precisa do emprego para pagar as contas ou manter os filhos. É muito importante separar bem os ambientes (pessoal e profissional), para conseguir demitir quando necessário e não manter na empresa pessoas e funções que não são essenciais.
Tenha em mente que todo profissional está sujeito a ser demitido e não há problema algum nisso. Toda empresa contrata e demite constantemente e a sua não será diferente. Não há nada pessoal em uma demissão e a vida de ambos (profissional e empresa) continua. Muitas vezes é até melhor para o profissional recém demitido, que pode ser mais produtivo e feliz em uma empresa que use 120% de seu potencial, o fazendo crescer e ter uma carreira mais promissora.
Uma boa maneira de reduzir atritos é ajudar o profissional a se recolocar no mercado de trabalho, com indicações e suporte à transição.
Não contrate seus familiares ou amigos
Exatamente pela necessidade de separação entre os ambientes pessoal e profissional, eu recomendo que os empreendedores iniciantes não contratem familiares ou amigos. O excesso de intimidade pode atrapalhar o dia-a-dia e a produtividade, além de dificultar a demissão, o que pode te obrigar a ficar com um profissional desnecessário, e a eventual demissão pode acabar com um bom relacionamento pessoal.
Em empresas maiores esse cenário é mais fácil de lidar, há mais espaço para a gestão fria e o profissional não precisa estar subordinado a você.
É a cultura corporativa que vai manter seu time com você
Ao receber ofertas mais tentadoras de outras empresas, seus melhores funcionários vão colocar vários fatores na balança para decidir ou não pela mudança. Fatores como salário, benefícios, funções, carreira e localização contam, mas, de acordo com a minha experiência, o mais importante é a cultura corporativa.
A cultura da sua empresa se espalha pelo boca-a-boca do mercado, atrai os melhores para seu time, mantém a coesão de discurso e comportamento dos funcionários. Dentro de certos limites, a cultura te ajudará a manter os melhores, mesmo com ofertas mais tentadoras em localização, benefícios ou atividades.
Livros de auto-ajuda e cartazes nas paredes não são a cultura corporativa
A cultura corporativa é moldada diariamente pelo time, o empreendedor é um importante leme, mas não tem o controle total da situação. Se o time não quiser fazer cafés-da-manhã no escritório, o empreendedor não vai conseguir mudar isso sem estar obrigando as pessoas a comparecer, e nenhuma atividade obrigatória é legal. Se o time quiser fazer happy-hours com karaokê uma vez por mês, isso vai se tornar um fator da cultura corporativa mesmo que o “chefe” não participe (meu caso).
Isso é só o começo
Essas são apenas algumas dicas que consegui listar em uma noite de domingo. Obviamente há muito mais a ser adicionado e pode ser que eu o complemente com outros textos no futuro.
Que tal me ajudar? Que outras dicas você daria a um empreendedor iniciante que acaba de montar sua empresa e quer construir uma grande história? [Webinsider]
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Leia também:
- Como sua empresa pode receber investimento
- O Resgate do Soldado Ryan: estratégia, tática e operação
- Como criar uma startup de serviço na internet
- Começar um negócio
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Fotos de Marco Gomes
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Marco Gomes
Marco Gomes é fundador da boo-box; co-fundador do Mova Mais e Consigliere do Jovem Nerd. Empreendedor, cristão, viajante, marido, ciclista e nerd. Mantém um blog.
3 respostas
Para falar a verdade gostaria de fazer uma pergunta, e quando seu futuro sócio é seu primo?E ou outro é seu amigo de infância?
O que fazer?
Ótimo post Marco.
Identifiquei dois tópicos muito interessantes aqui. O 1º é sobre a demissão e o 2º sobre familiares na empresa. Esses foram (ou são ainda) meus maiores desafios frente a minha empresa.
Sobre demissão sempre foi muito complicado pra mim. Até que um dia pensei exatamente no que você escreveu: Promover o funcionário como profissional! Hoje até estou indo além. Sei que pode fazer falta pra mim, mas quando identifico uma oportunidade para o funcionário fora da empresa, já o indico como uma maneira de promover esse funcionário.
Já sobre familiares na empresa, é incrível como a formula familia x empresa não dá certo!
É isso ai. Novamente, ótimo post!
Belo artigo, em alguns momentos suas palavras me lembraram o livro da Bel Pesce [http://www.ameninadovale.com/], já pensou em fazer algo do tipo? Seria bastante enriquecedor.
Abraços!