O sucesso astronômico do Angry Birds, a venda do Instagram por USD 1 bi para o Facebook e mais uma série de ‘histórias de sucesso’ que a imprensa tem noticiado nos últimos meses trouxe de volta um frenesi inegável para o mercado de tecnologia.
A história não chega a ser inédita. Quem já estava por aqui em 1999 se lembra das loucuras que rondavam o então mercado .COM, onde qualquer empresa de tecnologia ganhava investimentos fartos e pagava salários absurdos em busca do sonhado IPO e da chance de fazer milionários
Muita gente se beneficiou nesta ciranda que era então, basicamente financeira. Porque apesar de toda a promessa do incrível mundo que a tecnologia podia fazer, havia verdadeiramente pouca massa crítica de usuários de internet naquela época, 360 milhões de usuários em todo o mundo, sendo que pouco mais de 5 mihões no Brasil e o número de empreendimentos de internet acabava sendo completamente desproporcional aos usuários disponíveis.
Doze anos depois a realidade é completamente diferente. Mais de 1/3 da população mundial já acessa a internet através de computadores, 1 bilhão em uma única rede social (Facebook), mais de 90 milhões de usuários de internet no Brasil, e quando incluímos nesta conta os usuários de telefone celular que começam a acessar a internet através de seus dispositivos móveis, chegamos a números verdadeiramente astronômicos.
É verdade. Hoje é possível se construir um serviço digital e ter ele acessado rapidamente por milhões de usuários em todo o mundo. Algo que você cria em sua casa com um grupo de amigos, pode ter uma popularidade astronômica.
Escolhi a palavra ‘popularidade’ de propósito.
Num mundo com bilhões de usuários de internet, ter algo popular, se você for parar para pensar, é algo até bastante simples de acontecer. Inventar algo que é popular é muito bacana e recompensador do ponto de vista pessoal, mas a popularidade em nada garante seu sucesso financeiro.
Os modelos de receita baseados em publicidade se mostraram insustentáveis. Se o New York Times tem dificuldade em viabilizar sua operação online com publicidade, é sinal de que o modelo apresenta problemas e a resposta para isso é simples: as propriedades digitais em busca de publicidade aumentaram exponencialmente nos últimos anos enquanto o número de grandes anunciantes permaneceu o mesmo, ou diminuiu (face as consolidações das empresas).
E ter o sucesso financeiro, não baseado em publicidade, de um Instagram ou de um Angry Birds, não tem nada de simples.
A Rovio, empresa que criou o Angry Birds, já existia há mais de 10 anos e havia lançado 52 jogos antes de acertar a mão com os pássaros zangados. E o Instagram estava no lugar e na hora certa na negociação financeira feita com o Facebook.
Mérito da Rovio e do Instagram? Sem dúvida. A questão é que para cada caso de sucesso há dezenas de milhares de outros casos de fracasso.
Muitos fracassos podem ser atribuídos a falta de sorte. Sim, por mais que você se esforce e faça seu trabalho, a sorte é ainda assim um fator importante em todo caso de sucesso.
Mas a grande maioria dos casos de fracasso, nada tem a ver com a sorte. Tem a ver simplesmente com a falta de definição clara do modelo de negócios que não seja baseado em publicidade.
A pessoa tem a idéia e a idéia pode ser até bem popular e ganhar milhões de usuários, mas acha que vai ganhar dinheiro com propaganda. A receita de publicidade pode até ser suficiente para um indivíduo sozinho, mas dificilmente irá sustentar uma empresa. Portanto, se não houver outro modelo de receita e de negócios claro, basicamente estamos falando de algo que está fadado a se tornar insustentável a longo prazo.
Ao longo dos últimos anos tive o privilégio de receber dezenas de empreendedores iniciando suas startups com idéias muito bacanas, mas a pergunta que sempre fazia na mesa depois de assistir ao ‘pitch’ inicial era: “OK, mas como é que isso vai dar dinheiro?” e quando a resposta era “Com publicidade”, sempre acabávamos voltando para a estaca zero.
Se você está no momento de empreender, aproveite a boa onda e o bom momento. Suas chances de sucesso são sim imensas, desde que você não deixe de ‘get down to business’ definindo modelos de negócio sustentáveis, logo no primeiro momento. [Webinsider]
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Michel Lent Schwartzman
Michel Lent Schwartzman (michel@lent.com.br) é um empreendedor serial e especialista em marcas e negócios digitais, com sólida experiência em acompanhar carreiras e aconselhar empresas. Pioneiro na indústria digital, é formado em Desenho Industrial pela PUC-Rio e mestre pela New York University. Ao longo de quase 30 anos, fundou e dirigiu agências e atuou como CMO em grandes fintechs, além de prestar consultoria para diversas empresas globais