Em um mundo hiperconectado onde as informações são disseminadas de maneira cada vez mais frenética por múltiplos canais, os jornais estão tendo que se adaptar e se reinventar, assim o engajamento, uma atividade comum às novas mídias passa a fazer parte dos novos manuais de redação.
O verbo engajar é usado com muita frequência nas mídias e redes sociais e no meio da imprensa significa tornar os leitores mais participativos no processo jornalístico. Esse engajamento se dá por meio de comentários nas matérias, envio de e-mails para as redações, seguindo repórteres no Twitter, curtindo a página do veículo no Facebook ou servindo de fonte por meio das redes sociais.
O artigo “Engajamento é a nova Fronteira” de Ruy Carneiro, sócio da WA Consulting, ilustra com muita propriedade o conceito aplicado primeiro nas mídias sociais e depois apropriado pelos jornais. O processo de sedução por meio do engajamento do cliente não significa apenas fazê-lo comprar mais, significa tê-lo como um advogado da marca que irá mostrar seu orgulho em seus posts. Não é difícil achar comunidades do tipo “Eu amo …” referente a uma marca ou um post no Twitter elogiando ou divulgando novos produtos de suas marcas favoritas.
Carneiro explica que, para se criar este tipo de relacionamento, é necessário que a empresa consiga se relacionar em vários aspectos com qualidade com estes clientes, qualidade na divulgação, qualidade do produto/serviço, qualidade no atendimento do ponto de venda, qualidade de atendimento pós-venda, respeito ao meio ambiente e à sociedade e no relacionamento criado através dos meios digitais. E isso se aplica como uma luva para os jornais nesse mundo totalmente conectado.
O ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton, é um dos ardorosos defensores da prática. Segundo ele no artigo Post readers feel ignored uma das chaves para o futuro dos periódicos é fomentar o engajamento com o público. Pexton aconselha editores, repórteres e blogueiros a retornar telefonemas e e-mails de leitores, com gentileza, respeito e educação, mesmo se eles forem persistentes ou desagradáveis. Isto faz com que os leitores sintam-se satisfeitos e engajados com o veículo.
Se os jornalistas discordarem de alguma reclamação, basta dar, educadamente, uma boa razão ao leitor. Caso a demanda consuma muito tempo, desculpe-se e explique como é seu dia de trabalho e os prazos que deve cumprir. Leitores, por sua vez, devem saber que o volume de trabalho dos jornalistas é muito maior hoje em dia. Alguns dos repórteres do Post, explica Pexton, dizem que não conseguem mais responder aos questionamentos dos leitores, embora tentem, pois o volume de e-mails e pedidos via redes sociais está crescendo exponencialmente.
A Folha de São Paulo, em minha opinião, leva essa questão do engajamento muito a sério. Em todas as vezes, e não foram poucas, quando entrei em contato com a ombudsman Suzana Singer, obtive respostas aos meus questionamentos. Algumas vezes, por intermédio dela, as dúvidas foram sanadas pelos próprios autores das matérias. Isso é muito legal e como assinante do veículo me senti respeitado e vi que a minha opinião é importante para aquele jornal.
A conta do jornal O Estado de São Paulo no Twitter, também merece destaque. O veículo ganhou popularidade por responder os leitores em tempo real, postar notícias em tom informal e retuitar notícias até de jornais concorrentes (como a Folha e O Globo). A página no Facebook é outra ferramenta bastante usada pelo diário para consultar a opinião dos leitores sobre o que é produzido.
Aqueles que escrevem e não dispõem de espaços nos grandes veículos, sabem como a questão do engajamento deve ser levada a sério. Acredito que, quando um leitor se importa a ponto de postar um comentário, tuitar ou enviar um e-mail, mesmo que seja para criticar um artigo ou uma matéria, tem-se a oportunidade de conquistar seu respeito e fidelidade. Isso é fundamental para a credibilidade e a reputação, tanto do veículo, como do jornalista, moedas valiosas em tempo de redes e mídias sociais.
A questão do engajamento esteve presente no 9.º Congresso Brasileiro de Jornais, evento promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), no dia 20/08, em São Paulo. O vice-editor executivo do jornal americano “The Wall Street Journal”, Raju Narisetti, desafiou os diretores dos veículos de imprensa brasileiros a pensarem na adoção de um modelo inovador de cobrança por conteúdo digital, diferente do “paywall”.
Narisetti propôs que os veículos de comunicação avaliassem o modelo do que ele chamou de “freewall”, no qual os leitores passariam a pagar menos pelo acesso ao conteúdo online à medida que usassem mais o site e se engajassem nele, comentando matérias ou as indicando nas mídias e redes sociais. Segundo ele, com o “freewall”, os leitores seriam premiados a medida que o engajamento aumentasse. De acordo com Narisetti, a indústria de games teve sucesso ao fazer algo semelhante à ideia do “freewall”, premiando usuários mais engajados.
A questão é que as mídias e redes sociais vêm impactando o modo de se fazer jornalismo e os veículos estão tendo que se adaptar a essa nova realidade. Nesse embate, engajar os leitores é garantia certa de ganhar o respeito do público, manter o prestígio junto aos formadores de opinião, conquistar audiência e principalmente gerar receita. Tais ingredientes responsáveis pelo sucesso de qualquer jornal. [Webinsider]
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Marcelo Rebelo
Marcelo Rebelo (@mrebelo71) é jornalista, relações públicas e pós-graduado em e-commerce. Integra a equipe da Viroze web/conteúdo.