Há poucos dias atrás, alguns fabricantes de televisores começaram a comercializar telas Quad Full HD (QFHD), em alusão ao fato do aumento de quatro vezes o valor da resolução “Full HD”, que é de 1080 linhas em varredura progressiva. Trata-se, na verdade, de telas com 4 K de resolução, e em pelo menos um modelo, a tela é chamada de “Ultra HD” (UHD).
Como toda tecnologia sem paralelo no mercado, o preço de lançamento é acachapante: cerca de 22 mil dólares americanos e 40 mil reais no equivalente brasileiro. A tela tem generosas 84 polegadas, o equivalente aproximado das telas usadas em aplicações com projetores frontais. Apesar disto, o modelo é projetado para ser instalado em uma mesa, se o usuário quiser.
O mercado da alta tecnologia tem dessas coisas: eu me lembro de que quando estava morando em Cardiff, a Intel lançou o processador 486DX2, de 66 MHz, com o módulo coprocessador aritmético já integrado. Os primeiros computadores montados com o 486 custavam mais de 7 mil libras e foram chamados de “máquina dos sonhos” pelas revistas da época. Em curto espaço de tempo, porém, o processador saiu de linha, para ser substituído pelo Pentium!
Se isto vai acontecer com a nova linha de TVs ou se ela irá provocar o desinteresse do usuário, só o futuro dirá. É provável que as aplicações de televisores dotados de tela com Ultra Definição fiquem fora do ambiente doméstico, e se restrinjam aos laboratórios de autoração de mídia. Isto porque a instalação de uma TV destas em uma sala de alguns poucos metros quadrados é, no mínimo, questionável, principalmente no aspecto custo/benefício.
Quando a imagem em 4 K faz sentido
No ano passado, eu tive a chance de assistir um seminário internacional, que incluiu a exibição de imagens 4 K em uma tela, e até escrevi uma coluna sobre isto. Quando se está no meio de pesquisadores, a sensação é sempre a de olhar para o futuro, o que é razoável em se tratando de pesquisa em tecnologia.
Não faz tanto tempo assim que o cineasta George Lucas experimentou rodar o último filme da série Star Wars usando uma câmera capaz de registrar imagens em 1080p. Em épocas recentes, a indústria passou a trabalhar com intermediários digitais de 4 K rotineiramente, e os cinemas com projetores de 4 K compatíveis. Em consequência, o filme de Lucas passa 1:1 para a mídia doméstica e o mesmo acontece com os DIs distribuídos aos cinemas. Ainda com estes últimos, é possível gerar mídia de alta qualidade, bastando reduzir a escala de pixels para a mídia desejada.
Note-se que a imagem capturada em 4 K faz sentido para a produção de mídia e para a projeção nos cinemas, porque ela permite o uso de telas maiores, sem perda da qualidade da imagem original.
Isto se deve ao número de pixels contido nas imagens digitais, em relação à densidade dos mesmos no espaço de exibição. A densidade de pixels é uma medida indireta da resolução da imagem. O cálculo desta densidade, no caso das telas de TV, dependerá da resolução da imagem e do tamanho da tela. Por exemplo, uma tela de 55 polegadas, contendo uma imagem com 1080 pixels de resolução horizontal e 1920 pixels de resolução vertical, terá uma densidade de pixels de 40.05 pixels por polegada.
Se a mesma imagem fosse exibida em uma tela de 80 polegadas, a densidade de pixels cairia para 27.54 ppi. Para compensar esta perda de densidade, o espectador deverá aumentar a distância entre ele e a tela, tornando assim mais difícil perceber o efeito da queda na densidade de pixels.
Se, por outro lado, a quantidade de pixels da tela aumentar, no mesmo espaço (80”), digamos, para 4096 x 3072 (4 K de resolução), a densidade passa para 64 ppi.
Tal fato sugere que o aumento do tamanho da tela deveria ser acompanhado do aumento da resolução nativa da imagem, ou seja, imagens com 4 K são plenamente justificáveis em telas de grande porte.
Mas, a recíproca é também verdadeira: telas menores e assistidas pelo usuário com um mínimo de distância compatível, a densidade de pixels maior (por exemplo, 4 K em 55” = 93.09 ppi) não terá impacto algum.
As limitações do olho humano
A capacidade de percepção de resolução do olho humano é limitada pela distância. Em um artigo da C/NET, o articulista faz uma interessante abordagem sobre esta questão. Tudo bem que o texto é um pouco radical, mas não desprovido de razão.
Na prática, e na vida real, a coisas se complicam, porque certos aspectos dos hábitos das pessoas mudam muito. O que torna, neste caso, a relação tamanho da tela e a respectiva distância de visualização pouco ligada a padrões ou fórmulas matemáticas.
As pessoas decidem individualmente de que maneira será feita a instalação de uma dada tela e que aplicações ela terá. Um caso em tela (sem trocadilho) é a adoção de um monitor maior para o computador. Os fabricantes de TV já perceberam que é inútil continuar vendendo monitores dedicados, quando é possível instalar um adaptador de vídeo no micro, com saída HDMI, DVI ou Display Port. Os menos hesitantes falam em “monitor/TV” ou vice-versa, quando na verdade o aparelho é uma TV comum, com entrada HDMI.
A instalação de uma tela maior na mesa do usuário (por exemplo, de 32 polegadas) destrói completamente a relação tamanho da tela e distância, previsíveis ou calculadas, para este tipo de aplicação. E em muitos casos, telas ainda maiores são instaladas na parede, guardando uma certa (e prudente) distância entre o teclado e o monitor/TV.
A questão, por enquanto, ainda é financeira
Não há dúvida que as aplicações de telas 4 K para o ambiente doméstico ou para ambientes menores se revestem de desnecessidade ou inutilidade, se quiserem. Entretanto, ao se tachar de “estúpida” esta ideia, como afirma o articulista citado acima, se acaba tirando do usuário final a liberdade de fazer esta opção de forma equilibrada.
A decisão de adquirir uma TV com 4 K é decisão privilegiada do usuário, ninguém deveria interferir nisto. Pessoalmente, eu não vejo como uma pessoa possa ser capaz de ficar em dúvida, frente ao orçamento gigantesco deste tipo de instalação, ou seja, a decisão de compra não poderia dar espaço para hesitação, a não ser que o usuário seja financeiramente imprudente.
O problema maior, entretanto, é que as aplicações domésticas, neste momento, simplesmente não existem. Já existem sim leitores de mesa, A/V receivers e processadores capazes de fazer upsampling de mídia 1080p, como o Blu-Ray, para 4 K, recurso que pode fazer um papel de quebra-galho, porém não o suficiente para justificar um investimento de tamanha magnitude em um display.
A julgar pela imagem 4 K que eu já vi em teste, acho pouco provável, salvo posterior juízo, que se consiga notar uma diferença marcante em definição, entre uma tela 1080p de 60 polegadas e outra de 4 K com 80 polegadas.
No final, esta questão, creio eu, irá se resumir muito mais ao lado financeiro desta empreitada, que atualmente desfavorece o entusiasta ou fã de cinema. É claro que, no dia que este tipo de equipamento cair de preço, se cair, a decisão de investimento se tornará automaticamente irrelevante.
Da mesma forma como o então miraculoso e financeiramente inatingível processador Intel 486 DX2 de 66 MHz desabou em curto espaço de tempo, financeira e tecnologicamente, um salto no escuro para uma tela QFHD poderá seguir o mesmo caminho. Até porque, a meta a ser atingida é, de fato, 8 K, pelo menos por enquanto. [Webinsider]
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Leia também:
- O primeiro filme em CinemaScope
- A verdade nua e crua sobre o Blu-Ray 3D
- Calibração de televisores
- Perspectivas para o áudio de alta resolução em um futuro próximo
- Anatomia de um Blu ray player
- Processadores de áudio
- 2001, Uma Odisséia No Espaço
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
10 respostas
Olá, Rogerio,
Não creio que seja nada relativo a processamento de imagem. As TVs hoje são integradas por DLNA, que é um subset do UPnP (Universal Plug & Play), com o objetivo de facilitar a sua integração com uma rede local e dela com a Internet. Mas, para tal, é preciso rodar aplicativos escritos para este tipo de interface.
Você está certo: é mais provável que kit se preste para rodar programas do que para melhorar alguma coisa na imagem. Mas, de qualquer forma, é preciso esperar para ver se não há alguma modificação de última hora.
Se vale a pena ou não investir, creio que tudo depende da extensão de uso que você quer para a sua TV.
Mestre Paulo tudo bem ?
Tenho dúvida sobre um tema relativo ao sistema Smart Evolution Kit da Samsung que será lançado no mercado Brasileiro no mês que vem (maio).
Você saberia dizer se esse acessório que inclui (dentro desta caixinha) um processador quad core, e mais capacidade de memoria; tudo isso quando conectado diretamente na placa mãe através do soquete externo, permitira alguma melhoria na imagem, ou talvez um incremento na visualização da imagem dos filmes em Blu-Ray ? Ou é só firulas para transformar a TV num Tablet gigante
para acessar todos aplicativos mais rápido pela internet Obrigado e um abraço.
Paulo,
Estive aqui na coluna há uns 15 dias quando comentei sobre o filme “O Hobbit”, que seria apresentado em 48 frames p/seg numa sala de S.Paulo.
Fui lá e o espetáculo em Imax 3D na Cinépolis é muito bom. Creio que a imagem em digital, com duas objetivas já não fica a dever à película. Seria 4k de resolução?
Os olhos do personagem “gollum” é um prodígio de criação.
O áudio também é perfeito. Um “monte” de caixas nas laterais da sala, ao fundo dão riquesa ao filme.
Só tenho uma ressalva: a legenda é sempre apresentada no primeiro plano do 3D. E, no momento da leitura “perde-se” algo dos outros planos.
Vale a pena destacar a sequência em que os personagens Galdalf, Galadriel, Saruman e Helborn confabulam. A perfeição de detalhes é coisa de arrasar!
Boas festas e um grande 2013!
Oi, Celso,
Obrigado. Boas Festas e um ótimo 2013 para você e para todos os leitores que acompanham esta coluna!
Não pude sequer fazer planos para ir ao cinema estes dias, só Deus sabe como é que anda a minha rotina de trabalho ultimamente. É bastante provável que eu não veja Hobbit e nenhum outro filme que esteja passando, mas concordo que tecnicamente é uma novidade interessante. Confesso também que não estou dentro do bando de fãs que adoram os filmes congêneres do Peter Jackson. Eu tenho a trilogia anterior toda em Blu-Ray, só consegui assistir uma vez e nem penso em trocar pela versão estendida. Talvez por isto tenha feito corpo mole também.
Por outro lado, o que eu perdi foi a chance de ver no cinema o efeito da cadência de 48 qps, muito criticada pela aparência de vídeo que muitas argumentam ver. Mas, estas coisas a gente precisa ver antes de aceitar qualquer crítica, não importa de onde venha.
Oi Paulo
Tenho um problema que começou a ocorrer há umas três semanas. Enquanto os outros canais Telecine estão normais, o TCCult está apresentando uma imagem menor (barras no lado esquerdo e direito, além de em cima e embaixo). Até mesmo o TCM que também exibe filmes antigos não está assim. Como me livrar disso? A operadora como de praxe não resolve nada.
Abraço
OI, Aldir,
Na minha área o Tele Cine Cult está sendo transmitido em 16:9, imagem padrão (480i), preenchendo portanto a tela totalmente, mas forçando a inserção de barras em telas 4:3. É bastante provável que na sua área também, já que o sinal é gerado em um lugar só.
Você não informa que tela você usa. Se for 4:3, a imagem estará correta. Mas, de a sua tela for 16:9 e não 4:3, eu sugiro que você verifique o setup da saída de vídeo do seu receptor/decodificador e mude para 16:9 nos campos de ajustes indicados.
Fora isto, só mesmo solicitando uma visita técnica ao provedor.
Olá, Rogério,
O seu comentário é muito oportuno, e revela facetas da indústria que pouca gente conhece.
Inicialmente, sobre a questão de preços, eu entendo que seja em parte oportunismo de faturar um a mais, dependendo do produto, ou então falta de defesa do fabricante em se livrar de impostos de importação, sobre o que nenhum de nós poderá condená-los, concorda?
O mercado de informática, por exemplo, é um dos mais tortos deste país. Todo mundo que frequentou o edifício Avenida Central (no centro do Rio), desde os seus primórdios, cansou de ver sacoleiros entregando componentes nos estandes e recebendo em dólar, na frente de todo mundo. Mas, foi assim que nós conseguimos montar máquinas a preços abordáveis ao longo dos anos, infelizmente sem proteção ou garantia alguma.
A nós consumidores este tipo de aventura não interessa. Mas, também não interessa pagar cerca de 3 a 4 vezes o valor do mesmo componente lá fora, por conta de distorções do mercado.
Se a Samsung lhe devolveu o dinheiro, pelo menos eles foram éticos. Acho que os fabricantes reconhecem implicitamente as limitações do mercado local.
Agora, a Tv de 4K está por aí à venda, se você não se importar em jogar 40 mil na loja. Tecnologicamente, qualquer avançp é bem vindo, mas este me parece um pouco exagerado diante da realidade de distribuição de mídia.
Veja bem: os anos se passaram e o preço dos discos Blu-Ray continuam nas alturas, sem a gente saber por que. Agora, imagina que uma mídia 4K seja viável. A que preço ela vai chegar nas nossas mãos? E se chegar, diante das telas de 55 a 60″, vai trazer algum benefício a curto prazo? Eu tenho as minhas dúvidas.
Porque existe muito a ser explorado na mídia Blu-Ray. Repare que nem todo disco tem a qualidade que merece. Entre outras coisas, está a masterização de qualidade comprometida com a economia de quem lança, e isto, meu caro, não há mídia de alto desempenho que dê jeito.
Eu acho que a gente tem que dar tempo ao tempo, e ver como o mercado vai caminhar. Principalmente, no que tange a oferta de mídia, Aí sim creio que nós poderemos tirar alguma conclusão a este respeito. Mesmo que o mercado estacione, a nível de pesquisa eu não acredito que a tecnologia de vídeo vá parar em 4K.
Olá Mestre Paulo
Bem eu queria começar meu comentário abordando um tema sobre esta matéria.
É a falta de investimento da indústria de eletrônicos aqui no Brasil, que nos trata como consumidores “tupiniquins” de 3ª categoria. A algumas semanas troquei meu aparelho de TV, que tinha comprado no começo de 2007 (lembra que havia comentado com você Paulo sobre ela), que eu tinha substituído por outra da mesma marca, e depois de duas semanas usando sabe o que fiz ? Escrevi uma carta ao Vice Presidente da Divisão de Eletroeletrônicos da Samsung do Brasil Sr. José Fuentes Molinero Jr, relatando minha lamentável experiência ao adquirir uma TV recém lançada por esta marca (modelo 55ES6000), que mais parecia um Fusca 1300 no seu desempenho, mas que possuia um design de New Beatle. Resultado:
(ACREDITE) O próprio Sr. Molinero me ligou e me ofereceu o reembolso do valor pago pela TV. Diante do exposto nada mais me restou que não fosse pular do barco, e abandonar esta marca de TV (pois pensei que eles me ofereceriam um modelo de série superior para compensar minha decepção com o modelo adquirido). Depois deste evento comecei a peneirar novamente as Tvs que mais me interessavam. Mas um detalhe me decepcionou (novamente), as “melhores” TVs (acima de 55 pol.) que a industria de eletroeletrônicos nos oferece aqui, são os modelos básicos vendidos lá fora e a preços estratosféricos ! Agora Paulo voltando ao assunto do tema desta matéria me diga, o que você acha que vai acontecer com a chegada das primeiras 4K por aqui ? Para mim vou dar um tempo, pois tem uma hora que você cansa de correr atrás do prejuízo, pois essa ciranda das TV’s de 4K, não vai parar por aí, pois os nossos players de Blu-Rays acabarão ficando defasados diante da resolução destes novos paineis. E diante disto vou ficar com meus Blu-Rays e minha nova TV. Já tá de bom tamanho para meu bolso.
Um abraço Paulo, e boas festas para você e sua família.
Oi, Tresse,
Resta saber se vai ser possível transmitir a 4K em um futuro próximo, porque atualmente a imagem não chega nem a 1080p.
Paulo, parabéns por ter introduzido o 4K para todos nós. Na feira da SET de agosto desse ano havia uma demonstração de imagem 8K(7680×4320). Parecia irreal. O New York Center, no Rio, já tem duas salas em 4K; demorou por causa da lente. O Japão já transmitiu 4k (parece que também 8K, não tenho muita certeza no 8K) em canal de 6Mhz e a Globo já tem produtos em 4K. Acho que vão criar um novo DNA; com o atual não dá.