Previsões para o jornalismo digital em 2013 – Parte I

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Com Luciene Santos.

Sete especialistas de vários setores ligados à mídia foram ouvidos pelo site jornalism.co.uk afim de partilhar tendências para o jornalismo digital em 2013. São figuras-chave de importantes jornais do mundo, como The New York Times, The Daily Post e Wall Street Journal  e de agências de notícias, como o fundador da Storyful e o gerente da FT.com. Completam a lista o presidente da British Association of Online Publishers e um acadêmico da Universidade de Lancashire.

As previsões giram em torno de dispotivos mobile, paywalls, plataformas de mídia social e propaganda em suportes online. Segundo Alison Gow, editor de ferramentas sociais do DailyPost.co.uk, o uso de ferramentas digitais vai tornar “o trabalho nas redações mais eficiente”. Atualmente, a sua equipe usa uma série de ferramentas “para tentar levar a notícia até as pessoas em caso de uma quebra na sequência dos fatos durante uma cobertura”.

Essas ferramentas incluem Geofeedia, Spundge, Twitter Search, Instagram e feeds RSS. Para desvendar, por exemplo, o que os internautas estão falando quando ocorre uma quebra da história (stand-out), e “potencialmente trocar informações com usuários que estão em cima cena”, ilustra Gow. O hall de ferramentas, que farão parte do cotidiano das redações, vão desde apps de identificação de imagens até motores de busca em redes sociais.

Ao cobrir a história de inundações no Norte do País de Gales, a equipe de Gow utilizou ferramentas sociais de busca para identificar onde as coisas estavam realmente acontecendo. “Foi necessário saber quem estava twittando ou postando vídeos sobre o assunto em pauta, para entrar em contato e iniciar uma conversa no intuito de ajudar as pessoas a contar a notícia de uma forma colaborativa”, conta Gow.

Notícias focadas na comunidade

Na esteira das redes sociais, Aron Pilhofer, editor de notícias interativas do The New York Times, adianta que a sua equipe irá focar muito em histórias centradas na comunidade. A ideia é criar uma espécie de espaço de diálogo baseado em comunidades engajadas, permitindo um maior flerte entre conteúdo gerado pelo usuário, mídias sociais e comentários.

Com base em dados jornalísticos, “a iniciativa almeja atingir o ponto em que seja possível criar novas formas de se produzir notícia”, acredita Pilhofer. O New York Times já tem feito essas experiências no blog Well. Lançado em 2010, o projeto Sua vida depois do câncer será atualizado este ano para incentivar os sobreviventes do câncer a compartilhar fotografias de si mesmos.

“Apesar de terem sido editados por nós, os dados vieram de leitores e foram uma peça muito marcante no jornalismo produzido atualmente pelo New York Times”, diz Pilhofer. Outra novidade é a migração de mais especialistas de fora do jornalismo para dentro das redações. “Estão realmente vendo uma redefinição do que seja jornalista e os tipos de habilidades e competências necessárias para passar para o mundo digital”, prevê Pilhofer.

São habilidades que a maioria das startups ligadas à web considera essenciais para a longevidade de seu negócio, para a compreensão de seus leitores, para entender melhor os seus clientes. São coisas que só agora começam a virar rotina dentro do universo das redações. Gente do quilate de Mike Bostock, especialista em visualização de dados que, ao mesmo tempo, é artista gráfico, analista e codificador de dados.

Jornalismo com responsabilidade

O professor de jornalismo François Nel, do Programa Líderes da Universidade Central de Lancashire, acredita que “uma das palavras-chave que vão marcar o jornalismo digital em 2013 é “responsabilidade”. Afinal, segundo ele, tem se falado muito ultimamente sobre as responsabilidades – e até mesmo sobre as irresponsabilidades – praticadas por organizações de notícias em todo o mundo.

Do outro lado dos muros do broadcasting também vai haver um forte debate sobre as responsabilidades dos consumidores de notícias digitais. “Não é claramente responsável, ou sustentável, para usuários de quaisquer bens ou serviços não esperar algo em troca de nada”, alfineta Nel, sobretudo, diante de notícias vendidas com conteúdo vazio. Segundo ele, grande parte da mídia tradicional ainda vai continuar pressionada pelo poder de anunciantes em 2013.

Contudo, Nel adverte que os consumidores de notícias digitais estão mais cientes de sua corresponsabilidade no jogo das notícias. De uns tempos para cá passaram a perceber que contribuem de forma direta para o custo das notícias. E isso obriga os editores a produzir informações que realmente interessam a seus leitores. Nel acredita ainda que a”capacidade de resposta” será outra expressão de grande demanda este ano. E, por conta disso, é provável que as organizações de notícias registrem um crescimento de suas atividades em dispotivos mobile.

No ano passado,  já houve ocasiões em sites de notícias, como The Guardian, em que foi registrado mais tráfego via celular que na área de trabalho em alguns momentos do dia. Com o crescimento exponencial de smartphones e tablets, o desafio para as grandes organizações de notícias não será apenas pensar como converter o seu conteúdo para uma crescente variedade de dispositivos móveis.

“Executivos visionários não vão apenas se concentrar em como trabalhar melhor em 2013, mas também como fazer com que pessoas mais inteligentes ao redor do planeta possam trabalhar para eles ou com eles”, ressalta o professor François Nel. Nesse sentido, as organizações de notícias estão cada vez mais convencidas de que precisam promover mudanças nas formas de produção, consumo e publicação do conteúdo.

De que seu futuro vai depender não apenas da redução de custos e de investimentos em novas tecnologias digitais. Mas, também, da sua capacidade de atrair e desenvolver novos talentos. Outra questão gira em torno da “sustentabilidade” do conteúdo narrativo. Para John Barnes, presidente da British Association of Online Publishers (AOP), este será um dos grandes desafios para os editores de notícias.

“Os anunciantes querem mais prêmios de qualidade de conteúdo e sites comprometidos com o conteúdo de qualidade.” Há um perigo na forma como o mercado está sendo conduzido, quando “grandes unidades de publicidade” interrompem a experiência de leitura do usuário. Segundo Barnes, cada vez mais colocamos em perigo a criação de valor que ostetam nossos editores premium. Afinal de contas, em se tratando de mídia, o conteúdo que realmente interessa continuará sendo o diferencial que monetiza. [Webinsider]

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Geraldo Seabra, (@newsgames) jornalista e professor, mestre em estudos midiáticos e tecnologia, e especialista em informação visual e em games como informação e notícia. É editor e produtor do Blog dos NewsGames.

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