A ocorrência de protestos de grandes proporções, em diversas cidades de um país de dimensões continentais, não é exatamente um fenômeno novo, nascido da internet. A história recente do Brasil oferece dois bons exemplos de manifestações grandiosas: o movimento das “Diretas Já” e a campanha pelo impeachment do presidente Fernando Collor.
O que distancia estes dois exemplos do que se viu nas ruas do país nas últimas semanas é a forma como eles foram organizados: sem o auxílio de líderes ou agremiações políticas consagradas; sem nem mesmo permitir que se identificasse, com clareza, liderança alguma.
Se, antes, os partidos então de oposição – notadamente o PT – foram os grandes articuladores das passeatas pelo impeachment de Collor, agora amargaram uma posição tão marginal que seus militantes chegaram a ser expulsos de algumas manifestações.
Quem acompanha de perto as redes sociais pode ter se surpreendido com a proporção do fenômeno offline. Mas certamente não se surpreendeu com o estilo e a forma. A variedade de pautas e reivindicações que tomou as ruas do país reproduz, quase fielmente, as timelines das grandes redes sociais – em especial, o Facebook e o Twitter. E, como acontece nelas, houve espaço para a expressão de muitas causas – ainda que somente algumas tenham conquistado a adesão do senso comum.
Os movimentos que agora presenciamos escolhem suas lideranças ao sabor do momento. A maioria delas tem duração efêmera, a depender da ocasião. É uma nova forma de relação com o poder, herdada da internet, onde perfis de usuários podem ser lançados, de uma hora para outra, do anonimato à fama – e, depois, novamente ao ostracismo.
No que diz respeito à organização a internet é mesmo a grande protagonista: sumiram os panfletos, as chamadas de rádio e televisão, e os carros de som. Entraram em cena os tweets, as páginas de eventos do Facebook, os e-mails, e as mensagens de WhatsApp e SMS. Tudo instantaneamente, proporcionando uma estrutura de comunicação, simples e gratuita, capaz de levar, em poucas horas, milhares de pessoas a ocupar as ruas das principais cidades do país.
Outra vez: quem acompanha de perto as redes sociais não se surpreendeu com tamanha capacidade de mobilização. Mas se é verdade que há mais de uma década nenhum movimento político passa longe da internet, também é verdade que só agora alguns se deram conta disso.
Muitos magos do marketing político televisivo, por exemplo, foram pegos de surpresa por uma onda à qual sempre deram pouco crédito. Todavia, não se pode condená-los de forma implacável porque, na verdade, ninguém pode ver com clareza aquilo que insiste em ignorar, em fazer de conta que não existe.
O que aconteceu, e talvez não tenha sido percebido pela maioria dos marqueteiros políticos, foi que na última década a televisão aberta veio, paulatinamente, perdendo sua força – tanto para a internet quanto para a TV a cabo. Aliás, a internet já é a mídia líder para o público de até 25 anos.
Então, inicialmente ignorada pelo marketing político e, mais adiante, tratada como um apêndice desconectado do corpo discursivo das campanhas – quando não um mero replicador deste – a internet acaba de mostrar ao Brasil toda a sua força política.
Uma força de incontestável protagonismo e independência, aparentemente caótica, mas passível de interpretação para quem tem intimidade com ela. Uma força que, a despeito da conjuntura, será imprescindível na política e no processo eleitoral de 2014. [Webinsider]
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Luiz Alberto Ferla
Luiz Alberto Ferla é CEO do DOT digital group, considerada uma das 100 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil/2014.