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Os rolezinhos tomaram os shoppings das cidades. O “fenômeno” foi esmiuçado por jornalistas, sociólogos, antropólogos e ganhou ares de manifestação política, coisa que certamente não é.

De fato, jovens da periferia representam hoje uma grande massa de consumidores. Segundo o Instituto Data Popular, o Brasil tem hoje cerca de 31 milhões de jovens entre 16 e 24 anos. A renda dos considerados “classe média” (ganham entre R$ 320 e R$ 1.120 ao mês) é superior à dos jovens das classes alta e baixa somadas.

Para esta geração, a busca pelo reconhecimento e ascensão social se dá pelo que possuem, em especial objetos de marca. Assim, nada mais lógico do que promover encontros nos paraísos de consumo atuais, os shopping centers.

Estes jovens ouvem funk ostentação e compram roupas de grifes caras. A indústria do consumo sabe muito bem como seduzir a partir da imagem, usando técnicas publicitárias para dar uma “alma” para um objeto vazio de sentido. Enrolados por marqueteiros e uma política de crédito fácil, os jovens caíram numa armadilha perigosa: a armadilha da aparência, do ter antes do ser.

Não por acaso, as redes sociais, em especial o Facebook, são a praia onde acumulam seguidores, templo do ego, do selfie, a linha do tempo da vaidade. Não basta comprar, é preciso ter uma vitrine, mesmo que virtual, para exibir e compartilhar as conquistas materiais.

“Além de ser um excesso e um desperdício econômico, o consumismo também é, por essa razão, uma economia do engano. Ele aposta na irracionalidade dos consumidores, e não em suas estimativas sóbrias e bem informadas; estimula emoções consumistas e não cultiva a razão.” Zygmunt Baumann (sociólogo – 1925 – )

Os rolezinhos e a cultura do consumo nos colocam diante de uma crise do ser, dos reais valores que formam o caráter e definem as relações humanas. A vida não é um desfile, uma passarela da moda. Ainda há tempo para deixar de acreditar que um tênis e um boné possam ter um significado além da simples utilidade: calçar o pé e cobrir a cabeça. [Webinsider]

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Avatar de Ricardo Murer

Ricardo Murer é graduado em Ciências da Computação (USP) e mestre em Comunicação (USP). Especialista em estratégia digital e novas tecnologias. Mantém o Twitter @rdmurer.

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