A relação do trabalho com o bem estar físico e emocional tem sido muito estudada e difundida nos meios de comunicação. Dezenas de novas pesquisas mostram a importância de os gestores se preocuparem com ações de responsabilidade que promovam um ambiente saudável e, logicamente, mais produtivo. Se isso já é alvo de tantos estudos, imagine quando se trata de pessoas que trabalham por meses ou anos longe de casa?
Profissionais que vivem em alojamentos, como os que atuam nos setores de mineração, construção civil, infraestrutura, petróleo e agronegócios necessitam de ainda mais atenção por parte das empresas. Eles passam longos períodos em um ambiente provisório, diferente do habitual. E não é difícil encontrar abusos e descaso por parte das corporações. São frequentes as notícias de operações e autuações pelas autoridades competentes.
Recentemente, uma ação de fiscalização do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego flagrou 16 trabalhadores da construção civil sem registro em carteira e alojados em um estábulo na cidade de São João da Boa Vista, em São Paulo. No local foram improvisadas paredes de compensado de madeira. Os jornais noticiaram que havia superlotação, falta de condições sanitárias, risco de incêndio, falta de armários e roupa de cama, e os beliches tinham estrutura precária. Havia queixas sobre a presença de ratos e outros animais, o que aumentava o risco de doenças. O local foi interditado e as devidas medidas judiciais foram tomadas.
Todavia, mesmo as empresas que mantêm tudo na legalidade ainda precisam dirigir mais atenção para esse tipo de profissional. A distância da família, do lar, dos amigos e da cidade natal é um fator de grande influência no comportamento e na saúde dessas pessoas.
É preciso levar em consideração diversos aspectos que levam à qualidade de vida. Segundo o renomado psicólogo americano Abraham H. Maslow, o ser humano precisa satisfazer diversas necessidades para se sentir pleno. Entre elas estão as fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e autorrealização. Por isso, é muito importante avaliar os todos os aspectos sociais, psicológicos, ergonômicos e ambientais que a empresa proporciona a estes funcionários.
Os custos da má gestão desses parâmetros envolvem perdas muitas vezes irreversíveis. Em locais assim observa-se o aumento de gastos com segurança, conflitos com sindicatos, a rápida depreciação de equipamentos e das instalações. Outras perdas são associadas a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, o que compromete a produtividade e o capital reputacional da empresa.
Para solucionar os desafios inerentes à sustentabilidade de assentamentos humanos, em diferentes setores da economia, existe uma metodologia denominada Livability, desenvolvida na Erasmus University (Holanda). O método, que acaba de chegar ao Brasil, inclui visitas em alojamentos, entrevistas qualitativas com trabalhadores, membros influentes da comunidade e do governo local. São realizados também grupos focais para estimular o diálogo e facilitar soluções horizontais para questões mais emergentes. Nesse passo busca-se entender os impactos gerados no indivíduo, no nível social e organizacional. São levantados indicadores psicológicos, de saúde, socioeconômicos e de ambiente.
A partir desse diagnóstico é obtido um mapa da relação da empresa com o seu empregado e a comunidade na qual se localiza o alojamento, com uma análise de riscos e planos de ação integrados. Com isso, é possível obter recomendações relacionadas às problemáticas da “habitabilidade” de alojamento. Por ser uma pesquisa ativa, o trabalho também aproxima a empresa de seus trabalhadores e fomenta o diálogo com sindicatos, facilitando a gestão e possibilitando a ampliação da rede de relacionamento e de associações ativas.
Esta abordagem gera uma infinidade de benefícios, como a redução dos custos no longo prazo, o aumento da produtividade, além da manutenção de uma boa reputação diante do trabalhador, da sociedade e dos investidores. [Webinsider]
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