Imprensa que manipula fotos está perto da falsidade ideológica

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A imprensa é considerada o “quarto poder” por sua força, influência e capacidade de interferir no poder. Também diz-se que, sem ela não há democracia. No entanto, ela também sempre foi e é vista com temor e a profissão de jornalista é uma atividade de alto risco, principalmente quando o profissional retrata suspeitas sobre os poderosos – sejam eles da alta ou da baixa sociedade.

A organização Repórteres sem Fronteiras (RFS), com sede em Paris, apurou que no ano passado o Brasil teve cinco jornalistas mortos, passando o México (duas mortes) e a entidade contabiliza 114 jornalistas feridos em suas atividades neste período.

No entanto, a manipulação dos fatos, seja nos textos e imagens, é uma das reclamações dos cidadãos, quando perguntados sobre sua opinião sobre a Imprensa. Atualmente, os casos de alterações no conteúdo vêm sendo divulgados nas redes sociais e ganham críticas e defesas raivosas.

A mais recente delas é uma reportagem de uma revista semanal líder que publicou uma foto de ativista dos protestos relacionados aos Black Blocs, retratando-a como sendo a “fada da baderna”. A matéria era sobre Elisa Quadros, mais conhecida como Sininho, que se tornou conhecida em todo o país após o episódio da prisão dos acusados de ter disparados o rojão que matou o cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago de Andrade.

A imagem em questão, manipulada com software de edição de imagens, mostra a ativista caminhando calmamente à frente de uma manifestação violenta, supostamente do Black Blocs. São duas imagens fundidas em uma só: uma das fotos originais de Sininho nada tem a ver com as cenas de conflito com a polícia e a mostra caminhando calmamente pela calçada, tendo ao fundo um carro de uma emissora de TV. A segunda imagem utilizada na montagem é de um conflito.

Este tipo de montagem é tratada como “arte” pelas redações para realçar um fato relacionado à sua matéria, que neste caso Sininho está à frente de manifestações.

O que pode parecer uma inocente montagem de fotos para ilustrar uma reportagem pode, na verdade, dar outro sentido à realidade. Mesmo que a publicação semanal traz na página a informação de assinatura da foto, como sendo “montagem sobre fotos”, o resultado ao primeiro impacto é falso.

Muitos editores possuem o hábito de publicar fotos em ângulos previamente pensados para sugerir situações inusitadas, engraçadas, críticas, sejam elas contra ou a favor do assunto retratado. Uma das fotos famosas é do general João Batista Figueiredo, chefe da ditadura militar que se apoderou do poder no Brasil, registrado com um quepe militar acima de sua cabeça, quando, na verdade estava sem farda e de terno. A foto “brincava” com o fato do “presidente” ser um “militar”. O que era verdade mesmo.

Muitos de nós lembram da manipulação da imagens do debate entre Collor e Lula, promovido pela Rede Globo, e que afetou os resultados das urnas daquele ano.

Na última semana, as redes sociais foram impregnadas de imagens de um suposto carro do governo estadual de São Paulo trafegando na faixa exclusiva de ônibus, mas com legenda afirmando que se tratava de carro oficial do prefeito da capital, São Paulo. O objetivo era o de atacar o prefeito, que aumentou o número de faixas exclusivas para os ônibus.

Assim como a manipulação das imagens do debate Collor versus Lula – que teve a confissão de Boni, o poderoso, à frente do jornalismo da Rede Globo naquela época – este tipo de manipulação de informação ou imagens pela Imprensa, blogueiros e colunistas profissionais, amadores, eventuais ou oportunistas de plantão, poderia ser muito bem tratada como “falsidade ideológica”.

No entanto, em nome da Democracia, é apenas tratada como arte, liberdade de expressão, opinião e liberdade de imprensa. [Webinsider]

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Wilians Geminiano é editor da FonteMidia Americas.

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