Cursos de curta duração precisam equilibrar teoria e prática

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Há mais ou menos treze anos, as grades curriculares dos cursos superiores de tecnologia (os populares “curta duração”) eram vistos como sucintas demais para atender as necessidades impostas pelo mercado de trabalho daquela época. No entanto, a dinâmica dos fluxos de informação, o desenvolvimento das tecnologias e a necessidade de aprimoramento produziu um efeito reverso e esta modalidade de ensino é bem-vinda no atual mundo corporativo.

Em contrapartida às novas exigências, muitas empresas defendem erroneamente a ideia de que “a teoria não é relevante e o que interessa de verdade é a prática”. Neste contexto em desequilíbrio, é plausível refletir sobre a importância do aprofundamento da teoria da administração nos cursos tecnólogos de gestão.

Etimologicamente, as palavras administração e gestão são sinônimas, pois ambas significam o ato de gerenciar, gerir ou administrar. Todavia, o estudo da administração de empresas é extremamente complexo e exige uma assimilação que vai além dos processos contemporâneos.

A administração de empresas está inserida no campo das ciências sociais aplicadas e se estende à outras áreas do conhecimento. Por exemplo, um médico que precisa “administrar” um medicamento à um paciente ou um professor que precisa “gerir” os problemas que envolvem uma sala aula.

Segundo Chiavenato (2005, p.4),

A administração cresceu e tornou-se uma ciência, uma técnica e uma arte: ela é uma ciência com princípios bem definidos e um corpo de conhecimento científicos e devidamente codificados, uma tecnologia que produz ferramentas de utilização para obter resultados e uma arte em lidar com situações concretas e abstratas.

Inúmeras transformações ocorreram até sua consolidação como ciência. Se nos dias de hoje há uma vasta gama de cursos de gestão ofertados pelas instituições brasileiras, podemos dizer que a teoria da administração contribuiu significativamente para que o aluno escolhesse a formação que mais se adequasse ao perfil de atuação profissional.

Partindo dessas premissas, é fundamental compreender que as teorias da administração de empresas são bases de todo pensamento administrativo contemporâneo e sem uma profunda análise e reflexão, não entenderemos de que forma alguns problemas como a valorização de funcionários (Escola das Relações Humanas, de Elton Mayo) ou cadeia de processos administrativos (Escola da Administração Científica, de Frederick Taylor) são solucionados no seio empresarial.

As corporações não enxergam a teoria como a norteadora da visão estratégica e motivam seus universitários a buscarem apenas o “diploma”. Ora, toda essa dinâmica rotula a teoria da administração como uma disciplina chata e obsoleta.

O ministro Celso Furtado, um dos maiores (senão o maior) pensadores econômicos do Brasil, afirmava já na década de 50, que os problemas do nosso país estavam ligados à estrutura e à falta de planejamento. Para ele, era importante entender a problemática de um determinado assunto para depois executar uma ação.

Portanto, para ser um grande administrador é essencial mergulhar na ênfase das tarefas (Taylor), da estrutura organizacional (Fayol e Weber), das pessoas (Elton Mayo e Kurt Lewin, o pai da ‘dinâmica de grupo’), da tecnologia (Joan Woodward), no ambiente (James D. Thompsonn), das competências e competitividade (Porter, Drucker, Prahalad).

Se o indivíduo recorre à um curso tecnólogo em gestão é porque ele tem necessidade de conciliar a prática e teoria em curto prazo de tempo. Em razão disso, está mais do que na hora das empresas e universidades equilibrarem esta equação e enfatizar a importância da teoria da administração nos processos contemporâneos de gestão.

Seria tolice minha afirmar que a prática não é importante. Porém, a prática sem a teoria esvazia a matéria e congratula com a ignorância dos falsos doutores.

Referências

CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 2011. Rio de Janeiro, Ed. Elsevier. [Webinsider]

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Rafael Souza Coelho (rafaelcoelho.consultor@gmail.com) é consultor e professor universitário.

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