A América Latina está vivendo um movimento continental anti-liberal, que ataca dois pilares da sociedade moderna: a livre iniciativa e a alternância de poder.
São movimentos que questionam, no fundo, as bases da sociedade moderna criadas com as revoluções liberais do final do século XVIII, que tinham como objetivo reduzir o poder do rei e dos senhores feudais.
Nada de lá para cá se mostrou mais eficaz para se colocar no lugar, apesar de várias tentativas no campo comunista, que, no fundo, eram um retorno a um pensamento medieval, religioso e totalitário de controle da sociedade, exercido, até então, pela igreja.
As inimigas
Há, entretanto, a concentração tanto da livre iniciativa e da alternância de poder que deram uma falsa impressão que elas eram as inimigas.
Criou-se uma cultura anti-liberal no continente pós ditaduras, onde as propostas comunistas (com colorido socialista) apareceram como mocinhas e o liberalismo como o grande vilão da história.
O que era algo apenas latente, ganhou força com a vitória de Chávez há 15 anos na Venezuela, que resgatou algo perdido, que é a proposta de um mal costurado e confuso “socialismo no século XXI”, que ganhou consistência com a criação em 1990, do Foro de São Paulo.
O Foro marca um esforço coordenado dos partidos anti-liberais da América Latina, que passaram a se articular de diversas maneiras, inclusive financeira.
O movimento neopopulista anti-liberal latino-americano atinge diversos países com um discurso anti-liberal com mais ou menos intensidade no viés comunista.
Aonde o Estado manda no PIB (Venezuela e Bolívia) vai se ouvir dos líderes a defesa do “socialismo do século XXI”. Aonde o Estado depende da livre iniciativa, vai se ver um discurso mais difuso, com ações anti-liberais.
Assim, podemos dizer que o neobolivarianismo (já que Bolívar não tinha nada de comunista) é a defesa explícita do socialismo do século XXI. E que é um viés do neopopulismo geral, que tem como marca o anti-liberalismo.
O populismo
O populismo, no fundo, é um tipo de monarquia dentro da república, onde um líder carismático ganha poderes acima das instituições, criando algo híbrido entre monarquia e república.
O populismo, assim, não é um movimento que tem um viés ideológico, mas apenas uma metodologia, de ver qual é o melhor discurso e prática para se manter o maior tempo possível no poder, sempre com projetos de curto prazo.
Não vai se encontrar nem lógica, nem coerência em um movimento populista, a não ser táticas a cada contexto para permanecer no poder, passando por cima de qualquer conceito ético ou moral.
O neopopulismo da América Latina se sente confortável com as ideologias anti-liberais, pois têm em comum o Estado forte e controlador da sociedade, principalmente, da redução do espaço da alternância de poder.
O populista define a sua moral e a sua ética e usa as ideologias disponíveis a seu bel prazer, conforme cada caso.
O neopopulismo tem se caracterizado com duas ações:
- o populismo social – todos caminham nessa direção, com políticas assistencialistas para angariar os votos;
- populismo econômico – que se abre mão dos controles conhecidos da economia sobre a inflação e gastos, como têm feito Maduro (inflação 70%), Cristina K (40%) e Dilma (6,5%).
A guinada brasileira, por exemplo, de um Ministro da Fazenda não-populista modifica o rumo para a volta do populismo apenas social e não mais também econômico, pois estávamos indo pelo mesmo caminho da Argentina.
Chile, Uruguai, Bolívia, por exemplo, estão indo na direção do populismo social com uma economia mais controlada.
A marca que podemos ver em todos os países é:
- tentativas em várias áreas para o aumento de controle da sociedade pelo Estado;
- redução forçada da pobreza, de forma rápida e não sustentável, pois os mais pobres passam a depender do Estado;
- permanência no poder, através do beligerante discurso nós (os bons) eles (os maus);
- tentativa de minar a alternância de poder;
- descontrole da sociedade sobre o Estado, aumentando a taxa de corrupção;
- visão de curto prazo, sempre tática e nunca estratégica;
- deficiência de propostas para lidar com os problemas estruturais tal como saúde, educação, segurança, crescimento com sustentabilidade, inovação.
O neopopulismo vive em 2014, com a eleição da Bolívia, Uruguai e Brasil, a meu ver, seu momento máximo e o início do fim, pois o que estão prometendo não está sendo entregue.
Navegaram na época de ouro das commodities, quando conseguiram manter um projeto populista social, sem quebrar com a economia. Agora, as duas coisas ficarão cada vez mais incompatíveis.
O risco
Solução? Como vimos no Brasil em 2014, um aumento cada vez mais radical de táticas de manipulação de todo tipo nas campanhas eleitorais ou de fechamento do regime, como tem sido feito na Venezuela.
A primeira derrota anunciada do neopopulismo será, a meu ver, na Argentina, em 2015, começando um processo em dominó ao longo da próxima década, com reflexos nas eleições intermediárias
O risco que temos é sair do neopopulismo com viés comunista e irmos para um outro de viés financeiro, com mais e mais concentração de poder e capital.
Temos que preparar um movimento alternativo que é o do tecno-liberalismo, em que mantemos a livre iniciativa e a alternância de poder, mas de forma mais descentralizada, via novas tecnologias, com o empoderamento real da sociedade, com mais transparência e controle do Estado pelo cidadão diretamente.
É isso, que dizes? A ver. [Webinsider]
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Carlos Nepomuceno
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