Adeus televisão, que me deixou burro, muito burro demais

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old_tvA banda de rock Titãs, que no ano passado completou 30 anos, nos trouxe um sinal de alerta faz mais de 25 anos: “a televisão me deixou burro, muito burro demais”. E naquela época nem existia o tal BBB. Já numa colocação de contexto mais radical: “adeus televisão!”, a banda Capital Inicial incitou que deveríamos mesmo era desligar o televisor.

Enquanto a letra do Titãs descreve como a programação da TV nos conduz ao cárcere: “agora vivo dentro desta jaula, junto dos animais”, o Capital Inicial nos relembra que ao surgir na tela algo que nos desagrade, temos a opção de desligar o aparelho: “se aparece o Francisco Cuoco, adeus televisão!”.

O rock irreverente, polêmico e contestador da década de 80 perdeu sua força e sua postura política com o tempo. Titãs passou a cantar Roberto Carlos, completamente inserido “dentro desta jaula”, junto com outros animais da mesma fauna. E o Capital Inicial, em especial seu vocalista, adora pousar na emissora onde ainda permanece o ator Francisco Cuoco. Sinal dos tempos!

A força da TV no passado

Não foi a primeira vez que bandas mudaram um pouco de estilo para se adequar ao mercado. A banda Plebe Rude fez uma crítica direta ao líder do Paralamas do Sucesso por sua adesão às grandes emissoras: “Vou mudar meu nome para Hebert Vianna”, anunciava a Plebe. Mas, em seu terceiro lançamento, com o título “a Selva”, a Plebe adentrou pelo programa dominical Fantástico, desagradando aos seus fãs e causando surpresa geral pelo nível de adesismo ao modelo de mídia que tanto criticavam. Tal atitude demonstra bem a força que a televisão tinha no final do século passado – ou você estava do lado dela ou ficava entregue ao esquecimento.

titasglobodeouroPor incrível que pareça, as bandas mudaram sua postura mais politizada, mas o sentido e as preocupações descritas em suas letras não mudaram ao longo do tempo, tanto que suas músicas são cantadas até hoje por uma geração que não conviveu com a abertura política e o movimento das “Diretas Já”. Titãs, Plebe Rude e Capital Inicial, alimentados pela efervescência do rock dos anos 80 e a redemocratização do País, centravam suas letras na crítica direta aos poderes mantidos pelos resquícios da ditadura, dentre eles o dito “quarto poder”: a mídia.

Elegeu um presidente

Naquela época, quem mais representava essa “ditadura da mídia” era a televisão, objeto de desejo da classe média e mercadoria que significava a alienação política para os movimentos de esquerda. Embora trinta anos tenham se passado, o poder da mídia não se reduziu e chegou a ser carimbado como protagonista pela eleição de um presidente no final da década de 90, que dois anos depois foi retirado do poder em processo de impeachment – evento político único no Brasil.

O que as bandas da década de 80 não profetizaram foi que a forma de produzir e distribuir a televisão como conhecemos está perdendo cada vez mais espaço, o que significa também uma perda de poder. A televisão que desbancou o rádio, mas nunca o superou por completo (até meados da década de 90 a televisão tinha uma frente que oscilava no máximo em 5% de audiência), hoje tem dificuldade para enfrentar a internet.

As gerações musicais pós-80, que alcançaram presença nacional pouco se envolveram com o tema e suas letras se distanciaram dos dilemas atuais da sociedade. Após a década de 90 não surgiu uma banda de destaque nacional que tratasse de forma direta o problema do poder da grande mídia.

Nos últimos cinco anos a televisão começa a sofrer com ameaças reais da internet. A última pesquisa da Mídia Brasileira 2015 (contratada pela EBC – Empresa Brasileira de Comunicação), já demonstrou que as pessoas utilizam mais a internet que a televisão e o rádio. No final do ano passado, o ex-ministro da SECOM – Secretaria de Comunicação, afirmou ao acompanhar os resultados da pesquisa, que existe uma migração “de forma consolidada para os meios de comunicação digitais”.

Alternativas

Alguns números da pesquisa evidenciam que as pessoas ficam mais tempo conectadas na internet do que assistindo a televisão. A diferença entre as duas mídias é pequena – perto de 1%, mas a internet vem em uma curva de ascensão a cada ano.

As bandas dos anos 80 nos alertaram em suas músicas sobre o poder da televisão, mas por elas se enlaçarem com a própria mídia televisiva no decorrer dos anos, não conseguiram cumprir o papel de nos apontar as alternativas que surgiram com a grande rede.

Cabe aos músicos da geração digital estimular os milhões de usuários da internet a produzirem e consumirem informação e cultura de outra maneira, já que agora qualquer pessoa pode emitir sua opinião, criar seus conteúdos, montar suas redes sociais e acessar notícias de diversas fontes. De qualquer forma, esse já é o título de uma nova canção que começa a ser entoada por milhões de pessoas na internet: Adeus, televisão! [Webinsider]

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Corinto Meffe (corinto.meffe@planejamento.gov.br) é assessor da presidência do Serpro.

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2 respostas

  1. É interessante observar as táticas que a TV aberta tem usado para manter o Ibope em programas de fórmulas gastas, como o BBB mencionado no artigo. Colocam uma série bastante polêmica e crítica, com a lindíssima Paola Oliveira, logo depois do BBB, na esperança de viciar o espectador na já manjada e caidíssima espiadinha…

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