No livro, “Mídias sociais na Organização”, da M.Books, Anthony Bradley e Mark McDonald apresentam uma pesquisa que diz o seguinte:
“Das 400 empresas entrevistadas nos Estados Unidos, que tiveram algum tipo de projeto com vistas à colaboração de massa pelos seus empregados, 10% obtiveram sucesso (teríamos que ver o que chamam sucesso), 70% são um fracasso absoluto e 20% há participação, mas não oferece valor real à organização”. (pg 45).
Os autores acreditam que é um problema metodológico.
Eu concordo, é também metodológico, mas antes de tudo é um problema filosófico, teórico, que exige uma nova metodologia.
Vivemos, com a revolução cognitiva, algo inusitado – o que podemos chamar de um movimento de governança disruptiva. O que seria isso?
Eras cognitivas definem modelos de governança da espécie
Tivemos, grosso modo, três governanças até aqui, relacionadas com o tamanho populacional.
- Governança 1.0 – até 1 bilhão de habitantes – governança oral;
- Governança 2.0 – depois de 1 bilhão até 7 bilhões – governança oral-escrita;
- Governança 3.0 – depois de 7 bilhões – governança digital.
Por que isso?
O ser humano é a única tecno-espécie do planeta, que vive em uma tecno-cultura, dentro de uma tecno-ecologia, diferente dos outros animais que vivem na ecologia.
Os outros animais são escravos de seu modelo de comunicação e governança e, por isso, não conseguem expandir a quantidade de indivíduos das suas sociedades.
Há uma relação, assim, entre demografia, comunicação e governança.
O ser humano é a única tecno-espécie e, por isso, pode aumentar seu número de membros, pois tem uma tecno-comunicação e uma tecno-Governança.
Quando crescemos, temos necessariamente que criar modelos mais sofisticados da tecno-governança e da tecno-comunicação.
Revoluções cognitivas, assim, são provocadas pelo aumento demográfico, que nos faz começar a experimentar um novo modelo de governança da espécie, mais sofisticado, que significa redução de custo e aumento de benefício na solução de problemas.
Podemos ainda dizer que há modelos de comunicação-governança para cada tamanho de espécie. E o ser humano, de certa forma, se modela com estes.
- Sonoras – espécies de baixa demografia – usam mais sons e pouco cheiro;
- Sonoras e olfativas – espécie de média ou alta demografia – usam cheiros e sons, conforme cada grupo;
- Olfativas – espécies de altíssima demografia – usam quase só cheiros.
Nossa caminhada nos levou a passar pelos três ambientes e hoje estamos começando a experimentar, devido ao tamanho da espécie, um modelo das espécies olfativas.
Ao simular grandes plataformas digitais colaborativas estamos criando rastros, que não podem ser “cheirados”, mas podem servir de guia para a tomada de decisões, muito similar às formigas.
Todos os novos negócios que estão gerando valor, de alguma forma, passam justamente pela passagem do mundo oral-escrito (sonoro) para o mundo olfativo (dos rastros). Mercado Livre, Google, Facebook, Twitter, Estante Virtual, Taxibeat, AirBnb têm em comum essa mudança da forma de se resolver problemas.
Há uma reintermediação.
- Uma espécie sonora tem um papel de líder para guiar a espécie.
- Uma espécie olfativa tem outra.
As decisões serão tomadas de outra maneira.
As organizações hoje são estruturadas na antiga governança que é tecno-culturalmente diferente da nova.
Não é pior e nem melhor, apenas foi estruturada para uma espécie que tinha um determinado tamanho. O crescimento nos obriga, por sermos uma tecno-espécie, a sofisticar.
Como proceder a passagem?
1. Ter consciência do cenário;
2. Colocar a migração para a governança digital como o principal projeto estratégico;
3. criar zonas de migração, com recursos e poder para experimentar a nova tecno-cultura, deixando, aos poucos, o antigo modelo para trás.
O problema é que estamos tão intoxicados do atual modelo, com tanta gente acostumada com ele, que ficamos tentando ver como ele continua vivo.
O resultado não é que as organizações vão acabar do dia para noite, isso é algo mais raro, mas elas vão perdendo valor gradativamente para concorrentes inusitados e quando se derem conta serão compradas a preço de banana por quem conseguiu intuir e liderar a implantação da nova Governança na sociedade.
Simples assim, complexo assim.
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Carlos Nepomuceno
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