Quanto vale a minha empresa? Esta é uma das perguntas mais comuns e ao mesmo tempo uma das mais difíceis de ser respondida ao pequeno empresário.
Neste post vamos falar das principais formas de fazer uma avaliação de valor da empresa (comumente chamado no mercado pelo seu termo em inglês, valuation), suas características e as situações mais apropriadas para utilizá-las.
A determinação do valor de uma empresa é um passo fundamental em negociações de Fusões & Aquisições. Sua aplicação principal é o estabelecimento de um valor mínimo para a venda de um negócio, se você é o vendedor, e um valor máximo para a compra, se você é o comprador.
Ou seja, uma faixa de referência que sirva de base para a negociação. Porém o exercício de valuation pode ser relevante para outras situações tais como:
- uma negociação de participação societária,
- uma formação de parceria ou joint-venture,
- uma apuração de valor para fins judiciais,
- o estabelecimento de uma ferramenta de gestão para a remuneração de pessoal (por exemplo, o pagamento de bônus à executivos conforme o aumento de valor da empresa),
- a análise de projetos de investimento e de novo negócios,
- uma reestruturação da empresa, dentre outros.
Existem diversos métodos de avaliação de valor de empresas, contudo os três mais difundidos no mercado são o fluxo de caixa descontado (FCD), a avaliação por múltiplos e a avaliação patrimonial.
Em pesquisa realizada pela Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), 88% dos entrevistados utilizam o método do fluxo de caixa descontado e 82% empregam o método dos múltiplos, sendo que 60% deles preferem utilizar duas abordagens diferentes para um valuation.
Isto é importante pois um serve de balizador para o outro, uma espécie de teste de consistência para trazer mais segurança à avaliação.
Fluxo de Caixa Descontado (FCD)
O fluxo de caixa descontado é baseado na elaboração de projeções de longo prazo dos resultados financeiros da empresa (tradicionalmente entre 5 e 6 anos). O objetivo é estimar o fluxo de caixa ano-a-ano por este período e traze-lo a valor presente através de uma taxa de desconto que reflita o risco associado ao investimento. Este método está fundamentado na ideia de que o valor de uma empresa está diretamente relacionado à sua capacidade de geração de caixa.
Suas principais vantagens são que ele capta a real contribuição financeira gerada por um negócio e que é possível alinhar expectativas em relação a diferentes cenários econômicos através da taxa de desconto. Sua principal desvantagem é que demanda a discussão de premissas e a elaboração de complexas projeções de longo prazo. É o método mais utilizado no mercado de Fusões & Aquisições.
Múltiplos
A análise de valor de uma empresa por múltiplos pressupõe que o valor de uma empresa pode ser estimado em função dos valores de outras empresas comparáveis. Ele toma como base empresas de capital aberto ou transações recentes com divulgação pública de dados em setores similares ao da empresa avaliada.
A partir desta identificação, utiliza-se como referência o valor das empresas comparáveis em relação a indicadores financeiros tais como: faturamento, margem operacional e lucro.
É possível traçar um paralelo com o mercado imobiliário, onde um imóvel pode ser avaliado de acordo com o preço por metro quadrado de outros imóveis similares na região. De maneira similar, a aplicação do método de múltiplos consiste em encontrar empresas de capital aberto ou transações recentes no seu setor de atuação, identificar o múltiplo resultante do valor associado às empresas e aplicá-los à empresa analisada.
Por exemplo, é comum empresas em setores maduros e consolidados como a indústria química, serem avaliados em torno de 6x sua margem operacional ou EBITDA (abreviação do inglês Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização). E o fenômeno das startups de tecnologia já viu transações por múltiplos acima de 20x o faturamento da empresa analisada.
Sua principal vantagem é ser um método simples de executar. Por outro lado é relativamente superficial e exige a identificação das empresas e transações comparáveis, o que nem sempre é fácil. Normalmente é utilizado como teste de consistência para o método de fluxo de caixa descontado.
Análise Patrimonial
A análise patrimonial baseia-se na estimativa do valor de venda dos ativos abatido do valor das dívidas. É um método utilizado quando o interesse é maior nos ativos da empresa do que no seu potencial de geração de resultados futuros. Embora seja relativamente simples, raramente é adequado e deve ser utilizado, já que o comprador geralmente está interessado nos resultados que uma aquisição irá trazer e não nos valores investidos pelos seus acionistas no passado. Este método é utilizado frequentemente em condições muito específicas, como em casos de liquidação da empresa.
Sua principal vantagem é permitir a avaliação de empresas em situações críticas, por outro lado a avaliação patrimonial não permite captar valores intrínsecos de ativos intangíveis como know-how, marca, etc.
Valor e Preço
É importante ressaltar que o valor de um negócio é, em última instância, definido pelo processo de negociação entre o comprador e o vendedor, e que o “valor justo” pode variar muito de comprador para comprador.
Quanto mais valor estratégico houver para um determinado comprador (por exemplo, comprar um importante concorrente e, além de capturar sua participação de mercado conseguir aumentar seus preços por exercer uma posição dominante em determinado setor), mais sinergias um comprador puder capturar (por exemplo, se uma rede de restaurantes adquire outra pode economizar mais ao eliminar funções administrativas duplicadas e capturar ganhos de escala do que se esta mesma rede fosse adquirida por um investidor que não possui negócios no setor de alimentos) ou mais compradores interessados houver em uma determinada empresa, maior tende a ser o seu valor de venda.
A recente venda do Whatsapp para o Facebook por fabulosos US$ 19 bilhões foi prova disto e será tema de um novo post em breve. [Webinsider]
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Luiz Fernando Bessa
Luiz Fernando Bessa é sócio e co-fundador da Uplann, consultoria online que assessora startups e PMEs no desenvolvimento de planos de negócio, valuation, captação de recursos e venda da empresa.