No mês passado, dia 9 de julho, eu tive a chance de participar de um evento da Epson, por cortesia da Logical Design, na pessoa do seu gerente técnico Marcelo Pereira, a quem aproveito para agradecer de público o convite.
A palestra foi dada por André Sene, gerente do Setor de Home Cinema e Alto Brilho da Epson do Brasil, e acompanhada de projeções em salas individualmente preparadas com projetores diversos.
O evento me deu a chance de acompanhar um pouco mais de perto tudo o que está acontecendo na área de tecnologia de projetores, particularmente no segmento de “high-end”, com o qual a Logical Design lida rotineiramente, e neste caso em particular, como novo representante da Epson do Brasil para o comércio de projetores.
Pelo que eu pude perceber, a tecnologia usada em projetores difere em modelo e marca, tanto na parte da formação da imagem como na fonte de luz utilizada. Logo no início da primeira palestra, o apresentador deixou bem claro duas coisas: primeiro, que a Epson está no mercado para vencer a concorrência, e segundo que a empresa esposa a tecnologia de LCDs e não a de DLPs.
A Epson entende e faz força para demonstrar que, em se tratando de tecnologia de imagem com um único componente, o LCD supera muito a performance de cor do DLP no quesito brilho (intensidade de luz), enquanto que reconhece que em aplicações com 3 chips DLP, usadas profissionalmente, o DLP ainda reina supremo. As linhas atuais da Epson cobrem desde projetores de nível do consumidor informal, passando pelos de ambiente corporativo, e chegando até os destinados para as salas de cinema.
Estão previstos um, dois, ou mais projetores na instalação de uma mesma tela, alinhados eletronicamente. O cinema comercial usa este tipo de arranjo (geralmente dois projetores em conjunto) de modo a aumentar o brilho na tela.
Do mesmo modo, um único projetor é capaz de dividir a tela em duas, da mesma forma que os adaptadores de vídeo dos computadores: o chamado recurso “Split screen”.
Flexibilização de projeção
Nos atuais modelos a capacidade de adaptação à tela aumentou significativamente: não são possíveis apenas a correção de keystone e de pincushion (“almofada”), mas as lentes novas permitem o acerto de telas que não estão niveladas ao projetor nem em planos próximos.
Uma série de lentes com a capacidade chamada de “lens shift” traz a flexibilidade de instalação desejada e eu tive a chance de ver um dos projetores de maior porte, especialmente voltado para multimídia, com este tipo de recurso. Lens shift ou deslocamento da lente significa poder modificar a posição da lente dentro do compartimento onde a lente é instalada. Na prática, significa mudar a posição da lente para cima ou para baixo, ou então para os lados. O reposicionamento tanto pode ser feito por software quanto manualmente. O ajuste de keystone, por outro lado, é feito digitalmente.
As lentes que a Epson usa podem emular diferentes relações de aspecto e guardar os ajustes na memória. Lentes anamórficas são fornecidas à parte, e segundo me informaram na ocasião, com preço bastante elevado.
Formação de imagem com o conjunto 3-LCD
Logo na primeira parte da palestra, foi feita uma comparação no processo de formação de imagem dentro do projetor, onde a engenharia da Epson preferiu, depois de longa pesquisa em laboratório, abandonar projetos com o uso de chips DLP e implementar o módulo com três chips LCD (RGB). Estes últimos são do tipo LCD reflexivo, isto é, em vez da tradicional iluminação traseira (backlight), comumente encontrada nas telas de TV, a camada de cristal líquido fica na frente de uma superfície refletora metálica, e o conjunto recebe luz de frente. Naturalmente, a luz que é emitida pela fonte passa pela camada de LCD duas vezes: uma, para chegar até o espelho e outra que volta deste último, e depois é desviada por um cristal refrator, indo parar no respectivo sensor.
Tal arranjo provou na prática ser capaz de aumentar a intensidade de luz na saída, e principalmente no tange às cores. O palestrante nos mostrou uma simulação do que os projetistas teriam encontrado nos dados do laboratório e posteriormente submetidos à análise de terceiros, que mostram uma intensidade na saída de cores com valores muito próximos da luminância total, quando comparadas ao DLP. Isto dá ao projetor uma capacidade de reproduzir cores muito vivas, e mais próximas do equilíbrio necessário para a correta reprodução da crominância da imagem.
Iluminação com raio laser e quantum dots
Os modelos que ficam na ponta da linha não usam nem fonte de luz convencional nem LEDs, e sim iluminação com raio laser:
Foi feita uma demonstração do projetor LS10000, que usa a fonte de luz com laser e com a ajuda de quantum dots, na forma de tubo, de maneira a aumentar a gama de cores e corrigir o espectro de emissão.
A adoção do raio laser aumenta significativamente a duração da fonte de luz, passando das cercas de 5-6 mil horas otimistamente das fontes convencionais para cerca de 30 mil horas, praticamente dispensando manutenção.
A manutenção do LCD reflexivo neste caso é acrescentada de uma modificação na maneira como o pixel é iluminado, sendo possível fazer um desvio diagonal do pixel, na ordem de 0.5 do valor do pixel, em tese aumentando para 2160 linhas de resolução. No entanto, é preciso observar que não se trata de 4K nativo, porque o número real de pixels não passa do valor nominal da imagem de alta definição (2K). Por isso, o pessoal técnico da Epson optou por rotular este padrão de “4K Enhancement” (Aperfeiçoamento 4K), para todos os efeitos uma imagem 4K simulada.
E esta simulação, digamos assim, pode ser ajustada em cinco níveis diferentes (4K-1 a 4K-5), a critério do usuário. O ajuste mais “agressivo” 4K-5 foi exibidos para os presentes na sala de projeção, e usando a mesma imagem, foi feita uma pequena comparação com os outros níveis e com o desligamento do recurso. Tudo nos fez crer que o ajuste máximo é o que mais se aproxima de uma imagem 4K real, muito embora somente com um material de referência próprio é que se poderia se chegar a uma conclusão a este respeito.
Processamento de imagem
O representante técnico da Epson nos mostrou que alguns modelos de projetores se beneficiam da interpolação de quadros, dentro do algoritmo ME/MC e possivelmente BFI em modelos selecionados, o que é bastante interessante.
O LS10000 inclui o software de calibração da Image Science Foundation (ISF), que facilita otimizar itens básicos como contraste, brilho, saturação, temperatura, etc. Curiosamente, o principal processador de desentrelaçamento e remapeamento é o nosso velho conhecido DCDi da Faroudja, um dos primeiros e mais promissores dobradores de linha da história da tecnologia de vídeo. Imagina-se, porém, ser de uma versão bem mais avançada.
Com a possibilidade de desligamento completo da fonte de emissão de luz, o LS10000 consegue reproduzir o preto absoluto, melhorando assim a reprodução de cores e o contraste.
Uma série de relações de aspecto pode ser programada, sem a necessidade de trocar a lente de projeção. Assim, a variação da tela vai de 4:3, passando por 16:9 e parando em 2.35:1 scope. O usuário poderá, a seu critério, fixar esta relação, para uma aplicação em um tipo único de tela, que foi o que vimos nas demonstrações.
Finalmente, não há notícia ainda da possibilidade de adoção da reprodução de imagens HDR, como por exemplo, o Dolby Vision. Mas, no momento nada existe de positivo a este respeito em telas de televisores também.
Não foi possível determinar também se o LS10000 é dotado de decodificador HEVC, mas acho pouco provável que o seja.
Comentários finais
Apesar do uso de uma fonte emissora com base no raio laser não se descarta a possibilidade de se construir um sistema híbrido, com o uso de LEDs. Neste momento, a empresa considera que o uso de LED como fonte de luz ainda não alcançou a luminosidade satisfatória, e por isso não a abraçou totalmente.
É realmente tentador, principalmente para aqueles que, como nós, montamos cineclubes ou lidamos com projetores analógicos em qualquer categoria, nos lançarmos em uma ousadia de montar um sistema de projeção de alta qualidade como este.
Além da questão financeira, que no quesito lâmpadas, ainda é um fardo pesado no bolso do consumidor, existe ainda pendente um empecilho sério no uso de projetores no ambiente doméstico: o da luminosidade do ambiente onde ele é montado! Ambientes claros são totalmente inadequados, e o máximo que se pode admitir é um certo nível de penumbra.
Sobre o aspecto de cores e de nível de preto, esses novos projetores atingem agora uma qualidade que não se conseguia antes, mesmo com aparelhos calibrados. Na minha opinião, ainda deixam a desejar, quando a imagem é comparada com uma boa tela LCD de uma TV moderna. Levando-se em conta de que é possível instalar hoje uma TV com 80 polegadas na tela, as aplicações de uso de projetores mudam drasticamente. É claro que os projetores continuarão a ter aplicações diversas e o seu principal fator de aceitação se refere à portabilidade na hora de se precisar conseguir uma imagem em tela acima de 80 polegadas.
Pode ser que os projetores high end continuem a ser apenas um sonho de consumo do usuário curto de grana por um bom tempo, mas como toda nova tecnologia, um dos seus objetivos a longo prazo é a diminuição do custo de manufatura e do preço dos aparelhos no varejo. E neste caso se espera que o tempo não seja longo demais. [Webinsider]
Leia também:
- LCD avança com novas tecnologias no backlight
- LCDs com LEDs II
- O aperfeiçoamento da faixa dinâmica das imagens de vídeo
- Efeitos da interpolação de quadros sem imagem nas TVs LCD
- O futuro dos projetores de vídeo ainda está para ser escrito
- A tecnologia das telas de TV
…………………………
Conte com o Webinsider para seu projeto de comunicação e conteúdo
>>> Veja como atuamos.
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
3 respostas
Obrigado pela gentileza.
Abraço.
Oi, Fábio,
Não tenho, porque infelizmente eu não uso e não conheço o mercado a fundo, a ponto de te dar uma orientação satisfatória.
Eu acho que você pode se orientar contactando os principais fabricantes ou as revendas de bom nível de suporte (o pessoal da Logical Design te orienta bem, e você pode inclusive falar no meu nome com o Marcelo).
Um dos problemas crônicos que você irá enfrentar é o tempo de vida curto das lâmpadas convencionais. Portanto, seria oportuno você ver o custo de uma troca, que costuma ser alto, junto com o orçamento do aparelho.
Paulo, mais um ótimo artigo, como de hábito. Vc teria algum projetor pra indicar para filmes em DVD e BD em casa, sem muita exigência técnica, sem muita capacidade de investimento, mas, obviamente, Full HD?!