Hoje eu quero falar de um assunto diferente: Arquitetura de Informação em fábricas de softwares.
A gente sabe que a área de AI está bem difundida no meio digital, dentro de agências e empresas que têm negócios digitais, mas ainda engatinha quando se fala de arquiteto de informação trabalhando com os analistas, arquitetos e desenvolvedores de sistemas.
Mas Iris, sua louca! O que é uma fábrica de software? Tem linha de montagem e tudo?
Então, angustiado e curioso leitor, para você que não está acostumado com o termo, fique sabendo que ele não é tão comum assim fora do meio. É apenas o termo que se utiliza para descrever o trabalho mais processual que existe dentro de uma empresa, para criar, gerir e desenvolver um projeto de sistemas.
Dá uma olhada na definição da Wikipédia:
“Fábrica de software é um conjunto de recursos (humanos e materiais), processos e metodologias estruturados de forma semelhante àqueles das indústrias tradicionais, utilizando as melhores práticas criadas para o processo de desenvolvimento, testes e manutenções dos softwares.”
Talvez muitas pessoas entendam que o segmento não precisa de AI por só entregar telas com formulários. Outros, mais ousados e criativos, pensam que terão suas “asas” cortadas quando sugerirem algo fora da caixa.
Realmente, talvez o meio não seja terreno muito fértil para criatividades e inovações muito diferentes, mas precisa sim da orientação da arquitetura de informação e de uma usabilidade adequada, à medida que o usuário de sistemas precisa interagir (muitas vezes diariamente) com um sistema.
São muitas as possibilidades de agregar um valor e criar uma experiência bacana para o usuário, ainda que o cliente interno seja diferente e as demandas mais dependentes de linguagens, frameworks e implantação.
Seja qual for o motivo que tenha deixado este segmento órfão de AIs, uma coisa é certa: estamos chegando lá também.
Rumo ao desconhecido
Se você procura o ambiente descolado, ideias mirabolantes e grupos que pensam em projetos com o layout sendo a parte fundamental, esqueça. Esta aventura não é para você.
O cenário de uma fábrica de software tem uma visão muito mais voltada para o desenvolvimento do sistema do que pela forma. Como ele vai funcionar, quais regras e premissas cada tela deve obedecer para se chegar ao resultado esperado e por aí vai.
Atualmente, muitas fabricas entregam sistemas com interfaces criadas pelos próprios desenvolvedores do sistema que muitas vezes entendem muito da linguagem de formatação e construção do sistema mas pouco do usuário.
É aqui que aparece o instigante desafio: criar interfaces amigáveis de sistemas e inserir a cultura da usabilidade e arquitetura da informação, bem como a própria experiência do usuário, dentro deste contexto.
Os desafios
Assim como convencemos as empresas digitais de que estávamos somando na equipe e não atrapalhando, existe o desafio de mostrar a importância para a equipe de desenvolvimento de que o arquiteto de informação, embora tenha linguagem, métodos e cognições não tão lógicas e concatenadas, ainda assim é importante pois conhece o humano (aquele carinha que vai estar acessando o sistema) e portanto, pode traduzir em forma de caminhos e clicks, uma navegação mais confortável.
Quem é o AI dentro da fábrica?
O mais interessante é constatar que, muitas vezes, o arquiteto de informação é confundido com analista de requisitos ou analista de negócios pela proximidade de alguns entregáveis gerados.
Iris! Pelamor! Que povo é esse? Calma confuso leitor, vamos conhecer esses carinhas:
Novamente, as definições:
Analista de Requisitos. É um dos principais responsáveis entre a integração e alinhamento dos clientes e a equipe de desenvolvimento de software. Identifica as necessidades do negócio, define os requisitos, escreve especificações, desenha através de protótipos os requisitos permitindo ao gerente de projetos estimar, aos desenvolvedores projetar e construir, e aos testadores testar o produto.
Analista de Negócios. Tem o papel de ligação entre os stakeholders e os objetivos organizacionais (análise e design de políticas, operações e processos) para facilitar as equipes envolvidas na criação e desenvolvimento aderente do sistema. Ele investiga os processos sistemas de negócios a fim de propor melhorias e soluções.
Se encontrou nas definições? Viu como é fácil sermos confundidos 😉
Por que eu, AI, deveria estar dentro de uma fábrica?
Vamos partir pelo princípio básico de utilização de tudo que é produto nessa vida: adaptação e facilidade de uso (a usabilidade).
Vamos pensar no usuário que vai utilizar um determinado sistema (produto digital): ele certamente já tem uma mínima vivência em internet, pois utiliza outros sites, portais e mídias sociais. Está acostumado a entrar em sites com navegação intuitiva e simples como Facebook, site streaming de vídeos, venda de carros, comparação de preços, e-commerces inteligentes que saltam as coisas que lhe interessa na hora que entra na página e por aí vai.
Disto tudo podemos perceber que o usuário hoje é acostumado com meios digitais, interage de forma satisfatória e os próprios produtos digitais são elaborados pensando nessa experiência de sucesso durante o processo de busca e encontro daquilo que deseja.
Por conta disto, este mesmo usuário ao acessar um sistema, intuitivamente busca a facilidade de navegação de seu histórico cultural de internet, certo?
E quando este mesmo usuário vai para o trabalho e tem que interagir com um sistema desenhado sem arquitetura de informação consciente e sem usabilidade, fica confuso e decepcionado com a dificuldade de transitar entre as telas que encontrar por lá.
Comunicado importante!
Não estou querendo dizer com isto que é possível desenhar telas de sistemas com a mesma dinâmica de um site ou portal, mas que podemos trazer elementos do cotidiano digital comum para dentro deles, de forma que torne a navegação mais próxima e acolhedora.
Coisas que voc^deve saber
Por fim, algumas coisas que você deve saber antes de entrar na fábrica:
- Mais do que nunca você vai precisar utilizar suas habilidades de comunicação e empatia, pois trata-se de uma equipe cujo core é lógico, portanto todas as conversas, explicações e intenções terão este viés de lógica que o AI terá que trazer para o aspecto da comunicação do cliente/usuário final com o sistema a ser desenvolvido.
- Não acredite no mito de que fábrica de softwares é composta de nerds que usam óculos, não sabem falar com mulheres e não pensam em outra coisa além de computadores. O desenvolvedor de sistemas atual é dinâmico, tem seus hobbies que vão desde RPG à dança de salão e composição de samba enredo.
- Lembrando: existe um certo conservadorismo no que diz respeito às práticas de fábrica, logo, muitos colegas não conseguirão entender sua função e tentarão achar associações que te expliquem, tais como: analista de requisitos, analista de negócios e eventualmente, analista de sistemas.
- Alguns colegas mais juniores poderão achar que você vai interferir negativamente, pois não está inserido no escopo que eles estudaram. Neste caso, o tempo e sua capacidade de trabalho em grupo vão desmistificar este conceito.
- Não custa comentar mais uma vez: se você curte um clima de hipster descolados, que viajam todo ano para destinos alternativos e usam roupas estilosas, esta não é a sua praia. Na fábrica as pessoas são bem mais básicas.
Por fim, se você quer fazer a diferença em um meio que precisa de conceitos de comunicação mais voltados às pessoas este é o guichê! E aí? Quem topa embarcar nessa aventura? [Webinsider]
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Íris Ferrera
Íris Ferrera (iris.ferrera@gmail.com) escritora, estudante, arquiteta de informação e consultora de user experience nas horas vagas. Twitter @irisferrera.