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O tempo passa e o cenário não muda: três novos codecs disputam a primazia de oferecer som tridimensional ao público de cinema e ao do home theater. Em um recente painel cujo vídeo foi exibido no YouTube, o representante da DTS (agora Datasat Digital Entertainment) afirma que a empresa não quer ver outra guerra de formatos, mas a impressão que passa ainda não é essa.

O DTS:X chegou atrasado, não se sabe quantos cinemas irão adotá-lo e o codec doméstico, atualizável em muitos dos novos modelos, ainda está para ser finalizado por vários fabricantes, antes de ser oferecido como upgrade de firmware, presume-se gratuitamente.

Para os equipamentos da linha 2014, a presença do DTS:X é uma incógnita, e em pelo menos um caso, o da Onkyo, a fábrica foi taxativa dizendo que para os seus modelos de 2014 não haverá upgrade! É claro que a DTS terá que correr atrás se quiser dominar de novo no mercado, e como ela vai fazer isso sem declarar uma guerra de algum tipo é o que a gente verá em um futuro próximo.

No passado…

O Laboratório Dolby e seu fundador Ray Dolby ganharam notoriedade no desenvolvimento de sistemas de redução de ruído de alta frequência aplicado em fitas magnéticas analógicas de estúdio (Dolby A) e depois em fitas cassete (Dolby B).

A seguir a empresa resolveu atacar um problema crônico dos filmes de cinema: o melhor som até então obtido era conseguido com o uso de trilhas magnéticas na película (a chamada banda magnética), mas o insucesso veio com o alto custo das cópias e os transtornos de manutenção das unidades de leitura das trilhas.

Durante um longo período de tempo, particularmente na década de 1970, as trilhas de filmes em Panavision eram todas monaurais, com o uso da tradicional (e cheia de ruído) banda ótica. Foi então que a Dolby desenvolveu um formato que se chamou eventualmente Dolby Stereo. Pela primeira vez a famigerada banda ótica era dividida em duas pistas, com emprego do Dolby A e quatro canais (3 na tela e 1 surround mono) codificados matricialmente.

Mas, o avanço principal ainda estaria por vir, com a troca da banda ótica pelo codec AC-3, que levou o nome de Dolby Digital. O avanço não foi só no codec digital, mas no fato de que o nível de ruído foi praticamente reduzido a zero, e com a substituição do surround mono para o surround dividido em esquerdo e direito, dando assim novas perspectivas para a engenharia de mixagem das trilhas para o cinema, e para aumento da ambiência.

Se com o Dolby Stereo se alcançou o mercado doméstico, devido ao encarceramento de 4 canais em 2 canais (vídeo disco, VHS, etc.), também o Dolby Digital se estabeleceu no home theater, a partir do vídeo disco, e posteriormente como som padrão do DVD.

O Dolby Digital também inovou ao contemplar a mixagem e a codificação em um número de canais variável (mono até cinco canais), e com a incorporação do LFE à trilha. Além disso, o codec prevê duas importantes mudanças: a primeira, da normalização do diálogo (“dialnorm”), projetada para evitar mudanças repentinas na amplitude da trilha, e a segunda, o processo de remixagem do som original para o número de canais existentes no equipamento.

Se, por exemplo, o usuário tem um equipamento estéreo de dois canais, a trilha 5.1 é reduzida durante a reprodução para estes dois canais. O processo é chamado de “downmixing” e está previsto nos metadados do codec. O processo inverso (“upmixing”) pode ser incorporado (e o é até hoje) no chipset do DSP (Digital Sound Processor) do equipamento, a critério do fabricante.

O Dolby Digital foi o primeiro codec digital bem sucedido nos cinemas, e o primeiro a ser lançado em vídeo disco, alguns anos mais tarde. Neste lançamento, o laboratório tomou o cuidado de não remover a trilha PCM, usada para o Dolby Stereo, tornando assim o disco compatível com equipamentos anteriores.

A DTS correndo atrás… como sempre

O desenvolvimento do DTS aconteceu anos após o Dolby Digital ser projetado, e usou os mesmos parâmetros de reprodução. Não que fosse a Dolby a idealizadora do formato 5.1, mas o codec DTS precisaria usar o mesmo layout de alto-falantes na sala de cinema. O lançamento oficial nos cinemas aconteceu em 1993, com o filme Jurassic Park. Hoje seus projetistas chamam o codec de “jurássico”, por conta disso.

O codec DTS para o cinema se propõe a ser um avanço na fidelidade de reprodução, alcançado pela diminuição da compressão e com o aumento consequente do bitrate (1500 kbps contra 384 kbps do Dolby Digitial). Tal avanço, entretanto, obrigou seus desenhistas a adotar o CD-ROM como mídia de armazenamento de dados. Na película com DTS foi gravado um time code para sincronizar o fotograma com o disco. O sistema não deixa de ser uma volta aos princípios do Vitaphone (disco acoplado ao projetor), e ao longo tempo foi paulatinamente substituído nas cabines de projeção por conta de problemas diversos de manutenção das unidades de leitura.

Na era Laserdisc, a DTS custou a lançar um decodificador para os processadores e receivers. O primeiro vídeo disco com DTS (Jurassic Park, novamente) só foi lançado dois anos depois do vídeo disco com Dolby Digital.

Para o DVD, a empresa se mostrou inacreditavelmente ineficiente ao não tornar disponível o novo codificador, que reduzia o bitrate de modo a tornar factível a união de áudio com o vídeo, dentro do espaço de memória da mídia. O resultado desta redução foi uma perda de qualidade quando comparado ao DTS original. O gozado é que, na época, muitos usuários não perceberam isso!

Talvez por causa do atraso a empresa perdeu espaço no DVD, mas recuperou depois na era Blu-Ray, quando desbancou o Dolby TrueHD nos estúdios de autoração. A substituição não foi feita por conta da diferença de qualidade, mas pelo “workload” gasto pelo codificador TrueHD, consumindo um tempo exagerado na autoração e aumento de custos do estúdio como consequência.

Entretanto, com o DTS:X acontece novo atraso na criação do decodificador apropriado, não o chipset mas o software. Com isso, só tempo dirá se a aquisição de novo equipamento compensará para os atuais usuários do Dolby Atmos e/ou do Auro3D.

Os entraves da disputa de mercado

Embora a concorrência entre empresas seja teoricamente saudável para o consumidor, neste caso ela não é nem para o empresário dono das salas de cinema nem para o aficionado que monta um sistema multicanal dentro de casa.

Senão vejamos:

Nos cinemas é preciso um investimento financeiro considerável, com a instalação de novo decodificador, novos amplificadores e um maior número de caixas acústicas, os chamados “overhead speakers” ou caixas no teto.

Acontece que se o exibidor adotar um layout para um desses codecs provavelmente não se sentirá animado para gastar ainda mais e adotar os outros formatos simultaneamente.

Tudo isso poderia ser evitado se os formatos 3D usassem o mesmo layout de caixas, mas ainda assim seria preciso uma readaptação das diferentes mixagens, de modo a evitar erros de decodificação e reprodução do material original.

No lado do usuário doméstico, existe um obstáculo semelhante, com a diferença que os números de caixas são menores. Mas, a colocação destas no ambiente difere e o usuário para ter o efeito 3D desejado ele precisa instalar caixas acústicas novas, e se for possível, na área do teto da sala. Não há garantia também que os layouts para os três codecs sejam compatíveis.

O Auro3D tem futuro?

O Auro3D exigirá um upgrade para os atuais receivers e processadores, na forma de um firmware com custo de 199 dólares. Nenhuma explicação que eu tenha visto é dada aos usuários sobre este tipo de encargo financeiro, mas presume-se ser relativa ao repasse dos royalties de uso do codec.

O que talvez desestimule mais ainda o gasto por fora é a ausência de títulos de cinema nos discos Blu-Ray disponíveis, o que é, de certa forma, incompreensível porque o Auro3D foi o primeiro dos três codecs a ser instalado nas salas de cinema lá de fora.

Outro aspecto que preocupa é a compatibilidade dos layouts de caixas acústicas. O designer do Auro3D afirmou em painel gravado que o layout usado pelo Dolby Atmos serve para o Auro3D, mas que a recíproca não é verdadeira. Pois bem: e do lado do fabricante do equipamento? Ainda não está claro se o setup dos equipamentos aceitará o uso de um layout pelo outro. [Webinsider]

Leia também:

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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7 respostas

  1. Oi, Celso,

    Em parte sim, o Webinsider foi vítima de um problema que eu não me sinto à vontade para comentar, mas que levou os seus proprietários a refazer o site todo, o que todo mundo verá em breve.

    Eu também entendo que as minhas últimas abordagens em texto não são muito fáceis de digerir, por se tratar de tecnologia nova e porque também nestas circunstâncias pouca gente tem algo a dizer.

    Em última análise porque a frequência de leitores às minhas páginas deve ter caído também, só não espero a ponto de fechar a coluna!

  2. Caro Paulo, você observou que quase ninguém mais comenta seus artigos? O que está ocorrendo? Seria problema da webinsider?
    Abraço

  3. Celso, o seu comentário com a mesma pergunta está repetido várias vezes, pode até ser algum problema do site, mas veja se do teu lado você está tendo algum problema, e se for o caso por favor escreva para o editor, ok?

  4. Caro Paulo,
    Mais um ótimo artigo abordando minha área que é o cinema.
    Aproveitando, a única sala aqui da praça, de rua, trocou o equipamento analógico pelo digital como não poderia deixar de ser. Claro, o número de funcionários foi reduzido.
    Uma empregada, inquirida, não sabe o sistema de áudio utilizado lá. Como temos o Dolby Digital, o SDDS e o requentado DTS, na sua opinião, os projetores leem qualquer trilha?
    Grato pela acolhida e grande abraço.

  5. Oi, Celso, se for DCP o som deve ser PCM, mas eu não lido com isso e não tenho certeza. Procure ver esta informação com os operadores, eles saberão lhe dizer com certeza.

  6. Caro Paulo,
    Belo artigo que é de minha área, o cinema.
    Aproveitando, aqui na praça a única sala, de rua, trocou o equipamento analógico pelo digital (ainda bem).
    Observei que o número de funcionários foi reduzido, é a tecnologia “devorando” as vagas das pessoas!
    Inquirida, um atendente informou-me que não sabia que sistema de áudio o projetor usava.
    Como temos o Dolby Digital, o SDDS e agora o DTS requentado, qual seria o mais usado?
    Ou, os projetores leêm qualquer sistema?
    Grato pela acolhida e grande abraço!
    Celso

  7. Caro Paulo,
    Mais um ótimo artigo sobre minha área que foi e será sempre o cinema.
    Aproveitando o ensejo, o único cinema (de rua) aqui da cidade, instalou um projetor digital substituindo o antigo analógico. Em conversa com funcionários da casa, que por sinal foram reduzidos (o avanço tecnológico sempre em detrimento do humano), disseram desconhecer o sistema de áudio que o novo equipamento está executando.O som é bom na sala. Sabemos do Dolby digital, do SDDS e agora o Datasat ex-DTS como você informa.
    Qual seria o sistema mais utilizado no momento? O projetor estaria capacitado para executar qualquer um?
    Grato pela acolhida e um grande abraço.

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