E, por algumas horas, o Brasil enfrentou o bloqueio do Whatsapp no país.
Teve gente que comemorou o aumento de produtividade, pessoas que conheceram outras que moravam na mesma casa (também conhecidos como ‘família’ – a mais recente piada do “pavê ou pá-comê”) e aqueles que se apressaram em buscar uma alternativa para poderem estar conectados uns aos outros e trocarem mensagens nudes, relevantes ou não, em tempo real.
Independente das razões que levaram a este apagão, foi socialmente curioso como a debandada se deu para outros aplicativos similares de mensagens. Mesmo com o Facebook pedindo para que seus usuários passassem a utilizar o Messenger para se comunicar, as hordas de brasileiros buscaram outras ferramentas similares ou maneiras de seguir utilizando aquele iconezinho verde com balãozinho.
O Telegram indicou um crescimento de 1,5 milhão de registros do Brasil neste período. o ICQ (nooooossa! lembra? ô-oul!) disse que 400 mil novas contas foram criadas.
Dentre os aplicativos mais baixados na App Store, as 16 primeiras posições eram de apps de comunicação similares ao Whatsapp ou geradores de VPN (grosso modo, ele conecta uma rede “privada”, que permitia burlar o bloqueio no país).
Como em um embate futebolístico, os comentários do Facebook e Twitter polarizaram entre a torcida do “vamos-usar-VPN-e-burlar-o-bloqueio” e a equipe do “usa-o-Telegram-que-é-muito-melhor”; com direto à troca de links e argumentações pró-um e pró-outro.
– Mas, se existem tantas alternativas assim ao Whatsapp, por que seu bloqueio gerou esta revolta popular nunca antes vista na Avenida Paulista, quer dizer, internet brasileira?
Bem vindo ao Brasil, o país que “invade” e se apropria das ferramentas digitais; que usa um exército numeroso de “internautas” (ô termo de tiozão!) para apossar-se das ferramentas sociais digitais e, com isso, perpetuar seu modo de vida (huebr).
Brace yourself, brazilians are coming!
Isso não é novo. Os brasileiros eram os que mais usavam o Fotolog, um dos mais ativos no IRC, dominaram o Orkut como um combate aos estadunidenses, indianos e paquistaneses (olhe esse texto de 2010 para entender melhor) e seguem propagando-se por plataformas de quem quer que ouse aproximar-se.
A razão é simples: todo mundo quer estar onde todo mundo está.
Como uma balada de cidade do interior, não importa quão lotado esteja aquele local, se todos estão ali, também tenho que estar (aê Sorocaba!). Ver e ser visto só é possível se todos estiverem por ali. E isto gerou o êxodo desarranjado entre as diversas opções disponíveis quando o WhatsApp caiu.
– Mas e meus grupos? E meu trabalho? ahhhh meu deus!
Bom, tirando aqueles que aproveitaram o apagão para sorrateiramente sairem dos grupos “Família”, a verdade é que a comunicação não se extingue com a eliminação de uma ferramenta.
Como a hidra-de-lerna, corte uma cabeça e duas surgirão (ou, “querido juiz e/ou operadoras de telecom, vocês jamais poderão eliminar tais ferramentas! Ha! Ha! Ha!” – risada malévola para dar efeito dramático).
A competição entre plataformas sociais na internet está muito mais ligada à capacidade de mobilizar um contingente considerável de pessoas para seu uso, do que em oferecer uma ou outra inovação incremental.
O custo de mudança é alto, ou melhor, o custo social de mover-se para outra comunidade digital é percebido como alto (“por que usar X, se todo mundo está usando Y?”). E aí caímos num dilema Tostines: uma ferramenta é líder porque todos estão usando e todos estão usando porque ela é líder.
Nesta onda, a dinâmica da adoção de novas ferramentas digitais (ainda que 90% de suas funcionalidades sejam similares) segue a curva de difusão de inovações de Roger (tem um vídeo bem legalzinho aqui sobre esse assunto):
Mais que links patrocinados no Instagram ou press-releases “à toque de caixa”, se o Telegram, o Viber ou qualquer outro quiser tirar a hegemonia do Whatsapp, terá muito mais que montar uma estratégia de migração do que acrescentar adesivos e outras coisinhas bonitinhas que piscam em suas respectivas ferramentas.
E digo mais! Fufifi-fiu-fu!! Opa, peraê que o desembargador liberou o Whatsapp…
[Webinsider]
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JC Rodrigues
JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.
Uma resposta
Êta saudade do ICQ. Kkkkk
Concordo plenamente com o que você falou, precisam melhorar a firmã de chamar a atenção dos novos usuários.