O homem busca constantemente brincar de deus.
Alterar o mundo a seu redor e criar novos elementos de interação, em qualquer campo da ciência, é o que move descobertas e leva o próprio ser humano a situações limítrofes no que tange a aceitação sobre a definição do que vem a ser “consciência” e, logo, sobre o que consideramos como um ser autoconsciente.
Tomando emprestado uma interessante definição na Wikipedia:
“Não há consciência sem autoconsciência. Sempre que um sujeito tem consciência de um objeto ele tem autoconsciência da sua consciência desse objeto.”.
Diversos autores já buscaram a definição de autoconsciência e, alguns, atrelam esta capacidade à escala evolutiva dos seres vivos. Os seres humanos entendem sua existência e sua correlação com o ambiente que o cerca. Em função disso, tomam decisões baseadas nos diferentes níveis da formação cerebral, visando a sobrevivência dos genes.
Sem entrar em discussões mais filosóficas sobre o sentido da vida, aceito como base que os seres são máquinas pilotadas pelos genes e, como tais, usadas para perpetuar seu código genético numa ferrenha competição pela sobrevivência.
Por que os humanos instintivamente classificam as pessoas?
Os seres classificam seus pares como amigos ou inimigos. Esta dicotomia simplória é ágil o suficiente para um ser decidir fugir, lutar ou unir-se a um estímulo novo (um novo ser, próximo). Quando não se pressente ameaça, pode ocorrer um processo de empatia, ou, “capacidade de projetar a personalidade de alguém num objeto, de forma que este pareça como que impregnado dela.”.
Podemos entender (ao menos ter experimentado) a empatia entre pessoas; aqueles que possuem um animal de estimação também vivenciam a empatia para com seu pet. E, por fim, chegamos à minha questão: em que momento passaremos a ter empatia com elementos robóticos?
Empatia com robôs
A incorporação da tecnologia aos seres vivos é socialmente aceitável, seja através de dispositivos externos ou, em breve, à incorporação de elementos biônicos em nossos corpos. Porém, como lidar com o caminho inverso, ou seja, a atribuição de características de consciência em artefatos construídos?
Melhor dizendo, em que momento passaremos a ter empatia por um ser-não-vivo, ao ponto de exprimirmos sentimentos e nos emocionarmos com ele? Neste processo, é curioso a importância da pareidolia no entendimento de que um ser-não-vivo possa, de alguma forma, estabelecer uma relação de afeto com um ser-humano.
Pareido.. o quê?
A pareidolia é, grosso modo, um fenômeno psicológico que leva os humanos a identificarem certos elementos como próximos a algo que já conhecem. Acredito ser uma forma rápida de entender um novo estímulo – “Isso se parece com algo que eu já conheço? E, se sim, esse algo é amistoso ou hostil? Logo, devo me aproximar ou fugir?” – e que pode desencadear uma sucessão de sentimentos atrelados a esta aproximação.
Isto pode ocorrer com imagens e sons e, mais comumente, é atribuída à tendência de se aproximar um objeto das formas animais conhecidas, que, de uma forma ou de outra, seguem, em sua maioria, um padrão visual similar.
Levando ao traço mínimo – reduzindo ao mínimo de elementos possíveis para identificação do objeto – qualquer elemento que se assemelhe à figura ao lado tende a ser interpretada como um ser vivo e, com isso, gozar do benefício do julgamento entre ser amigável ou hostil.
Fazemos isso com automóveis…
…achamos “pessoas” em outros corpos
…e, graças a esta similaridade, passamos a desenvolver sentimentos por algo que, a princípio, não é vivo.
Humanizando coisas não-humanas
O mundo das animações já se utiliza desta ferramenta há tempos, ao ponto de nos emocionarmos com personagens que fazem crer que realmente existem, espelham-se em sentimentos humanos e, portanto, merecem a empatia daqueles que o veem:
O quanto isto influenciará comercialmente em produtos tecnológicos futuros cabe aos designers de produto; certamente, contudo, será levado em conta para desenvolver este sentimento de afeto entre as pessoas e suas “coisas”.
Mas, até lá, com licença que eu tenho que brincar com meu filhote:
[Webinsider]
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JC Rodrigues
JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.
Uma resposta
Muito interessante seu artigo JC Rodrigues.
Nos faz refletir mais sobre o assunto.
Um abraço