Existe um conceito bacana chamado “information overload” (também referenciado como “infobesity” ou “infoxication”).
Ele reflete a dificuldade das pessoas nos dias de hoje em processar (o que significa entender e poder tomar decisões a respeito) a quantidade de informação produzida no mundo. A expressão foi usada pela primeira vez em 1964 no livro “The Managing of Organizations”, de Bertram Gross – obrigado, Wikipedia!
De fato, desde que o fluxo de dados passou a ser conectado, a quantidade de “coisas” que circula por aí cresceu absurdamente. Entre aspas pois não estou julgando a qualidade ou utilidade destas coisas; temos desde o impacto da descobertas de ondas gravitacionais a um gatinho tocando teclado.
Falando nisso, veja as notícias relevantes do Ego #sqn:
Por um lado isso é extremamente instigante, haja vista aplicações relacionadas a Big Data – grosso modo, o processamento, interpretação e análise de uma grande quantidade de dados disponíveis, transformando-os em informação que permita a tomada de decisões – e, consequentemente, a potencial agilidade de respostas a necessidades humanas.
Por outro, tornou cada vez mais relevante a necessidade de ‘filtros de relevância’ para separar o joio do trigo, ou melhor, para que, mais rapidamente que o consumo da informação em si, seja possível decidir a aplicabilidade dela em sua vida.
É “too much information”, logo, tem-se que filtrar melhor aquilo que será consumido ou ignorado.
Entenda ‘aplicabilidade’ aqui como ‘interesse’. Os interesses humanos nem sempre são úteis, práticos ou servem para avançarmos como seres terrestres parte das estrelas (poético isso). Entretenimento é relevante (além de necessário).
O equilíbrio entre aprendizado e entretenimento, contudo é outra discussão que tomaria bem mais de um artigo para resolver.
Apesar do desafio, o ser humano insistentemente busca estar ali, coladinho com as últimas novidades, com o meme mais recente, com o bordão da semana (dia?).
Isto gera uma corrida contra o tempo de ambos os lados; como zumbis em busca de miolos, muita gente querendo consumir informação constantemente (arrastando o dedinho na tela do celular) e muita gente buscando gerar cada vez mais matéria-prima para a sociedade do espetáculo, sejam YouTubbers, bloggers, empresas de notícias (ou o gatinho, que aprendeu uma música nova no teclado).
Quando o trivial vira notícia
O jornalista norte-americano John Bogart é o autor de uma frase ensinada no pré-básico-maternal dos cursos de jornalismo: “se um cachorro morder um homem, não é notícia; se um homem morde um cachorro, é”.
E quando ficamos sem cachorros para serem mordidos?
Sejamos francos, em um mundo hiperconectado e voraz por histórias, a quantidade de fatos que merecem ser noticiados é menor do que as notícias em jornal de cidade do interior. A solução? Tornar o trivial, notável.
Há alguns dias atrás, o Sr. Shaun Cunningham, morador da Flórida, usou o braço para proteger o pequeno e inocente Landon, de apenas 8 anos, de ser atingido por um taco de baseball que, inadvertidamente, voou em direção à arquibancada em um jogo entre o Atlanta Braves e o Pittsburgh Pirates.
Tenho que concordar, a foto é ótima!
Mas esta atitude paterna “normal” se torna notícia quando há potencial para expandir a história além do fato central.
O heroico (agora sem acento) pai contou ao New York Times que, desde então, sua vida tem sido fora do comum em função do assédio da imprensa.
Apesar de, pessoalmente, achar que o verdadeiro herói (esse tem acento) é este senhor, mestre Jedi, que, com seu domínio da força, afastou o taco sombrio da força…
Suas histórias podem estar ao seu redor
Para planejadores de conteúdo, todo fato gera ao redor dele uma série de outros temas secundários. É o que chamamos de ‘conteúdo orbital’, ou seja, que orbita o fato principal, faz referência a ele, mas desenvolve toda uma nova linha de argumentação (e, em um mundo conectado, novas possibilidades de discussões e compartilhamentos).
No marketing de conteúdo, um produto isoladamente pode não ser nada interessante para comunicar (99% dos produtos são mais do mesmo, ou seja, não trazem uma inovação real reconhecida pelo consumidor médio). Mas, ao redor dele, orbitando este pedaço de ‘coisa’, existe um universo a ser explorado (e, por que não, apropriado) por marcas.
Os maiores desafios: ter conteúdo de qualidade e de maneira contínua
Se falta combustível para seu storytelling, avalie o que há ao redor de seu produto; que universo ele habita? Que relação ele tem com aspectos da vida diária de quem o consome?
A razão de existência de seu produto/marca pode estar orbitando o conjunto de metal, plástico e borracha que sua equipe de vendas e marketing está preocupada em empurrar goela abaixo de um público que já tem informação demais para lidar no dia a dia.
Ampliar a visão para além do aspecto direto relacionado ao produto pode criar novos horizontes para sua marca na busca pela razão de sua existência. Ou você acha que a Coca-Cola realmente vende um líquido preto com gás dentro de uma lata? [Webinsider]
…………………………
Leia também:
- Enfia a publicidade goela abaixo
- Um mundo melhor para os introvertidos
- Facebook Reactions: influenciando os sentimentos humanos
- O que fez de errado o Quitandinha Bar (além do óbvio)?
- O conteúdo é fluido
- O atendimento e a fábrica de protocolos
- Eu te amo, sua coisa
- Por que a internet das coisas é inevitável
- Leia todos os textos de JC Rodrigues
JC Rodrigues
JC Rodrigues (@jcrodrigues) é publicitário pela ESPM, pós-graduado pela UFRJ, MBA pela ESPM. Foi professor da ESPM, da Miami Ad School e diretor da Disney Interactive, na The Walt Disney Company.
2 respostas
Conteudo é e sempre será REI no Mundo das Noticias. Parabéns pela Materia.
Post muito bem colocado.
Claro e Esclarecedor.