Essa foi a pergunta feita por uma amiga no LinkedIn há poucas semanas antes do Festival.
Aquele que já foi reduto exclusivo de criativos, cresceu para tornar-se o mais importante festival de comunicação do mundo, extrapolando os limites da criação das agências e atraindo profissionais de todos os setores da indústria.
E talvez aí que more o problema, pois Cannes hoje é muito mais do que os Leões, tornou-se uma feira que extrapola o limites do Palais.
Minha última visita havia sido em 2014 e fiquei impressionado como em apenas dois anos a coisa cresceu: agora existe até um Palais II!
Empresas de tecnologia
O entorno do local do evento está cercado por tendas, stands e o pedaço de praia que ainda não estava limitada pelas concessões privadas, agora desapareceu de vez, por culpa de Google e Facebook que instalaram ali seu QG para receber visitantes.
Aliás, justamente são as empresas de tecnologia – até a Oracle teve um espaço próprio – que tomaram o festival de assalto nos últimos anos, para alegria de uns e descontentamento de muitos.
Além de alugar coberturas e suítes pela Croisette, o terreno mais populoso de ad techs são os iates, a ponto de até mesmo ter sido criado um Lumascape Yatch Row 2016!
A presença das ad tech e pontocoms parece ser o que mais incomoda os saudosistas. Essas mesmas pessoas são, em boa parte, as que ainda não perceberam que o mercado mudou e, sem tecnologia, não existe marketing, PR, mídia e demais disciplinas de comunicação.
Sabe quem foi um dos maiores patrocinadores, com direito a presença de um logo gigantesco em cima da gloriosa escadaria do Palácio dos Festivais? Snapchat.
Está meio na moda falar mal do Festival. Cheguei a ler uma coluna, em um respeitado veículo norte-americano, onde o autor detona Cannes. Detalhe: ele NÃO esteve no evento!
Há muitas críticas pertinentes sim: gigantismo, excesso de categorias, altos investimentos para retornos muitas vezes intangíveis, perda de foco e identidade, como bem lembrou Sir Martin Sorrell.
Os prêmios seguem importantes, mas é possível viver sem eles, como ressaltou Washington Olivetto, do alto dos seus mais de 50 Leões. Por outro lado, um celebrado diretor de marketing resignou-se e fez juras de amor ao ganhar seus primeiros Leões este ano.
Cannes continua essencial
O fato é que, gostem ou não, Cannes continua essencial: onde antes havia apenas prêmios, hoje você tem palestras de alto nível e uma semana para fazer contatos e gerar negócios em um ambiente onde todos estão mais à vontade, pois a beleza natural da região é um grande diferencial mesmo.
E os Leões, principalmente os Grand-Prix, seguem sendo a principal referência para todo o mercado.
Voltando ao LinkedIn, comparar Cannes com E3 não faz o menor sentido. São eventos completamente distintos e que miram públicos diferentes. Eu ainda não fui ao E3, nem ao hipster SXSW, mas sei o quanto eles são importantes para este novo momento da comunicação, tanto quanto o Festival de Cannes, a DMEXCO (reuniu 50 mil pessoas ano passado) e o MWC, que acontece todo ano em Barcelona.
Alguém já disse que o SXSW celebra o futuro e Cannes o passado. É uma forma de se olhar. Um amigo respondeu no LinkedIn que em Cannes “só se vai pra negociar BVs”. Bem, a Globo não tinha nenhuma delegação oficial na França e até onde sei, a única pessoa que estava lá, foi como convidado de uma empresa de ad tech.
Então, chega de mimimi, s’il vous plait.
PS. A Folha publicou um brilhante artigo do Nizan sobre o Festival que vale a leitura. [Webinsider]
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Marcelo Sant'Iago
Marcelo Sant'Iago (mbreak@gmail.com) é colunista do Webinsider desde 2003. No Twitter é @msant_iago.