A forma mais aceitável (isto é, sem privilegiar grupos econômicos, culturas, crenças em detrimento de outros) de entender desenvolvimento sustentável é enxergar como um compromisso firmado pelas gerações atuais, de garantir a manutenção de seu bem-estar e modo de vida, sem implicar em prejuízos, ou melhor, garantindo o bem-estar e conservação ou melhoria no estilo de vida das gerações vindouras.
Entenda-se – em um contexto de visão ecossistêmica – habitantes de um mesmo planeta, como todos os seres vivos e suas espécies seja fauna ou flora. Bem como, quando falamos em gerações, não nos reportarmos apenas à raça humana, mas toda a vida terrestre, ou seja: a biodiversidade.
Garantir esse entendimento e traçar planos e formas de desenvolvê-lo como um modelo global, bem como adotar as medidas requeridas não devem ser tarefas apenas dos Estados ou de formadores de opinião, com seus interesses próprios e particulares.
Ao contrário, deve ser uma responsabilidade de cada indivíduo e seus grupos de interesse locais representados na sociedade civil organizada.
O mercado de consumo
Surge, porém uma questão fundamental: o entendimento da necessidade de preservar o modo de vida sustentável, contradiz com o modo de vida vigente, atualmente aceito como modelo único de organização social, baseado no consumismo como perpetuador desta mesma sociedade capitalista e seu mercado de consumo, sob o qual se está baseado e amparado todo o modo de vida atual.
Harvey (2001), em sua obra “A produção capitalista do espaço”, vai apresentar a forma como se desenvolveu a produção capitalista e como ela moldou o mundo em que vivemos hoje a partir das nações centrais e seus líderes e como o espaço produzido e seus atores influenciaram de forma significativa no meio ambiente, apropriando-se nos últimos 200 anos.
E principalmente a partir da última metade do século XX, como jamais na história da natureza e seus recursos como meios de exploração para movimentação e dinamização do mercado de consumo sem levar em conta a própria sobrevivência do ser humano e o planeta.
O autor conclui sua análise sobre a geopolítica do capitalismo, afirmando que é necessário “considerarmos a substituição do modo capitalista de produção como condição necessária para a sobrevivência humana” (HARVEY, 2001:162).
Necessidade de mudança
Se existe já neste momento uma preocupação com a própria continuidade da espécie humana, o argumento da necessidade de mudança total do modo capitalista de vida deve justificar ações de planejamento que garantam às gerações futuras um planeta com condições favoráveis de vida com bem-estar e qualidade ambiental que gozamos, ainda que sob risco, no presente.
Ou seja, preservar os ecossistemas subsistentes na biosfera, e se possível refazer os meios naturais com sua biodiversidade no máximo de sistemas sob risco de extinção ou desequilíbrio.
No final do século XX, a partir de ações como as conferências organizadas pela ONU, como Estocolmo 1972 e Conumad (Rio 92), e assinaturas de protocolos como os de Kyoto, os Estados ainda que de forma tímida e centrada em interesses outros, como a própria geopolítica, iniciaram a tomada de posição e ações. Havia uma crise sem precedentes, gerando aumento de custos em áreas como saúde, saneamento e respostas a desastres ambientais.
O papel que se espera das empresas
Porém, numa visão integradora de todos, principalmente os mais interessados, ou seja, os cidadãos do mundo, a sociedade civil deve se organizar e tomar a frente destas iniciativas, cobrando mais que o respeito a impostos, mas posturas e ações de seus governantes e seus investidores internacionais, as grandes corporações capitalistas.
Organismos como partidos, governos e empresas, por sua grande responsabilidade e poder de interferência seja de decisões seja mesmo das ações concretas de intervenção no meio, devem ser os grandes articuladores de projetos, leis e iniciativas como os Conamas (conselhos nacionais de meio ambiente).
E também legislações ambientais e suas implicações, multas e punições a degradadores do meio ambiente, bem como o principal – planejar plataformas de governo e de desenvolvimento econômico e social a partir do modelo sustentável.
Propondo e facilitando a cobrança e acompanhamento dos povos, principalmente através dos meios de comunicação e divulgação dos planejamentos, seus desdobramentos e resultados: diminuição de desperdícios; políticas de reciclagem de resíduos e padrões para uso e reuso de ativos minerais (solo, água, metais preciosos, rochas).
Protocolos e portarias de liberação de empreendimentos imobiliários, industriais, comerciais, de serviço, científicos ou militares, sob a perspectiva do impacto ambiental, e seus riscos para as populações vizinhas e os ecossistemas envolvidos.
Planejar a preservação da biosfera, com a mesma importância que se dá a planos de “resgate e salvamento” econômico.
Pois neste caso o que se quer salvar não é a economia, é a vida em toda sua integralidade: a biodiversidade em que se está inserido mesmo o capitalista que considere isso utopia, pois mesmo este, ou seus filhos e netos, se encontram em risco.
Referências bibliográficas
LEMOS, Clara Carvalho de. Aula 4: Desenvolvimento sustentável e biodiversidade: conceitos e estratégias para o planejamento. Caderno Didático de Planejamento Ambiental. CECIERJ/CEDERJ 2014.1
LINHARES, Sérgio; GEWANDSZNAJDER, Fernando. Biologia. Livro Didático, Editora Ática 2009
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. 1ª Edição. Tradução Carlos Szlak. Annablume Editora. São Paulo, 2005
Sítio de Internet: Ministério do Meio Ambiente, acesso em 21.08.2015 09h27.
[Webinsider]
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Edivan Fulgencio
Edivan Fulgencio (edifull@yahoo.com) é sócio da IT Sapiens Consultoria, disseminador de melhores práticas em Gestão de TI nas organizações e estudante de Geografia. Twitter @edivanfulgencio.
Uma resposta
Excelente texto, com boa visão para o futuro!