Desde o ano passado que se assiste um desfile de mudanças na produção e lançamentos de produtos na área de áudio e vídeo. A indústria eletroeletrônica em peso, aqui e lá fora, parece completamente sem sintonia com o mercado criado por ela própria em passado recente. Agora ninguém pode prever, mas apenas especular, o futuro incerto que está se desenhando.
Causou surpresa a muita gente a retirada inusitada do 3D nos novos modelos de televisores. A desculpa dada, de que o formato desperta pouco interesse, não convenceu. E mesmo dentro do argumento técnico de que 3D em 4K por enquanto é inviável, nada impediria os fabricantes de manter a reprodução 3D em 2k, dentro de uma TV 4K. Essa possibilidade existe nas TVs 4K atuais, portanto não existe empecilho técnico algum.
Ademais, e isso é um ponto importante, a economia da retirada é, como diria meu pai, porca! Um mero decodificador, dentro um sistema “on-chip” (SoC) tem custo fabril irrelevante. A indústria poderia até oferecer óculos 3D por fora ao invés de inclui-los junto com o produto, mas tirar o recurso da tela, é o fim da picada, porque, convenhamos, usa quem quer.
A disponibilização de recursos independente do seu uso potencial é iniciativa antiga e foi fartamente empregada no design do equipamento de outrora. Ela se baseava na antecipação de expectativas, calculada por amostragem em pesquisas de mercado feito pela indústria. E a ideia era deixar recursos disponíveis, independente do uso!
Usou-se depois o termo “future proof” (ou “à prova do (uso) futuro”) em recursos implementados que sequer teriam utilidade pelo usuário naquele momento, mas que iriam ser amplamente aproveitados a seguir. Aonde foi parar a filosofia do “future proof”? Aparentemente ninguém sabe, ninguém viu!
Todo tipo de mudança deste tipo deixa o usuário final em uma posição desconfortável. No caso do 3D, é possível que o colecionar e o fã do formato se veja impedido de trocar o seu aparelho de TV por um mais moderno, com receio de perder o recurso de reprodução.
Sai Blu-Ray entra DVD!
Sinceramente, é demais! Parece até sabotagem de mercado.
Eu tenho lido desde o ano passado desculpas da indústria dizendo que o interesse pelo Blu-Ray caiu muito, em favor do streaming. E com isso, tome lançamento de DVDs. Não é para lá de incoerente? Ambos são mídias rotativas com filmes que o colecionador compra e quer ter na sua coleção.
Se o streaming agora é a coisa do momento, o DVD não deveria parar de se lançado também? E o pior, DVDs são lançados atualmente mais caros do que um Blu-Ray! Alguém entende isso?
Outra desculpa esfarrapada é a de que muitos usuários não veem diferença na qualidade da imagem. E desde quando isso passou a se tornar uma decisão de mercado? Se as pessoas não notam, cá entre nós o problema é delas, os outros usuários não deveriam ser penalizados por isso.
O que se nota, e para isso não é preciso ser nenhum vidente, é que parte dos selos independentes estão fazendo uma farra no mercado, lançando discos, DVD e principalmente Blu-Ray, sem nenhum compromisso com a qualidade! E se tal ocorre, é notoriamente fruto da omissão dos estúdios que originaram seus filmes e se descompromissaram em arriscar o lançamento no nosso mercado.
Lá fora, se faz edição limitada, geralmente com 3 mil discos prensados, mas anuncia-se para todo mundo saber. Aqui as edições estão cada vez mais limitadas, não se sabe a priori o número exato ou aproximado de discos prensados, e quando se vai ver o título fica indisponível nas revendas, deixando o usuário a ver navios.
O streaming agora passa a ser problema de quem assina
Não bastasse a escassez de reprodutores de Blu-Ray à venda no país, alguns modelos dos que saem agora em outros cantos passaram a não oferecer vários serviços em rede.
No lançamento do Oppo UDP-203 4K o fabricante retirou todos os serviços de streaming do aparelho. E paralelamente descontinuou os modelos BDP-103 e 105 da linha de produção, que têm esta opção.
Ora, uma das vantagens de ter streaming em um Blu-Ray player é a possibilidade de se usar as melhores características de áudio do sistema. Por exemplo, o Netflix transmite Dolby Plus ao lado do PCM. Se eles quiserem podem facilmente embutir Dolby Atmos no streaming, sem prejuízo algum do bitstream.
Mas, é preciso que, para apreciar uma trilha sonora neste nível, o aplicativo do serviço tenha conexão direta com um sistema capaz de fazer a decodificação necessária. Daí a utilidade do serviço ser instalado no reprodutor de mesa.
Ninguém até hoje sabe a troco de quê a Oppo, tradicional fabricantes de aparelhos multiformato, resolveu tirar os serviços de streaming. Pode ser que em uma atualização de firmware eles coloquem tudo de volta, mas nem eles falam sobre o assunto e nem o usuário vai ter certeza disso.
Caminhando para a obsolescência
Hardware e software tradicionalmente andam par e passo, um depende do outro. Formatos de áudio e de vídeo interessantes foram para o espaço no passado, por culpa da ausência ou insuficiência de software, mas agora a situação se inverteu, e o ameaço é de não ter hardware. Se continuar assim, estaremos andando para trás, e a caminho do cemitério de sistemas que já haviam dado certo.
Um Blu-Ray 2 K bem autorado tem qualidade idêntica, às vezes até melhor, do que material em 4K, quando exibido em uma tela competente.
Vai ser o maior vexame se o disco Blu-Ray sair do mercado. Perde-se a qualidade da imagem, insuperável perante qualquer serviço de streaming, e perde-se principalmente o áudio de alta resolução privativo da mídia, que nenhum outro formato de vídeo consegue oferecer.
Tornar o Blu-Ray em um nicho de consumo é um crime, e se a indústria não reagir, todas as promessas feitas no passado cairão em profundo descrédito.
A Sony foi a proponente do Blu-Ray, brigou com a Toshiba na guerra contra o HD-DVD, ganhou apoio dos estúdios com o tempo, e agora vai jogar tudo fora e deixar o consumidor sem amparo?
No PS4 Pro, não há suporte a Blu-Ray 4K!
Há uma marcha reversa do PS3 para o PS4 Pro, e ela é duramente criticada por fãs e analistas.
Nem a Microsoft, outrora detentora da ojeriza ao DVD, conseguiu tal proeza, visto que o player para jogos Xbox One S, que segue em um segmento de faixa de preços abaixo dos reprodutores de mesa, que oferecem suporte a Blu-Ray 4K.
O gesto da Sony, segundo esses mesmos analistas, é incompreensível perante as pesquisas de mercado, que mostram que os novos discos 4K estão vendendo mais do que os primeiros discos Blu-Ray venderam na época do seu lançamento, cerca de dez anos atrás.
Isso coloca por terra a teoria do desinteresse. Mesmo assim, não se vê nem sinal de player a 4K nas nossas praias, muito menos a presença do disco nas lojas. Aonde isso vai chegar, ninguém sabe.
O que se sabe é o que sempre prevaleceu em todos os formatos: hardware sem software ou vice-versa são ambos sinônimos de fracasso, e o consumidor não tem nada com isso. [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.