Soube por acaso, não me lembro de ter lido em lugar nenhum. Ao procurar uma nova masterização do disco clássico “Giant Steps”, gravado por John Coltrane para a Atlantic Records em 1959, eu me deparo com uma edição nova, prontamente disponível no mercado brasileiro.
Esta nova edição vem em uma embalagem que parece um Lp em miniatura, idêntica a muitas edições que eu havia comprado longo tempo atrás no Japão. Não gosto, acho saudosista demais, e coloca o disco em um invólucro que o torna desprotegido. Mas, quando não há outro jeito, a gente compra por causa do conteúdo, geralmente difícil de achar.
Não é o caso deste disco do Coltrane, que já teve dezenas de edições e é considerado um dos mais importantes discos de Jazz editados em 1959, e que, de certa forma, mudaram a forma como o Jazz é tocado, ou influenciaram outros músicos a fazer o mesmo.
O destaque que merece atenção é que a nova edição encontrada aqui vem do grupo Warner de música e a remasterização vem de um trabalho de estúdio feito na América, a partir de matrizes fontes. Por causa disso, o som é o melhor que se pode conseguir e quem houve percebe claramente aquela “assinatura” tonal dos discos da Atlantic.
Foi por causa da procura deste disco que eu acabei esbarrando em um catálogo das nossas prateleiras até então por mim desconhecido: caixas de CDs, com artistas diversos, um para cada caixa, e com 5 discos com aquele tipo de embalagem parecendo um elepê. As capas e contracapas idênticas (por fac-símile) das capas dos antigos discos.
Resolvi arriscar, e comprei a caixa com discos do Duke Ellington, todos eles ausentes ou nunca presentes na minha discoteca antiga, incluindo um álbum que eu julgava perdido, chamado de “Jazz Violin Session”, comentado recentemente aqui por um leitor assíduo da coluna.
A caixa contém discos de catálogos da Atlantic e da Reprise. A lista compreende:
Will Big Bands Ever Come Back? – Reprise Records, 1965.
Jazz Violin Session – Atlantic Records, 1976.
Duke Ellington Plays With The Original Motion Picture Score Mary Poppins – Reprise Records, 1964.
Ellington ’65 – Reprise Records, 1964.
Ellington ’66 – Reprise Records, 1965.
Todas as remasterizações apresentam qualidade compatível com as fontes de estúdio, com boa resolução e ausência completa de distorção. O som é limpo, e é pouco provável ter passado por qualquer tipo de filtro. Em nenhum dos discos se nota compressão ou limitação de frequência, portanto com a master de estúdio bem preservada. Não há nenhuma informação a respeito de onde a master foi feita, mas presume-se ser norte-americana, como no disco do John Coltrane, que vem da mesma fonte (Warner Music).
Aproveita enquanto o Brás é tesoureiro
O mercado nacional de música anda escasso de bons títulos faz tempo. Portanto, é preciso ficar atento, quando se deseja aumentar a coleção com discos de interesse. Não se sabe a priori quanto tempo estes discos ficam à disposição para compra, então todo cuidado neste sentido é pouco.
Caixas similares a esta que eu comprei estão à venda, mas é preciso ter paciência para achá-las. Hoje em dia são poucas as revendas físicas encontradas no comércio de rua ou shopping, e uma vez nos sites de disco eu não vi até agora nenhum acesso de fácil descoberta dos títulos disponíveis, coisas como uma seção especial para caixas de discos, etc. A solução é procurar por artistas.
Eu achei por acaso caixas com Ray Charles e Charles Mingus. Nas duas caixas apareciam discos, alguns dos quais gravados pela Atlantic, que foram duros de achar em passado distante. E todos os meus antigos discos soam bem, portanto não faz sentido comprar de novo.
Gravando música popular para outro público
Não sei que critérios existem para selecionar os títulos em cada caixa. Na do Duke Ellington, de Jazz mesmo só o Violin Session, os outros são discos populares jazzificados. Não que não se possa ouvi-los, mas para um purista a audição se torna meio que esquisita, e para o iniciante pode dar uma falsa impressão a respeito do maestro. É que nos anos 60 muitos dos grandes músicos de Jazz precisaram sobreviver gravando música popular. Os resultados variavam em comprometimentos feitos nos arranjos, já que as músicas haviam sido escritas destinadas a outro tipo de público.
Nos anos 70 esta prática se mostrou cruel na minha frente, quando fui ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro assistir a um concerto dado por Ella Fitzgerald acompanhada do seu usual trio. Durante uma pausa, alguém gritou “People” e a nossa Ella falou “People???”. Nem ela lembrava ter gravado aquilo, mas o fã a identificou com aquela música.
Pior foi quando Carmem McRae se apresentou ao vivo pela TV no salão de um hotel de luxo em São Paulo, sentada ao piano com mesas ao seu redor. Alguém sugeriu uma música à cantora que, indignada, disse “Eu nunca cantei este tipo de música, você nunca ouviu um disco meu”. E o ambiente ficou azedo…
No final das contas, e diante desta incerteza de um mercado supostamente falido, o negócio é aproveitar enquanto é possível. Já me arrependi mais de uma vez de não ter comprado um determinado lançamento, quando a chance apareceu.
Parece que hoje em dia coleciona quem de fato tem muito amor pela música. A maioria prefere baixar e instalar em módulo de memória.
O irônico é que lançamentos da China com música em memória estão sendo vendidos em caixas de plástico parecidas com uma caixa de CD.
Na embalagem de um CD feita com uma cartolina parecida com uma capa de Lp, e com fac-símiles das capas originais, é preciso pegar uma lente de aumento toda vez que se quer ler qualquer informação da contracapa, um absurdo que se tem que aturar se for preciso manter a coleção de discos hígida! [Webinsider]
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Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.