A fase widescreen com som estereofônico da M-G-M

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A fase widescreen com som estereofônico da M-G-M

Com o lançamento recente em Blu-Ray do filme musical “Brigadoon”, lançado em 1954, dirigido pelo competente Vincente Minnelli, se tornou possível revisitar a excelente fase da Metro-Goldwyin-Mayer, nos idos da década de 1950.

Nós hoje nos sentamos frente a uma tela de TV “widescreen”, com relação de aspecto 1.78:1, calculada para ser o formato ideal para a alta definição (HDTV). Porém, no início de 1950 o cinema já havia vislumbrado a mesma relação de aspecto, saindo da tela quadrada conhecida como formato da academia (1.33:1) para a tela widescreen em 1.75:1, quase idêntica à tela atual de HDTV.

Os principais motivos pelos quais a tela de cinema daquela época havia sido modificada eram para permitir introduzir novos paradigmas de imagem e som. A imagem ficou mais larga e menos alta. Saía o som mono e entrava o som estereofônico de 3 canais na tela!

A partir de 1953 os estúdios começaram a lançar filmes em CinemaScope, o novo processo widescreen apresentado em 2.55:1, fotograma na tela brutalmente mais largo do que alto. A Fox, introdutora do formato, resolvera licenciar o uso para os outros estúdios, e foi então que a M-G-M começou a lançar seus filmes no novo processo.

A fase widescreen com som estereofônico da M-G-M

No início desta transformação os filmes eram realizados com dupla filmagem: uma cópia feita com negativo capturado com lente esférica (tela plana), destinada aos cinemas em geral, e outra cópia baseada em filmagem com lente anamórfica, para ser projetada nos cinemas já equipados para apresentação em CinemaScope!

As primeiras tentativas de reprodução de som estereofônico em 3 canais foram feitas com a ajuda de um reprodutor de filme magnético 35 mm de 3 canais, interligado aos projetores. Depois, com o advento das cópias dotadas de banda magnética, o som de 3 canais passou a ser reproduzido com um leitor instalado no topo dos projetores.

A Fox, lançadora do CinemaScope, forneceu cópias em película cobertas com 3 bandas magnéticas, em um processo desenvolvido por Hazard E. Reeves. Mais tarde, foi introduzida na película uma banda magnética mais estreita, contendo um quarto canal, desta vez destinado ao Surround.

A partir de então, o som dos filmes CinemaScope passou ao formato que hoje poderíamos classificar de 3.0 (três canais frontais e um canal surround). Alguns poucos DVDs foram masterizados usando Dolby Digital 3.0 ou 4.0, idêntico ao som do CinemaScope. A grossa maioria das edições em vídeo é feita com trilha 5.0 ou 5.1, encarcerando o áudio 3.0 ou 4.0 dos originais.

A M-G-M também aderiu ao som magnético da película, mas ao mesmo tempo resolveu aproveitar o canal mono da banda ótica para a reprodução Perspecta de 3 canais separados na tela. O Perspecta é na verdade um falso estéreo. O som mono é redirecionado aos 3 canais com a presença de um tom de controle. Uma demonstração de como isto foi feito pode ser vista a seguir:

A M-G-M recomendou a instalação de som Perspecta nos cinemas da rede fora dos Estados Unidos e Canadá. Eu confirmei isso com o Ivo Raposo, que possui o folheto original de lançamento do Perspecta no Metro-Tijuca.

Todos os cinemas Metro do Rio de Janeiro foram de fato equipados com Perspecta, mas o Ivo me mostrou que o som estereofônico com leitor Westrex das bandas magnéticas foi também instalado no topo dos projetores Simplex dos Metros. Na realidade, estes leitores Westrex nunca foram removidos, e ele os conserva nos projetores que conseguiu resgatar, e que foram reaproveitados na construção da réplica em Conservatória.

O legado que ficou

Uma quantidade enorme de filmes feitos com som estereofônico de 3 canais foi realizado pela M-G-M entre 1953 e 1954. Nos cinemas, nem todas as apresentações privilegiaram este formato, exibindo os filmes com som mono ótico convencional.

Uma busca aos arquivos do estúdio, atualmente de posse da Warner Brothers, vem permitindo resgatar estas matrizes e relança-las tanto nas edições dos filmes em widescreen plano (1.75:1) quanto daqueles feitos em CinemaScope (1.55:1).

A pesquisa e a experimentação com o uso do som estereofônico, feitas dentro do estúdio, começou cerca de dois anos antes do lançamento do formato nos cinemas. Nesta fase foram testados novos microfones, sua colocação e mixagem das gravações, que atendessem ao espalhamento do áudio na extensão da tela widescreen.

Até mesmo os cartoons da série Tom & Jerry e os curtas de Tex Avery foram lançados com o som estereofônico Perspecta. Muitas dessas matrizes, infelizmente, continuam na obscuridade dos arquivos. Somente um desenho CinemaScope Tom & Jerry foi relançado em DVD com o som original estéreo, com o título “Touché, Pussy Cat”, o que é lamentável.

Uma grande parte deste legado foi destruída ao longo do tempo, como por exemplo, as partituras feitas para os filmes musicais, usadas para aterro sem o menor escrúpulo. É duro saber que este material não foi preservado para estudo ou pesquisa.

A edição de Brigadoon em Blu-Ray

Lançado como parte da Archive Collection, a Warner Brothers fez uma nova master do negativo, e masterizada com bitrate alto, típico deste tipo de edição.

Nas primeiras cenas, com a presença de um fog da região onde os principais personagens estão perdidos, pode-se notar uma presença maciça de grãos fotográficos, e é provável que tenha havido uma deterioração do negativo, compensada, mas felizmente não adulterada, digitalmente.

No geral, a imagem apresenta uma recuperação excelente, considerando-se que o negativo usado pela M-G-M era Agfa-Ansco, conhecido como Ansco Color, que depois ficou notório pela distorção na reprodução de cores. Ansco Color era similar ao Eastmancolor, fabricado pela Kodak, e se tornou uma alternativa mais econômica em substituição ao processo Technicolor de 3 negativos.

A imagem vista no Blu-Ray é bastante satisfatória, quando comparada à primeira edição em DVD.

Na parte de áudio, a Warner aparentemente não teve muito trabalho. A trilha sonora em 5.1 foi refeita para a segunda edição em DVD e reaproveitada para o Blu-Ray.

A parte de extras no disco, a meu ver, é fraca, com alguns segmentos que não foram aproveitados na edição final do filme.

Brigadoon (no Brasil, “A Lenda dos Beijos Perdidos”) é uma versão Hollywoodiana da peça homônima estrelada na Broadway. Aparentemente, algumas das músicas originais foram omitidas, e quando isso é feito geralmente é para tornar o filme mais curto e/ou dentro de um orçamento típico do estúdio.

A estória em si é simples, mostrando dois americanos nova-iorquinos em jornada de caça na Escócia, e que depois de ficar perdidos na mata, encontram acidentalmente a cidade de Brigadoon, que aparece de cem em cem anos, quando então seus habitantes acordam, mas (e tem sempre um “mas”) eles não podem passar dos limites da cidade, sob pena de não acordarem nunca mais, a não ser que um milagre aconteça!

O filme em si é leve, bem construído, e é beneficiado, como sempre, pelo excelente trabalho de fotografia, todo realizado em estúdio (a M-G-M negou a filmagem em locação na Escócia), com cenários suntuosos, e com a soberba orquestração de Conrad Salinger, que dá o “toque” M-G-M à produção.

A fotografia foi enquadrada no formato inicial do CinemaScope, em 2.55:1, típico daquele momento. Entretanto, as tradicionais distorções de lente anamórfica são pouco percebidas. O estúdio comprou cerca de vinte lentes anamórficas, com o objetivo de colocar vários dos seus projetos em andamento, neste novo e revolucionário processo.

Para quem coleciona filmes musicais ou simplesmente gosta de cinema bem realizado, será necessário importar o disco, infelizmente, já que nenhum disco desta série da Warner saiu por aqui. Um vexame! [Webinsider]

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http://br74.teste.website/~webins22/2017/10/12/barra-de-som-para-melhorar-o-som-da-tv/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/10/02/o-mundo-alternativo-de-george-harrison-segundo-scorsese/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/09/06/oled-ou-qled-a-suposta-guerra-entre-as-tvs-coreanas/

http://br74.teste.website/~webins22/2017/08/29/resolucao-8k-na-tv/

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Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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3 respostas

  1. É uma pena essa coleção não ser lançada aqui, tem vários títulos que fazem parte do acervo que gostaria de adquirir. Com as taxas de importação e o preço do dollar, infelizmente o valor do filme individual fica proibitivo para a minha carteira. Mas entendo plenamente os motivos que fazem os empresarios do ramo não pensarem no Brasil para esse tipo de coleção. Quem compra filmes hoje em dia faz parte de minoria, o que gera no mercado aquele efeito “Tostines” (vende pouco por que não tem os discos no mercado ou não tem os discos no mercado por que vende pouco?)

  2. Prezado Paulo, tudo bem ?
    É grande a satisfação de estarmos aqui novamente apreciando tão rica leitura, diante deste tema tão importante para os cinéfilos. Queria colocar (se me permite) um ponto de vista um tanto dissonante sobre os sistemas multicanais, usados pelos estúdios de cinema desde sua criação no século passado. Como você com maestria nos reportou em sua matéria Paulo, a Fox e a MGM foram precursoras do som estéreo, mas ao longo das últimas cinco décadas, estamos passando por uma salada nos sistemas de captação, gravação, mixagem, e sistemas de reprodução multicanais de áudio. Já perdi a conta da quantidade de nomes e siglas que surgiram, só da Dolby tem vários, aí somando com outros formatos com pouca representatividade, ficamos perdidos nessa salada mista de formatos, necessitando de um verdadeiro “SUPER” Receiver, que consiga agregar e decodificar tantos formatos. Creio que já passou da hora para definir um formato padrão, ou ao menos um que reunisse uma unanimidade, tanto em questão técnica como de qualidade. Afinal se ao longo de décadas passadas ninguém se entendeu, e cada estúdio ou diretor fez o que achava mais conveniente no formato do vídeo, pelo menos no áudio poderiam terminar com essa bagunça, e determinarmos um padrão de áudio para todos os filmes de todos os estúdios. Com o formato do DVD, a indústria Eletro-Eletrônica (que é gigantesca), chegaram em um consenso e tiveram que adotar um formato único, pois existia a briga com a Sony sobre o Betamax, e depois tudo se resolveu. Não sei Paulo sou pequeno aqui, e meu comentário nada mais é que um ponto de vista, mas creio que já passou da hora dos estúdio acabarem com essa sopa de letrinhas, nos dois formatos, tanto de vídeo como de áudio, concorda ?
    Um abração

    1. Olá, Rogério,

      Seu comentário não é pequeno, pelo contrário, porque você nos expõe a sua opinião profissional, certamente mais valiosa que a minha, que não sou desta área.

      Claro que concordo, e vou mais além: no que tange a áudio, o verdadeiro padrão é o Dolby Digital 5.1. O que vem depois dele são extensões e formatos alternativos, como o DTS, que foi um que se impõe até hoje como de “alta qualidade”, por causa do bitrate, mas que se observa ser a mesma coisa, senão pior. Isto é tão verdadeiro que o próprio laboratório Dolby desenvolveu uma nova maneira de codificar áudio para cinema e TV, que é o Dolby Atmos. Este último tem avançado até mesmo nos telefones celulares, o que convenhamos é um absurdo. Mas, faz parte dessa guerra que parece que nunca teve vencedor. E boa parte da comunidade de home video tomou partido de formatos forma insensata, com brigas sem nexo e sem nenhum resultado prático, porque no final das contas é tudo comércio mesmo.

      O DTS no cinema morreu, mas não por causa da qualidade do codec, mas porque os drives de CD-ROM começaram a dar todo tipo de problema. Simultaneamente, a captação do Dolby Digital passou a ser feita no bloco ótico convencional, o que agradou aos exibidores. O gozado é que tanto um quanto o outro ainda podem ser reproduzidos nos cinemas agora equipados com DCI. Até porque a maior parte das produções são feitas mundialmente com trilhas Dolby.

      Eu sou plenamente a favor, como você diz, que se acabasse a sopa de letrinhas, mas eu acho muito difícil que isso aconteça. O que eu venho observando é a participação cada vez maior dos chipsets Dolby Pulse (Dolby Plus) e Atmos nos televisores, com os respectivos codecs nos serviços de streaming, e DTS concentrado em uma meia dúzia de placas mãe, vendidas a quem ainda monta o seu micro, e que é um mercado cada vez mais restrito.

      Abraço,
      Paulo Roberto.

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