A fita magnética compeliu a indústria a fabricar magazines e facilitar o manuseio dentro e fora do ambiente doméstico. Foram épocas interessantes, com grande sucesso de vendas, mas o áudio digital comprimido e mais fácil de transportar fez a fita cassete desaparecer de vez.
As fitas magnéticas revolucionaram a maneira como o som é gravado. Em estúdios, permitiram a regravação e posterior edição do material capturado, com imensa flexibilidade para os técnicos e engenheiros de gravação.
Rapidamente se tornou atraente a ideia de encarcerar a fita magnética em um estojo de plástico, na forma de um magazine dotado da mecânica capaz de rolar a fita sem transtorno.
Os vários formatos se tornaram disponíveis para o público doméstico, principalmente para aqueles desinteressados em manipular os chamados rolos abertos de fita, que fizeram parte do início da alta fidelidade doméstica.
Não só isso, mas o encarceramento da fita iria permitir o isolamento do material magnético e aumentar a sua longevidade, já que ninguém em princípio tocaria as fitas com os dedos, deixando algum tipo de débris.
A RCA norte americana foi uma das pioneiras, ao introduzir este formato ao público em 1958, na forma de um cartucho contendo as bobinas com fita magnética convencional, normalmente rodando na velocidade de 3 3/4 ips (polegadas por segundo).
Uma das derivações interessantes deste formato foi o cartucho em 8 trilhas (Stereo 8), lançado em 1964 pela Lear Jet Corporation, e direcionado ao mercado de automóveis. A novidade aqui é permitir reproduzir a música sem parar. Para tanto, um mecanismo interno faz um laço (“loop”) na fita, partindo do centro do rolo e retornando a parte tocada para o início do mesmo.
O rolete de borracha, que pressiona a fita contra o capstan, ficava inserido no interior do cartucho. Embora prático, isso foi a causa dos inúmeros defeitos de flutuação de transporte mostrados ao longo do uso, não havendo jeito de limpar o rolete a não ser que o cartucho fosse desmontado.
A fita neste tipo de cartucho foi amplamente utilizada nas estações de rádio, com um “Q” ou “cue” (sinal de áudio) gravado no fim do programa, forçando a parada e aguardando o próximo acionamento de reprodução. Eu tive a chance de ver este sistema funcionando nos estúdios da antiga rádio JB FM.
Os técnicos chamavam o reprodutor de “cartucheira”. Várias delas eram montadas em um rack, e acionadas manualmente em sequência dentro da programação. As cartucheiras foram muito úteis na simplificação da transmissão de anúncios.
Aqui no Rio de Janeiro, a antiga fábrica da Tapecar, que ficava próxima da Avenida Brasil, foi uma das primeiras duplicadoras de fitas para cartucho. Quando eu estive lá, o técnico de masterização me mostrou como tudo funcionava: uma fita master de 2 polegadas passava o sinal de gravação para várias “escravas” simultaneamente. Depois este material era levado para a montagem.
Vários programas completos eram copiados em rolos maiores de fita, e um “Q” gravado no fim de cada programa acionava uma máquina de corte, separando fisicamente cada programa.
O som dos cartuchos era razoável, com velocidade de 3 3/4 ips. A sua existência em emissoras de rádio transcendeu o seu uso em equipamentos de carros.
A introdução do Philips Mini-K7
Em 1962 a Philips holandesa inventou e depois lançou mundialmente uma fita cassete destinada ao uso das datilógrafas, aparelho que era chamado de “máquina de ditado”. E o primeiro player lançado foi batizado de Mini K-7. Eu estava no ginásio nesta época, quando um dos colegas levou um aparelho desses para todo mundo ver.
Eu acho que ninguém imaginava que depois de certo tempo a Philips iria transformar a fita cassete em um formato de música, chamado de “Musicassete”, lançado em 1965. O mercado foi depois surpreendido com a introdução do cassete estereofônico, ainda pela Philips.
Evolução
Finda a surpresa do aparecimento da fita cassete estereofônica, começou a corrida pela disputa de mercado, que se estendeu até a década de 1990. Fitas pré-gravadas foram introduzidas, os fabricantes de decks começaram a aperfeiçoar cabeças e toda a parte eletrônica, e finalmente os laboratórios Dolby adaptaram o Dolby A para a fita cassete, com o nome de Dolby B, mais tarde extensamente modificado.
A baixa rotação da fita cassete, na velocidade de 1 7/8 ips, foi compensada pelo aperfeiçoamento na formulação das fitas, tendo atingido o seu ápice com a reintrodução da fita de ferro puro, chamada de “Metal Tape”. As primeiras experiências com formulações de ferro puro foram feitas na década de 1930, mas as fitas pegavam fogo no contato com o ar.
As novas fitas de metal puro eram na realidade ligas contendo metal, e por isso mesmo precisavam de novos tipos de cabeça para gravação e leitura, o que só foi conseguido bem depois que as fitas já estavam prontas para serem comercializadas.
A velocidade de 1 7/8 ips também foi um empecilho na obtenção de som com maior fidelidade na curva de resposta de frequência. O pessoal técnico da Rádio JB adquiriu alguns decks fabricados pela CCE, a partir de modelos da Dual alemã e um deles, o Dual C 846, havia sido lançado com capacidade de rotação em 3 3/4 ips.
Os técnicos se deram ao trabalho de reconstruir o circuito desta velocidade nos decks da CCE. Foram à BASF e solicitaram a fabricação de cassetes de fita em formulação de cromo com pouca quantidade de fita, o suficiente para gravar uma só música. Como o deck tinha sensores na porta de inserção do cassete, a operação na rádio era simplificada.
Na década de 1990, a Philips inovou novamente lançando o Digital Compact Cassette (DCC), o qual apesar de ser de boa qualidade acabou se tornando um enorme fracasso de vendas. Eu estava morando fora nesta época, e lembro que quando o preço caiu nem assim a Philips atraiu consumidores.
Tentativas que não deram certo
Alguém ouviu falar em Elcaset? Elcaset foi o nome de fantasia dado ao L-Cassette, ou “Large Cassette”, formato que se baseou no mesmo princípio do cartucho da RCA. Eu cheguei a ver anúncios dessas máquinas, todas japonesas, mas em curto espaço de tempo o formato simplesmente desapareceu!
Indubitavelmente a fita Mini-K7 da Philips foi o formato que maior impacto produziu no mercado, e a Sony se beneficiou imensamente dele com o player Walkman, posteriormente imitado por outros fabricantes. O Walkman da Sony fez a fita cassete ser levada no bolso, ou o aparelho ser ligado em um sistema estéreo de alta fidelidade.
Todos esses produtos tiveram suas chances e no final foram morrendo. E por quê? Porque simplesmente perderam o sentido!
De que adiantou a Philips lançar o cassete digital (DCC) se o Compact Disc já tinha vários tipos de reprodutores portáteis? Na década de 1980, eu cheguei a ver o absurdo de anúncios afirmando que a fita de uma determinada marca era capaz de gravar um CD sem distorção. A única coisa que tal anúncio fez foi facilitar a cópia de um CD para terceiros. Naquela época, eu fiz de curiosidade vários testes passando CD para fita, todos eles insatisfatórios.
As fitas magnéticas desapareceram também nos estúdios, com a persistência de estações de trabalho contendo sistemas de gravação digital, com amplas vantagens de edição e conversão de formatos.
No tocante às formulações de fitas cassete, muitas delas (e eu experimentei todas) apresentavam altos e baixos, principalmente no que tange ao fator resposta de frequência. E se isso não bastasse, o alinhamento das fitas com redução de ruído, proveniente da Dolby, era irregular o suficiente para não garantir reprodução correta de um tape deck para o outro.
O último tape deck cassete que eu usei tinha um computador de bordo, capaz de fazer o alinhamento de cada fita, com sinais de teste diversos. Ajudou muito, mas não era perfeito, tanto assim que todos os ajustes podiam ser feitos manualmente, caso os testes dessem errado. E davam!
O MP3 substituiu a fita cassete
Finalmente, a obsolescência da fita magnética em geral, e em particular dos magazines usados para as fitas cassete, cristalizou-se mais ainda com o advento da Internet. O MP3, formato inicialmente destinado à portabilidade de arquivos contendo áudio, acabou sendo perversamente usado para armazenamento de música.
Eu vejo pela Internet várias tentativas de ressuscitar a fita cassete, alguns propondo ser um formato de áudio de alta qualidade. Nunca foi! Mesmo com a enorme quantidade de aperfeiçoamentos, a mídia magnética nunca deixou de revelar as suas limitações. Mas, foi o progresso da tecnologia que a matou.
A conveniência de manuseio da fita cassete, que era seu grande apelo, sumiu, morreu de morte morrida, logo após o primeiro player para MP3 ter sido lançado.
O que se vê hoje pela rede é a tentativa de revisita ou curiosidade de alguns que não viveram aquela época. Duvido muito que esta indústria ressurja, mas de repente eu posso estar enganado! Outrolado
. . .
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
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Vale lembrar que as matrizes para se gravar discos de vinil e CDs eram fitas magnéticas como os grandes gravadores de 1 ou 2″, ADAT e DAT. Os CDs fabricados em Manaus usavam normalmente fitas DAT ou CD matriz. O Mini Disc (MD) fez sucesso aqui e no exterior mas problemas mecânicos e eletrônicos (e peças) deixaram ele de lado, além de existirem perdas por compactação (bem menores que no DCC, que fez matar ele, apesar de reproduzir fitas k-7 comuns). Na FM 105 do JB eram usadas ‘casseteiras’ com velocidade de 3 3/4, tinha uma parede cheia de fitas k-7 da Basf com as músicas, algumas rádios utilizaram esses aparelhos. Aqui em casa tenho um antigo Porta Studio Tascam 464 de 4 pistas que grava até 4 pistas em um só sentido em uma fita K-7, o uso ideal são fitas cromo tipo TDK SA ou SA-X (equalização de fábrica). Ele tem a velocidade normal de uma fita K-7 e também 3 3/4, além de pitch para velocidade. Ele utiliza o sistema de redução de ruídos DBX na gravação. Gravando uma fita TDK SA em 3 3/4 com DBX o áudio fica similar ao de um CD para um ouvido não muito ‘especialista’… Os cartuchos utilizados em rádio profissionalmente eram diferentes. O rolo pressor ficava na cartucheira e utilizava velocidade de 7 1/2 com um canal da fita (pista) para os sinais de parada (‘ponto’) e avanço rápido, a qualidade é bem superior ao de 8 pistas… Parabéns pela reportagem Paulo.
Olá, Hélio,
Obrigado pelo extenso comentário. Eu estive nos estúdios da JB quando eles compraram decks da CCE que eram cópias de um deck Dual, que rodava as fitas cassete em 3 3/4. O que os técnicos da JB fizeram foi reconstruir a rede divisora dos CCE para rodar também em 3 3/4. Depois pediram à BASF para manufaturar cassetes de cromo de curta duração, nos quais eles gravavam o material publicitário ou músicas como desejado.
Eu vi e ouvi um desses decks graças a um amigo técnico da JB que me levou lá. Em 3 3/4 se conseguia um som muito superior. Eu não me lembro mais dos detalhes, mas eu acho que eles nunca usaram Dolby B, por causa dos conhecidos problemas de alinhamento.
Em outro momento, a BASF me mandou uma formulação nova das fitas de cromo, cujas formulação anteriores eram sensivelmente fracas em baixa frequência. Infelizmente, problemas de diversos tipos impediram as fitas cassete de chegarem ao nível de qualidade desejado. Nem mesmo as fitas de Metal deram conta do recado. Quando eu parei de usar fitas cassete de vez (as últimas iam para o deck do carro) eu descartei mais de 100 fitas gravadas ao longo dos anos, com algumas gravações raras, a maioria das quais eu consegui depois em CD.
Olá!
Voltei a usar as fitas cassete após 18 anos. A razão é que adquiri um automóvel antigo, e, como quero mantê-lo em estado original para, um dia, pleitear a placa preta, reativei o toca-fitas original de fábrica.
Pensei que seria uma decepção a qualidade do som, mas me surpreendi. Das fitas velhas que tenho, a que melhor conservou a qualidade do som é uma fabricada na antiga URSS. Em segundo lugar, as BASF e TDK. As Sony da década de 90, em sua maioria, estão imprestáveis.
Também considero o toca-fitas mais fácil de operar no veículo, pois os botões são maiores e de uso mais intuitivo do que as minúsculas teclas dos aparelhos modernos.
Oi, Erick,
Obrigado pelo comentário.
Eu também usei fitas cassete no carro, em uma época em que os toca-fitas se tornaram estáveis na reprodução Eu gravei mais de 100 fitas, de todos os formatos, e quase quis me desfazer delas não consegui, porque ninguém tinha interesse neste tipo de formato. No carro, passei para o CD, mas já de muito tempo só uso drive USB, muito mais prático em todos os sentidos.
Na realidade, Vinil, K7, CD podem ter excelente qualidade se a engenharia de som e os materiais utilizados forem de primeira. Vinil para os puristas tem o som melhor do que o CD, mas a matemática provou justamente o contrário. Eu tenho gravações de cassetes com 35 anos em fitas de cromo, cromo equivalente e metal feitos em equipamentos profissionais não tão caros como os Hi-end e duvido que num “teste cego” eles não surpreendam!! Uma TDK SA, TDK MA, SONY UX, etc. bem gravadas “enganam” até os melhores audiófilos! Basta fazer o “teste cego controlado”, infelizmente esses puristas ou melhor “frescuristas” que devem possuir ouvidos de morcegos e tartarugas fogem dos testes cegos como o diabo foge da Cruz.
Em tempo: Em termos de portabilidade e praticidade de manuseio o MP3 ganha fácil do cassete, mas em termos de qualidade só vale MP3 com bitrate 320, abaixo disso poderá comprometer a fidelidade do áudio.
Prezado Paulo
O tema abordado nesta matéria tornou-se muito atual.
A gravadora Polysom (instalada aí no Rio) acaba de anunciar a volta das vendas de albuns em fitas K7, seguindo a tendencia da atual era “Retrô”.
Seria uma estratégia tecnicamente ultrapassada Paulo ? Talvez não.
Acho que dependerá do material da fita utilizada no carretel no momento da duplicação. A Polysom poderia agregar muita qualidade, ainda mais se eles usarem
o melhor tipo de fita K7 lançado até hoje, que seria o Metal Tape (oxido de ferro),
inclusive Paulo esse mesmo material é utilizado nas fitas de video tape profissionais.
Mas o custo chega a ser o triplo do preço da fita K7 comum.
Na verdade Paulo existe uma grande possibilidade de se reinventar esse formato da fita K7, para isso bastaria resolver o único gargalo que esse sistema apresentava, que é a velocidade gravação/reprodução que é 1⅞ ips (4.76 cm/s).
Se fosse passada para 3¾ ips (9.5 cm/s) resolveria o problema.
inclusive lembro-me na época, de Tape Decks profissionais que possuíam esse recurso. Mas dai vem uma questão; a industria eletro-eletrônica vem pisando no freio em tuuudo. Só se investe agora em TV e Smarthphone, o resto…
Um abração Paulo
Oi, Rogério,
Seus comentários são muito pertinentes, mas por favor dê uma olhada nos decks que estão sendo fabricados agora e vendidos lá fora. Nenhum deles aceita fita de Metal para gravação, somente reprodução. Então, salvo melhor juízo, seria uma perda de tempo para consumo de qualquer pessoa com um mínimo de interesse em áudio. Mas, é claro, quando se trata de moda retrô, quem decide é o público.
Abraço.