Nova masterização do filme Operação França corrige os defeitos da primeira versão em Blu-Ray, masterizada com redução cromática.
A passagem de película para vídeo exige a presença de alguém associado ao filme, ou pelo menos próximo a ele, dependendo do tempo decorrido, Quando isso não é possível, o estúdio tem que achar uma maneira de digitalizar o conteúdo com a correção cromática a mais próxima possível da original. O raciocínio é válido para contraste e outros ajustes.
Mas, existem casos onde o diretor do filme está presente no laboratório, e decide mudar a correção de cores, argumentando que aquela imagem foi a originalmente pretendida quando o filme foi rodado.
Um desses casos, que me deixou com os cabelos em pé, foi o do filme “Dracula”, dirigido por John Badham, lançado em 1979 nos cinemas. E eu, por acaso, assisti à projeção em 70 mm, com cores em abundância. Imaginava-se que a edição em DVD fosse equivalente, mas o diretor interferiu, dizendo que o estúdio (Universal Pictures) não quis que fosse feita redução cromática na época do lançamento nos cinemas, e assim estaria ali uma oportunidade de retificar aquele “erro”. O DVD ficou com uma imagem quase monocromática, um horror para os olhos de quem havia visto o filme antes. E quando a edição em Blu-Ray saiu, a mesma imagem crepitou, sem que o público pudesse fazer nada!
Pois muito bem: pode ser prerrogativa do diretor fazer o que quiser com o seu filme, durante a passagem da película para vídeo, mas existe um problema a ser vencido: a memória do público!
Não importa que filme seja, quando a transferência do filme para vídeo modifica a cor, um monte de gente vai para a Internet reclamar. Quando a reclamação dá certo, eventualmente o disco é relançado, com a desculpa de ser a “versão definitiva”.
E não é que neste ano, uma nova edição do badalado “The French Connection” (no Brasil “Operação França”) veio a público, retificando a lambança do diretor William Friedkin (de O Exorcista), ao mandar reduzir a saturação de cores para o jeito que ele diz querer ter lançado o filme originalmente.
A edição em Blu-Ray de 2009 foi cercada de polêmica, com a participação do diretor de fotografia do filme Owen Roizman, que, diante da modificação, chegou a afirmar que o filme não era mais o mesmo.
E com razão. Até então, a única coisa que havia sido mudada era a sonoplastia da trilha sonora em Dolby Stereo, para a versão em Dolby Digital 5.1 canais.
A mudança na imagem tem infinitamente mais impacto do que qualquer remixagem da trilha, embora muita gente por aí também reclame contra isso.
Friedkin mandou o estúdio criar um intermediário digital para a edição em Blu-Ray de 2009 com uma redução significativa de cores, viradas para uma tonalidade pastel, que chega a ser irritante para quem conhece o filme e/ou o viu nos cinemas.
Eu mostro a seguir as capturas das duas edições. Talvez não dê para perceber a diferença de saturação, por causa da compensação nessas capturas, mas se o leitor prestar atenção irá notar esta diferença nos detalhes da imagem, como por exemplo, no tom de pele dos atores. Na tela de vídeo corretamente calibrada, a diferença é gritante.
Chega a ser surpreendente que Roizman e Friedkin tenham chegado a um acordo e feito uma segunda remasterização do filme. Desta vez, Roizman passou a ter voz ativa no resultado final, e com toda a justiça, visto que o trabalho de fotografia neste filme é meticuloso.
William Friedkin é conhecido pela sua paixão pelo cinema e por algumas excentricidades. O público colecionador, que somos nós, podemos agora perceber que a sua paixão foi superada pelo ego, e ele aprovou a nova edição, que alias ainda não saiu por aqui. Alô, Fox do Brasil…
O filme
Operação França virou um ícone da representação visual da cultura americana nova iorquina dos anos 70, em uma cidade então cercada de violência e racismo. “Nunca confie em um negro”, diz o personagem Popeye Doyle, policial que inclusive aparece em duas cenas do filme, como chefe dele mesmo.
A palavra “nigger”, subentendida como “negro”, tem tom pejorativo muito forte e até poderia ter traduzida por uma palavra discriminatória equivalente. Atualmente, ela é habitualmente banida pelo tom racista do “politicamente correto”, mas ocasionalmente usada em comédias ou em falas de atores de cor.
O roteiro bem que poderia omitir esta fala, mas se não o fez foi porque o objetivo era mostrar com fidedignidade o ambiente local. E jamais se poderia acusar o diretor de racista, porque nesse mesmo roteiro o principal traficante da estória é branco! E sobre ele Popeye lhe joga a conhecida alcunha de “frog” ou “sapo”, pelo fato dele ser francês.
Operação França foi filmado com um número enorme de cenas com a câmera na mão (ou no ombro, se preferirem). O próprio Friedkin fotografou, ele mesmo, cenas com tomadas de dentro de um veículo.
O filme conta com a participação do ator/dublê Bill Hickman, que havia rodado cenas de ação no filme Bullit, de Peter Yates, lançado em 1968. Naquele filme, ele e o ator Steve McQueen se lançam em uma corrida de carros alucinante, uma das cenas memoráveis ali exibidas. Em Operação França, Hickman trabalha em cenas perigosas, mas não todas. A corrida em si é um repeteco do que foi mostrado em Bullit, mas não menos criativa do que a primeira.
Façanhas com carros à parte, Operação França mostra de forma cínica e justiceira um ambiente que não é tão diferente daquele de outros países. O filme jamais corre o risco de se tornar desatualizado, porque o tráfego de drogas é problema prevalente e recorrente, independente da classe social de quem consome ou fatura.
Não acho correto explorar o colecionador com mais uma edição, principalmente aqueles que querem, por serem fãs de cinema, ter a melhor edição em vídeo possível, disponível ao consumidor. Por outro lado, é difícil, para este mesmo fã, se esquivar de um relançamento deste tipo, porque o original ficou uma droga. O ideal seria uma troca com quem já comprou, mas diante das atuais condições do mercado, seria querer demais esperar que isso aconteça! Outrolado_
. . .
Leia também:
2001: Uma Odisseia No Espaço, em versão Blu-Ray 4K, Dolby Vision HDR
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
0 resposta
Parabens pelo artigo, me ajudou muito. vou continuar sem
acompanhando as novidades deste site.. top
Parabens pelo artigo, me ajudou muito. vou continuar sem
acompanhando as novidades deste site.. top
Sofro com esse “problema” na edição em blu-ray do Indiana Jones. A verdade é que eu me acostumei com a gama de cores do filme em DVD e quando eu assisti em Blu-Ray achei a imagem muito “quente”, não sei se era essa a intenção dos produtores na época, não cheguei a ver nenhum Indiana Jones no cinema. Quanto à questão do áudio remasterizado em 5.1, acho que é um problema mais simples de contornar, é só disponibilizar no mesmo disco a trilha em Mono ou Estéreo (conforme o original) e a trilha remasterizada para multicanais. Coincidentemente esse mesmo Blu-Ray do Indiana Jones que as cores me incomodam fez isso com a trilha sonora, disponibilizou uma dublagem clássica em 2.0 e uma nova dublagem em português 5.1 deixando para o cliente escolher qual das duas dublagens em português melhor lhe atende (no meu caso, prefiro a dublagem clássica, em 2.0, até mesmo em relação à nova dublagem 5.1 ou a trilha original em DTS HD ma, que são tecnicamente muito superiores, mas aí a nostalgia da infância foi o fator determinante). Você acha que é questão de purismo exacerbado querer que as trilhas sonoras de filmes clássicos sejam apresentadas como nos originais (mono e estéreo e etc.) e não em 5.1 “artificial”? Pergunto isso por eu mesmo não cheguei a uma conclusão e para mim a resposta é um grande “depende”, existem filmes que eu gosto de ver em 2.0, 1.0 ou até mesmo alguma configuração não habitual como 4.0 (Edward Scissorhands) e filmes que eu prefiro a trilha 5.1 independente se o filme foi apresentado assim no cinema.
Oi, Douglas,
Não acho exagero pedir a trilha sonora original no disco, porém o estúdio tem a seu favor o fato dos codecs digitais serem capazes de reproduzir em qualquer sistema, inclusive mono.
Para te ser sincero, eu prefiro mil vezes ouvir a trilha remixada, porque durante anos os estúdios pararam de lançar filmes com banda magnética, em função de uma série de problemas técnicos, e no caso de filmes antigos vários deles foram gravados com múltiplas trilhas, portanto na recuperação dos elementos de áudio estas trilhas são reaproveitadas, de modo a melhorar o impacto visual pretendido.
Mas, isso sou eu, cada um assiste o filme do jeito que mais gosta, concorda?
Sofro com esse “problema” na edição em blu-ray do Indiana Jones. A verdade é que eu me acostumei com a gama de cores do filme em DVD e quando eu assisti em Blu-Ray achei a imagem muito “quente”, não sei se era essa a intenção dos produtores na época, não cheguei a ver nenhum Indiana Jones no cinema. Quanto à questão do áudio remasterizado em 5.1, acho que é um problema mais simples de contornar, é só disponibilizar no mesmo disco a trilha em Mono ou Estéreo (conforme o original) e a trilha remasterizada para multicanais. Coincidentemente esse mesmo Blu-Ray do Indiana Jones que as cores me incomodam fez isso com a trilha sonora, disponibilizou uma dublagem clássica em 2.0 e uma nova dublagem em português 5.1 deixando para o cliente escolher qual das duas dublagens em português melhor lhe atende (no meu caso, prefiro a dublagem clássica, em 2.0, até mesmo em relação à nova dublagem 5.1 ou a trilha original em DTS HD ma, que são tecnicamente muito superiores, mas aí a nostalgia da infância foi o fator determinante). Você acha que é questão de purismo exacerbado querer que as trilhas sonoras de filmes clássicos sejam apresentadas como nos originais (mono e estéreo e etc.) e não em 5.1 “artificial”? Pergunto isso por eu mesmo não cheguei a uma conclusão e para mim a resposta é um grande “depende”, existem filmes que eu gosto de ver em 2.0, 1.0 ou até mesmo alguma configuração não habitual como 4.0 (Edward Scissorhands) e filmes que eu prefiro a trilha 5.1 independente se o filme foi apresentado assim no cinema.
Oi, Douglas,
Não acho exagero pedir a trilha sonora original no disco, porém o estúdio tem a seu favor o fato dos codecs digitais serem capazes de reproduzir em qualquer sistema, inclusive mono.
Para te ser sincero, eu prefiro mil vezes ouvir a trilha remixada, porque durante anos os estúdios pararam de lançar filmes com banda magnética, em função de uma série de problemas técnicos, e no caso de filmes antigos vários deles foram gravados com múltiplas trilhas, portanto na recuperação dos elementos de áudio estas trilhas são reaproveitadas, de modo a melhorar o impacto visual pretendido.
Mas, isso sou eu, cada um assiste o filme do jeito que mais gosta, concorda?