As soluções para DVD-Audio desapareceram. E agora?

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O abandono do DVD-Audio se contrapõe à capacidade de reprodução da mídia por reprodutores Blu-Ray 4K, lançados recentemente no mercado pela Sony. Mas para o usuário doméstico significa o desaparecimento dos principais meios para se autorar um disco de áudio para gravação de som em alta definição.

 

Eu sou, como muitos outros usuários que têm coleção de discos em casa, viciado em preservar a mídia baixada de algum lugar na forma de PCM de alta resolução, com o uso de discos óticos.

A primeira vez que eu comecei a fazer isso foi quando o software Lplex, gratuito, se tornou disponível por volta de 2008. Na época, eu passei a dica de como construir um disco de alta resolução, seja codificado com LPCM ou com Flac.

Apesar do Lplex ser um software sensacional, ele jamais foi desenhado para construir um DVD-Audio, e sim para usar a parte de DVD-Video para inserir arquivos estereofônicos com amostragem entre 48 a 96 kHz, e 16 ou 24 bits de resolução (20 bits não tem suporte pelo programa), ou seja, montar um DAD.

Para mim, depois de certo tempo usando o Lplex, ficou óbvio que arquivos de outra natureza, que exigem a autoração de um DVD-Audio, só poderiam ser usados na construção da mídia, caso um programa específico fosse usado.

Foi quando eu descobri o programa da Cirlinca chamado HD-Audio Solo Ultra, com preço abordável e excelente aplicabilidade. Os demais programas similares custavam uma pequena fortuna, alguns dirigidos para profissionais.

O início do pesadelo

O programa da Cirlinca cobre desde CD até Blu-Ray e, se for o caso, um disco híbrido DVD-Audio/Video. Eu cheguei até a versão 4.4, no último release (Build). No ano passado, eu fui notificado pelo aplicativo que “o prazo de avaliação havia terminado” e eu custei a entender por que. A solução naquele momento foi inserir novamente a minha licença e o programa aceitou. Eu pensei que o problema estava solucionado. Ledo engano. Depois de um mês mais ou menos, o mesmo aviso. Aí eu fui pesquisar a razão.

Na imagem abaixo, o leitor poder observar as setas que mostram a versão do programa (4.4) e a ausência de comunicação com o servidor da empresa.

 

image001 1

 

Toda vez que o aplicativo da Cirlinca é rodado, ele inicializa se comunicando com o servidor da empresa, que pesquisa se existem atualizações, mas neste caso o servidor foi inativado e então aparece uma mensagem de não conexão.

O mesmo acontece com o registro do aplicativo, ou seja, não adianta reinserir a chave de instalação, que o programa nunca chega ao servidor. A sorte é que isso não impede que o programa funcione corretamente. E o azar é que a software house Cirlinca fechou as portas, o e-mail de suporte não tem mais resposta, e então qualquer solução do erro de registro fica eternamente pendente.

E se, neste caso, ainda funciona, o prejuízo é um pouco menor. O chato é ficar reinserindo o código de registro toda hora que o programa caduca e pede a chave de novo.

Eu vi pela Internet o relato de pessoas que compraram este programa e não receberam chave. Em alguns desses casos de compra, a intermediação pelo PayPal se mostrou inútil, e isto nos mostra que os donos da Cirlinca fraudaram estas pessoas, sem solução de reembolso! A empresa simplesmente fechou as portas e os responsáveis desapareceram.

As alternativas não resolvem

A Minnetonka Audio, desenvolvedora do programa DiscWelder Bronze, retirou todas versões DiscWelder do catálogo, inclusive esta que autorava DVD-Audio. Se alguém quiser comprar o aplicativo não vai conseguir!

Há anos existe uma ferramenta gratuita, com o nome de DVD Audio Tools, ainda disponível para baixar. Na realidade, o código é aberto, e assim um parceiro dos autores disponibilizou uma interface gráfica, que seria uma mão na roda para quem não quer rodar o aplicativo original com aquelas linhas de comando quilométricas.

Eu me considero uma pessoa razoavelmente experimentada, mas isso não foi suficiente para fazer aquela interface gráfica rodar corretamente. Depois de tentar instala-la várias vezes e finalmente colocar uma versão mais nova no ar, eu acabei por verificar que no meu ambiente operacional do Windows 10 o programa não vai adiante para construir um disco. A interface é instalada fora do diretório habitual do Windows para programas em 32 bits. Ela vai parar na área de usuários, em um subdiretório criado pelo instalador, o que me obrigou a desinstalar tudo manualmente.

A morte anunciada do DVD-Audio

Toda vez que alguém compra um download com arquivos de áudio de alta resolução, salvo DSD, os destinos prováveis fora da mídia ótica são: passar os arquivos para um drive USB e/ou para um reprodutor de mídia capaz de reproduzir o respectivo codec (PCM, Flac, DSD, etc.).

Então seria o caso de questionar se montar um DVD-Audio ainda é útil. E a resposta transcende o mero uso pelo colecionador de discos, porque quando se queima uma mídia ótica as chances de preservação do conteúdo aumentam significativamente. E neste caso, é aconselhável salvaguardar o que se baixou em disco sólido (M.2, SSD, HD, etc.), sem esquecer, é claro, de fazer depois uma back-up.

No meu caso, por exemplo, eu também uso drives USB, para onde copio inicialmente todos os arquivos, os levo para o reprodutor de mesa, para ouvir o conteúdo e julgar se vale a pena queimar a mídia.

Se o recurso de reprodução de DVD-Audio não fosse importante para seus colecionadores, eu ficaria grato se alguém puder me explicar os motivos pelos quais a Sony lançou agora vários reprodutores 4K de mesa com recurso para reproduzir DVD-Audio! E não foi a única.

Na realidade, a implementação deste recurso é super simples, porque os chipsets de áudio de boa qualidade todos eles permitem a reprodução de qualquer disco ou codec. Fica a critério do fabricante instalar o firmware que disponibiliza um menu para controle do DVD-Audio, mais nada!

Para o computador, o programa gratuito Foobar2000 aceita ler e reproduzir qualquer DVD-Audio em até 5.1 canais, apenas com a instalação do componente DVD-Audio Decoder and Watermark Detector (foo_input_dvda).

Para reproduzir o disco com o Foobar2000, o usuário abre o arquivo AUDIO_TS.IFO, contido no diretório AUDIO_TS, e o programa faz o resto, como mostrado na imagem a seguir, durante a reprodução de uma mídia com codificação MLP:

 

image003 1

 

Os discos com formato DVD-Audio comerciais usam MLP (Meridian Lossless Packing) para comprimir sem perda o sinal PCM para até 5.1 canais a 96 kHz e 24 bits. O resultado é uma reprodução de alta resolução, somente limitada pelo equipamento em uso.

Pode-se atestar a qualidade do MLP nas trilhas sonoras em Dolby TrueHD, que usa este codec como base.

É uma pena que o usuário doméstico do DVD-Audio tenha ficado a ver navios. Até hoje não se sabe (pelo menos que eu saiba ter sido divulgado na mídia) porque a Cirlinca tenha desaparecido. E como não foi a única, pode-se presumir desinteresse de compra do programa por potenciais usuários.

Leva-se ao ostracismo um formato de valor para o audiófilo, que fica meio que sem esperança de ver este cenário revertido!  Outrolado_

. . .

 

Leia também:

 

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O Oppo UDP-203

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. O cerne da questão Paulo é um só… O fim “precipitado da era das Mídias”. O atual mercado consumidor nos últimos anos tem migrado de forma maciça e irreversível (principalmente por não querer pagar, ou por comodidade) para o streaming (nos box da vida, ou nas Smart TV’s), ou de forma mais ampla nos smartphones, (via app de players para diversos formatos de arquivos de áudio, que não requeiram tráfego de dados). Outro ponto desestimulante é a própria indústria de eletroeletrônicos, que desde o início desta década tem puxando o freio de mão, e os players estão desaparecendo do mercado. Com todos esses fatores desestimulantes, o futuro que o jovem está se deparando é sombrio, pois essa geração que está vindo, não terá mais contato com mídias bem elaboradas de origem de sinais analógicos, e com isso não terão referência no futuro do que é um som realístico de qualidade. É uma tragédia enorme, pois o Áudio (como conhecemos), está caminhando para uma fase agonizante. Somos nós Paulo os últimos heróis da resistência, e sem esperança de reverter esse quadro. Um abraço

    1. Olá, Rogério,

      Como sempre seus comentários são muito pertinentes. Eu preferiria acreditar que vai sempre existir uma escapatória para este tipo de problema, mas do jeito que está fica difícil. Ontem mesmo eu vi e ouvi o dono da PS Audio responder a um dos seus fãs sobre a validade de se ter ainda um “CD Player”, e ele, argumentando que a venda da mídia ótica anda muito baixa, ainda assim acha válido a aquisição de um aparelho dedicado, e eu concordo em parte.

      O que é irônico nisso tudo, e o video blog do dono da PS Audio comenta de passagem é que anunciaram várias vezes a morte de formatos, como o Lp, por exemplo, mas eles ainda estão presentes na vida dos consumidores. O problema é achar aonde!

  2. O cerne da questão Paulo é um só… O fim “precipitado da era das Mídias”. O atual mercado consumidor nos últimos anos tem migrado de forma maciça e irreversível (principalmente por não querer pagar, ou por comodidade) para o streaming (nos box da vida, ou nas Smart TV’s), ou de forma mais ampla nos smartphones, (via app de players para diversos formatos de arquivos de áudio, que não requeiram tráfego de dados). Outro ponto desestimulante é a própria indústria de eletroeletrônicos, que desde o início desta década tem puxando o freio de mão, e os players estão desaparecendo do mercado. Com todos esses fatores desestimulantes, o futuro que o jovem está se deparando é sombrio, pois essa geração que está vindo, não terá mais contato com mídias bem elaboradas de origem de sinais analógicos, e com isso não terão referência no futuro do que é um som realístico de qualidade. É uma tragédia enorme, pois o Áudio (como conhecemos), está caminhando para uma fase agonizante. Somos nós Paulo os últimos heróis da resistência, e sem esperança de reverter esse quadro. Um abraço

    1. Olá, Rogério,

      Como sempre seus comentários são muito pertinentes. Eu preferiria acreditar que vai sempre existir uma escapatória para este tipo de problema, mas do jeito que está fica difícil. Ontem mesmo eu vi e ouvi o dono da PS Audio responder a um dos seus fãs sobre a validade de se ter ainda um “CD Player”, e ele, argumentando que a venda da mídia ótica anda muito baixa, ainda assim acha válido a aquisição de um aparelho dedicado, e eu concordo em parte.

      O que é irônico nisso tudo, e o video blog do dono da PS Audio comenta de passagem é que anunciaram várias vezes a morte de formatos, como o Lp, por exemplo, mas eles ainda estão presentes na vida dos consumidores. O problema é achar aonde!

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