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Na busca pelo som de alta qualidade, a gravadora Decca inovou na gravação de áudio. Primeiro com o  processo Full Frequency Range Recording e mais tarde com os primeiros discos estereofônicos e cápsulas para reproduzi-los.

 

O meu pai havia comprado uma gravação em disco do recital da cantora alemã Erna Sack, gravado em Londres, no selo Decca, mas também editado no selo London, em 10 polegadas, quando alguns conhecidos vieram ouvi-lo.

O disco, chamado de “A Song Recital by Erna Sack”, foi gravado com a The Kingsway Symphony Orchestra, conduzida por Hans May. As edições saíram com os selos Decca e London, que foi a que apareceu aqui em casa.

 

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Erna Sack foi uma soprano popular, seus discos estão à venda até hoje, LPs ou CDs. No recital deste disco ela canta em inglês, francês, alemão e espanhol.

Na época, um dos nossos vizinhos, que, por coincidência, foi dono de uma pequena loja de discos, disse ao meu pai que aqueles discos eram “fabricados” no estúdio, com a ajuda de algum instrumento da orquestra que a acompanhava. Ele achava que cantora alguma conseguia emitir sons tão agudos, imaginem…

Até hoje, o que mais me chamou a atenção naquele disco foi o logo usado pela Decca com o termo “Full Frequency Range Recording” (abreviado “ffrr”), dando a entender que o processo de gravação era capaz de capturar toda a faixa espectral sonora de instrumentos e vozes. Na época da prensagem, o processo de corte do microssulco já permitia o uso de agulhas de melhor qualidade e com som bem melhor que os antigos sulcos.

 

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Mas, não era bem assim. Se comparado com discos mais antigos era possível ouvir algum melhoramento sim, mas jamais ao ponto do disco poder ser classificado como “alta fidelidade”.

O resgate doméstico do áudio

Eu achei o disco de 10 polegadas do meu pai nos meus guardados, justamente na época em que eu vinha fazendo um trabalho de restauração dos elepês que sobraram, durante a década de 1990. O leitor pode julgar por si próprio a qualidade do áudio em uma das faixas restauradas:

 

 

Notem que não é só a faixa espectral, anunciada como “Full Frequency”, que está em evidência nesta gravação. Se prestarmos atenção, a captura da orquestra fica exageradamente para trás e obscurecida, provavelmente para tornar mais proeminente a voz da soprano.

A expressão Full Frequency Range Recording, impressa nas capas dos discos, foi usada por anos a fio, quando então a verdadeira alta fidelidade já havia sido demonstrada, inclusive pela própria Decca.

A origem da gravadora

O nome Decca havia sido usado no início do século 20, na comercialização de gramofones, mas a marca foi vendida para Edward Lewis em 1929, que a mudou para Decca Record Company, inaugurando assim a sua atividade como gravadora. Mais tarde, a gravadora iria se estabelecer nos Estados Unidos, tornando-se eventualmente em uma das mais importantes gravadoras de Jazz.

O selo London Records foi usado na América de maneira a evitar conflitos com a marca Decca. Como visto na ilustração acima, o mesmo disco era prensado e lançado na Inglaterra com os dois selos. Mais tarde, com a associação da Decca com a Telefunken, foi criado o selo Teldec, empresa que acabou se tornando uma das mais importantes criadoras de processos de prensagem de vinil e precursora dos videodiscos.

Foi durante a fase de desenvolvimentos dos primeiros discos para vídeo que a Teldec criou um processo de prensagem chamado de DMM (Direct Metal Mastering), que substituiu a madre de laca por uma de metal, com melhoramentos significativos na reprodução do áudio.

O videodisco criado pela Teldec, entretanto, foi logo depois substituído pelo disco de vídeo da Philips, que em vez de agulha já empregava um bloco ótico de raio laser.

O nome Decca foi sinônimo de avanços no elepê de áudio. Os discos ffrr foram desenvolvidos em plena vigência da segunda guerra mundial, a pedido do governo inglês, e lançados já em 1944. Em 1958, a Decca lançou o disco estereofônico e a cápsula que permitia a sua reprodução.

As cápsulas Decca tiveram aceitações variáveis entre os audiófilos, mas ela sofreu evoluções que duraram anos a fio e estão por aí até hoje!

Olhando e ouvindo tudo isso em retrospectiva é possível ver como o áudio evoluiu e como ele se situou no progresso da indústria fonográfica ao longo dos anos. No Rio de Janeiro, foi a loja Veiga, no centro da cidade, quem manteve durante muitos anos a importação regular de discos ingleses, notadamente os da Decca (ou London), usados inclusive para a demonstração daqueles belíssimos equipamentos Quad, com caixas eletrostáticas. Quem passou por lá naquela época não poderia deixar de ficar impressionado com a qualidade do som.

O conceito de “alta fidelidade” mudou através dos anos, mas a memória da gente que viveu os seus primórdios ainda se detém nos vários movimentos e nos sonhos daqueles que procuraram incessantemente a reprodução mais perfeita de instrumentos e vozes.

A música sempre foi parte importante da minha vida e da de muitos amigos. A associação com o interesse na reprodução de qualidade teria sido inevitável!  Outrolado_

. . .

O panorama estereofônico

 

A torre da Capitol Records

 

Atlantic Records

Avatar de Paulo Roberto Elias

Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.

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0 resposta

  1. Prezado Paulo. Bem interessante esta matéria sobre o processo de gravação em vinil ffrr. Mas (no meu caso) como audiófilo seria interessante saber se nos processos ainda usados de confecção da madre e da prensagem do vinil; se houve mais algum melhoramento tecnológico ao longo das últimas décadas, pois apesar do vinil ser um formato totalmente defasado, foi o único representande (que restou ainda em produção) do que havia de melhor para a reprodução de audio em formato analógico. A indústria em todo esse tempo criou todo tipo de toca-discos e cápsulas (nas melhores tecnologias), mas e quanto ao principal o “disco de vinil” ?

    1. Olá, Rogério,

      Eu desconheço qualquer novo avanço nesta área. Os chamados Lps para audiófilos continuam sendo aquelas prensagens com 120g de massa, e custam, no mínimo uns 35 dólares ou mais. Eu soube por um amigo que andaram fazendo Lps caríssimos aqui também, mas nunca vi um na frente.

  2. Prezado Paulo. Bem interessante esta matéria sobre o processo de gravação em vinil ffrr. Mas (no meu caso) como audiófilo seria interessante saber se nos processos ainda usados de confecção da madre e da prensagem do vinil; se houve mais algum melhoramento tecnológico ao longo das últimas décadas, pois apesar do vinil ser um formato totalmente defasado, foi o único representande (que restou ainda em produção) do que havia de melhor para a reprodução de audio em formato analógico. A indústria em todo esse tempo criou todo tipo de toca-discos e cápsulas (nas melhores tecnologias), mas e quanto ao principal o “disco de vinil” ?

    1. Olá, Rogério,

      Eu desconheço qualquer novo avanço nesta área. Os chamados Lps para audiófilos continuam sendo aquelas prensagens com 120g de massa, e custam, no mínimo uns 35 dólares ou mais. Eu soube por um amigo que andaram fazendo Lps caríssimos aqui também, mas nunca vi um na frente.

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