O Hammond B3 foi largamente usado no Rock tradicional e no progressivo. O som do instrumento se presta aos arranjos contemporâneos, com enorme facilidade.
Eu certamente e definitivamente não sou a pessoa indicada para explorar o imenso mundo que cerca o rock, e consequentemente só posso falar o pouco que sei sobre o uso do Hammond B3 pelos “roqueiros” no mundo todo.
Para mim, dissertar sobre Jazz é bem mais fácil, e pelo fato do músico Jimmy Smith ter tido uma importância enorme na minha fase adolescente de descobrimento musical, me sinto bem mais à vontade falando sobre ele com o Hammond B3 e as caixas Leslie.
O gênero “Rock-And-Roll” fez parte da minha vida em duas fases distintas: a de menino, quando todo mundo da minha geração ganhava dos pais um rádio de pilha japonês, geralmente um Spica, e no meu caso um rádio alemão Grundig, bem melhor, aliás. Todos os meninos da rua estavam “antenados” (sem trocadilho) nas emissoras AM do Rio de Janeiro, como Mayrink Veiga ou Tamoio, especializadas em música. O programa “Hoje é Dia de Rock”, da Rádio Mayring Veiga, fez muito sucesso com a garotada.
Durante a década de 1960 eu parei de ouvir o rock tradicional e depois os Beatles, mas ficou desta época a memória da participação de Billy Preston no álbum “Abbey Road”, gravado em 1969 pelos Beatles, destacando-se no acompanhamento de órgão na faixa “I Want You – She’s So Heavy”. A propósito, Preston chegou a ser chamado por alguns como o 5º Beatle.
Na minha segunda fase como ouvinte, já na época da faculdade, e com a ajuda de colegas e conhecidos, eu fui aos poucos me familiarizando com o rock progressivo inglês. Era, na época, impossível ignorar o movimento. Curiosamente, o máximo que eu havia chegado até então foi no rock de fusão foi com o grupo Blood, Sweat & Tears, cujo pianista e organista Dick Halligan, eu gostava muito. Obviamente, o som do Hammond já me era velho conhecido.
Mas o BS&T era rock de fusão, com alternâncias de compasso. O rock inglês da década de 1970 era muito mais agressivo e em grande parte ancorado na música clássica ou tradicional, com o uso pesado de sintetizadores.
O uso do Hammond muda de acordo com as fases
O grupo de rock tradicional Booker T. & The M.G.s usa o órgão para marcar ritmo e faz sucesso com ele:
No Festival de Woodstock o grupo liderado pelo guitarrista Santana coloca o Hammond B3 no palco, para tocar “Soul Sacrifice”:
Outra música onde o Hammond tem participação proeminente é na chatíssima “A Whiter Shade Of Pale”, do grupo Procol Harum, cujo arranjo foi imitado por outros grupos. Eu achei e repasso uma pessoa que destaca o arranjo de órgão da melodia:
No rock progressivo, o Hammnond deu lugar ao enorme número de outros tipos de teclado, e em certos casos pelo Sintetizador Moog. Quem fez uso de teclados diversos simultaneamente, que eu tive chance de colecionar, foi o falecido Keith Emerson, depois de formado o esotérico grupo Emerson, Lake & Palmer.
O ELP deu o exemplo, e vários outros conjuntos, como, por exemplo, o alemão Triumvirat, seguiu a mesma linha, e fez gravações similares. Eu tenho até hoje o álbum Spartacus, que ouvi primeiro na casa de um amigo. Ficou na minha lembrança eu ter queimado a saída de um amplificador Sansui por causa desse disco. A versão em CD, lançada aqui pela EMI, foi vendida a preços ridículos nas lojas de disco, e nunca mais foi reeditada.
O repertório de rock continua presente nas discografias disponíveis, com exceção de discos quadrafônicos, bem mais raros de se conseguir. Versões 5.1, regravadas ou remixadas também estão por aí, inclusive disponíveis em formatos de alta resolução.
Houve época em que a venda de elepês de rock sustentavam a gravação de obras clássicas. Uma das raras situações onde isso não aconteceu foi quando Walter (Wendy) Carlos lançou “Switched on Bach”, em 1968, talvez pelo estilo moderno e contemporâneo das suas virtualizações.
O cinema também ressuscitou coletâneas de rock tradicional, na forma de ficção, drama e comédia, o que evidencia que este tipo de música continua sendo de grande aceitação popular. Outrolado_
. . .
Leia também:
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.