A cada carro lançado recentemente aumenta a interatividade entre motorista e veículo. Prescindir de uma central multimídia inteligente fica vez mais difícil, e os fabricantes sabem disso, procurando usar as novas centrais como principal atrativo.
Eu andava distraído aqui no meu confinamento, quando aparece na tela da TV uma transmissão ao vivo, via YouTube, do lançamento do carro da Volkswagen “Nivus”, nome que literalmente significa, segundo eles, “carro novo”. E foi com grande orgulho que a fábrica anuncia que este carro foi totalmente desenhado no Brasil e seria exportado para o resto do mundo. Taí, gostei!
Basicamente, o Nivus é mais um SUV compacto no mercado, mas com algumas modificações. Também nesta linha de mudança de design, os engenheiros reescreveram o software que está estampado na nova central multimídia do carro:
A primeira vez que eu dirigi um carro com uma central multimídia, um modelo 208 da Peugeot, ela veio com recursos de GPS, o que me encantou muito. Só que para atualizar um mapa o usuário precisava recorrer a uma loja da Here Maps, e gastar uma pequena fortuna para comprar uma versão nova. Alerta contra radar, nem pensar. Foi neste ponto em que eu instalei um aparelho da TomTom no carro e parei de levar multas da respectiva máquina da indústria.
As mudanças de software
Era de se esperar que algum dia tudo isso mudasse, mas até então não se sabia a que ponto!
No meu último Peugeot 208 o GPS com mapas comprados por fora foi abandonado, e a central do carro passou a rodar com Android Auto e Apple CarPlay, que são dois programas semelhantes a um sistema operacional, em cujo ambiente rodam vários aplicativos, entre eles o Apple Maps (Apple CarPlay), Google Maps e Waze (Android Auto e Apple CarPlay a partir do iOS 12).
A Google comprou o Waze e introduziu novos recursos no Google Maps, como os alertas de radares. Este aplicativo tem a vantagem de rodar sem precisar de Internet, basta que o usuário baixe os mapas que precisa em um ambiente onde ele tenha acesso à Internet. Este recurso é importante, porque na estrada é bastante possível perder sinal de telefone.
Em princípio, o Android Auto roda somente em Smartphones, e necessita que estes sejam conectados à central do carro via cabo USB.
O Smartphone dentro do carro
As mudanças recentes no VW Play mostram que a central multimídia se transformou em um Smartphone, porém sem acesso à Internet. Esta limitação poderá ser remediada se o Smartphone do usuário permitir ativar o roteador Wi-Fi do telefone e assim transformá-lo em um Acces Point (AP) ou Ponto de Acesso:
Nos carros da Chevrolet a central multimídia é instalada com um Cartão SIM fixo irremovível, que o usuário usa se quiser. Os serviços de Internet, entretanto, não são gratuitos e só podem ser contratados junto à operadora Claro.
Inovações no VW Play
O VW Play não é somente um emulador de Smartphone, o programa tem a sua própria loja de aplicativos:
As parcerias não param por aí. O Nivus sai de fábrica com o adesivo-antena do Sem Parar, dando direito a 3 meses de graça. Tudo isso supostamente para facilitar a vida do usuário, ou pelo menos para quem é cliente deste serviço.
No final das contas, o que a Volkswagen fez foi instalar um Tablet no lugar da central do carro, com uma tela de 10 polegadas. Além dela, uma outra tela de mesmo tamanho ocupa agora o lugar do cluster (painel de instrumentos), e é customizável. A maioria dos clusters atuais tem uma pequena tela LCD, geralmente monocromática, com indicações diversas, ao lado de instrumentos analógicos. Os outros instrumentos costumam ser analógicos.
A tendência da motorização
Não só de central multimídia e computador de bordo vivem os carros. Embora os motores mais modernos estejam cheios de todo tipo de sensores, e funcionam assim muito melhor que os antigos, a motorização tradicional aspirada está cedendo lugar às máquinas mais leves e de menor tamanho.
O conceito é chamado na indústria pelo seu termo em inglês “downsizing”, isto é, redução ou diminuição de dimensões. Mas, as normas de segurança pedem, e são atendidas, que os motores novos sejam suficientemente robustos e potentes, de modo a garantir uma ultrapassagem sem hesitação. Além disso, embora os chassis dos carros tenham muitas vezes redução de peso, a tendência é que eles sejam equipados com motores turbinados ou sobre alimentados, aumentando assim as chances de retomada (recuperação) rápida de velocidade.
Por causa disso, o downsizing se alia ao turbo para diminuir a cilindrada e manter a potência elevada, ou seja, economia com potência.
Na minha atual percepção é isto que vai prevalecer nos futuros modelos de automóveis: carros mais leves, redimensionados para dar lugar ao conforto na hora de dirigir, e motores turbo com menor número de cilindros e maior potência relativa aos motores aspirados.
Neste formato, é provável que haja prevalência de motores 1.0 ou 1.2 turbo, acompanhados de câmbio automático de 6 marchas ou mais.
Os fabricantes provavelmente terão um certo trabalho, no sentido de convencer o usuário mais cético na confiabilidade das novas motorizações turbinadas. Muitos ainda opinam na Internet contra o turbo, por achar que ele estressa o veículo como um todo. E que, debaixo do estresse mecânico, apareçam problemas decorrentes com desgaste de vários componentes, como bombas de água, correias dentadas, etc.
É preciso esperar para ver. As mudanças nas centrais são altamente positivas. Quem não tem ou não quer este tipo de mudança, pode perfeitamente recorrer a um bom telefone celular, e com o auxílio de um suporte que não o deixe balançando dentro do veículo, fazer uso do aplicativo que quiser.
Para acompanhar o progresso é preciso ter muita grana
Eu tenho certeza que não basta o entusiasta se deixar impressionar com as mudanças nas centrais, no design do motor e no computador de bordo. É preciso saber quanto vai custar tudo isso.
Durante a apresentação do Nivus, o pessoal da Volkswagen se esquivou sutilmente de contar o preço final dos carros para o consumidor, mas deixou “vazar” modelos e preços via concessionária a uma meia dúzia de dois ou três, que analisam carros na Internet.
Se o usuário quiser se candidatar a um Nivus topo de linha aparentemente vai precisar de mais de 100 mil reais. Gozado que eu pensei que fosse mais…
Somente o motorista consciencioso irá saber se vale a pena o investimento. Alguns itens eu imagino que irão pesar nesta decisão, por exemplo, rodar o carro com maior autonomia de percurso e economia de combustível. Ou então, usufruir das facilidades da vida on-line, independente de se ter um Smartphone sofisticado ou mais caro nas mãos.
Opinião pessoal
Eu não abdico de usar um GPS. Uso TomTom há anos e agora me habituo com Android Auto. O meu último TomTom veio com um erro grave: a bateria não é recarregada, como normalmente seria, com a conexão à bateria do carro. No momento o aparelho está em logística reversa para o representante da TomTom fazer a necessária análise, sem previsão de volta.
Ainda falta muito para que aplicativos de navegação disponíveis para Android atinjam um nível satisfatório. O Google Maps, por exemplo, avisa que tem radar, mas não diz de que tipo e nem a velocidade máxima permitida.
Eu não uso telefone Apple, mas acho pouco provável que o sistema seja muito diferente do Android Auto. Ambos os sistemas necessitam “abrir” as devidas interfaces, para que mais aplicativos possam rodar em seus ambientes. Se a última versão do Windows 10 faz isso com aplicativos escritos para Linux, porque não os sistemas de carro?
Já andei em carro turbo, mas nunca dirigi um, portanto me falta a necessária e importante experiência como condutor. Mesmo assim, é óbvio que será a relação entre a economia de combustível na cilindrada e o aumento de torque que serão fatores decisivos para uma eventual troca.
Como em qualquer tipo de tecnologia avançada, eu sempre me posiciono a favor das mudanças, mas em se tratando de veículos novos, junto com a necessária cautela. Se um motor 1.5 turbo consome mais do que o meu atual 1.6 aspirado, a mudança não compensa. E isso é o tipo do dado que deve ser fornecido ao usuário logo de cara!
O meu carro atual tem sensor de chuva, obscuridade e de estacionamento, ou seja, se começar a chover ou a chuva apertar eu nem me preocupo com o limpador de para-brisa, os faróis ligam automaticamente sempre que o carro ficar em ambiente escuro, e tenho alerta de colisão na hora que quiser estacionar o veículo. Além disso, ele tem limitador de velocidade e de velocidade de cruzeiro, recursos que eu nunca usei.
Somente o uso constante é que vai dizer ao motorista se um dado recurso vale a pena ser usado ou é relativamente irrelevante para ele condutor.
Eu acho que a indústria automobilística é muito lenta e preguiçosa. Já poderia ter instalado um sistema operacional no carro há muito tempo atrás, com a simultânea retirada de instrumentos analógicos no cluster. Esses itens deveriam ser de série em todos os carros novos, e não somente em pacotes opcionais ou nos modelos mais caros. Eu simplesmente me recuso a acreditar que a programação de uma central analítica seja uma desculpa para aumentar preço.
A assistência técnica ao usuário final continua manca. Do meu antepenúltimo Peugeot para o atual existe um erro grosseiro de programação na central multimídia, que eu apontei para a concessionária e para representantes da fábrica, inclusive fazendo um diagrama explicando o problema, porém nada foi feito e nem me deram satisfação a este respeito. O chefe da oficina, que viu o erro e o diagrama, me confessa que não entende nada daquilo, e eu disse que era preciso recorrer ao programador da central, que supostamente entende de programação e não de mecânica.
A experiência de condução permite a qualquer um que tenha um mínimo de conhecimento do que está fazendo, dar uma opinião relevante para a fábrica. Ser ignorado é a pior sensação que se pode ter e às vezes motivo para mudar de marca.
Quando um carro como o Nivus é lançado com múltiplas inovações a expectativa cresce. A experiência com o uso por enquanto inexiste e garanto a qualquer um que não é nenhum test drive que vai resolver isso. Outrolado_
. . .
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
0 resposta
É Paulo esse artigo se for explorado a fundo, teria desdobramentos que iriam dar uma 2ª ou 3ª matéria. Essas novas gerações de central multimídia nos carros, estão se tornando tão integrados ao veículo, que em breve serão uma “extensão do painel” de instrumentos (as atuais já podem se comunicar na função de scanner com a central eletrônica do veículo via conector OBD-2 por bluetooth). Possuo um S.U.V antigo que veio equipado com Rádio/CD player, mas não durou um mês no painel depois que comprei o carro, pois era pra lá de pobre. Aí investi numa central multimídia (sem marca) com DVD, mas vou te dizer mudou tudo no veículo, pelo que agregou em serviços e entretenimento. Mas como você descreveu na matéria com maestria, “nem tudo são flores” Os problemas oriundos de compatibilidade com diversos tipos de chicote, fora as atualizações de firmware pois elas não existem; e se o modelo vier com problema de software, vai dar trabalho para correr atrás do prejuízo. Mas por outro lado, por tudo que tenho acompanhado nos sistemas mais novos, está havendo uma maior interligação com a central eletrônica do carro, no próprio chicote, e as funcionalidades estão se tornando ilimitadas, imagine um tablet (como descrito no título), com TV digital, integrado ao seu smartphone, que por tabela está integrado a internet e a contas de e-mail, aplicativo de mensagens instantânea com serviço de vídeo chamada… A coisa vai longe, o automóvel num futuro muito próximo pode se transformar numa extensão do seu escritório, ou do seu home theater. Que coisa maluca Paulo, mas acredito que isso será um marco na evolução dos painéis dos veículos do futuro. Ou seja, as centrais multimídia estão se tornando verdadeiros “canivetes suíços” das montadoras, vamos esperar que ainda surgirão muitas novidades oriundas dessa telinha. Abração.
Oi, Rogério,
Você acertou em cheio no seu comentário, não preciso acrescentar maia nada.
Eu não sei se você notou, a flexibilização aumentou o número de concessionárias abertas, mas as reportagens das emissoras de TV mostram que os consumidores sumiram, e me parece óbvio que tá todo mundo se segurando por falta de grana no orçamento. Portanto, péssimo momento para lançamento dos novos modelos. Mas, a fábrica faz o quê? Se o carro já está na linha de produção, ela vai encalhar tudo no pátio?
Na verdade Paulo toda indústria automobilística não esperava essa trágica pandemia, que fez um estrago astronômico na economia mundial. Todas montadoras trabalham em cima de cronogramas, e os lançamentos de um jeito ou de outro precisam ser feitos, mas as que puderem postergar, irão se sair melhor, mas no caso da Volks foi um tiro no pé o lançamento do Nivus agora. Na sua estreia deu de cara por concessionárias fechadas, e consumidor se sustentando com “caridade do governo” Vou te dizer, quem tiver alguma economia guardada, fará bons negócios no 2º semestre, pois as montadoras necessitarão desovar (a qualquer custo) seus pátios lotados de veículos, que agora nem as locadoras querem… Que sina hein ?
É verdade. No caso específico da Peugeot, cujo modelo 2008 novo eu queria ver de perto, a fábrica registrou o carro, mas a fabricação parece que vai ficar mesmo fora do país, e a proposta inicial de exibição furou totalmente.
A mim me parece que não basta abrir as concessionárias, o investimento em um carro na faixa de 100 mil é penoso até mesmo por entusiastas, e é óbvio que nesse abre e fecha do comércio, com o desemprego aumentando, ninguém se arrisca, nem mesmo o maior dos incautos.
Sobre o Nívus, chega a ser patético assistir no YouTube os analistas de plantão ficarem rodeando o carro no salão da fábrica, mas sem poder sair com ele para dar uma volta, ou seja, a conversa é puramente especulativa e ficao por aí. O Inmetro, segundo eles, reporta que o Nívus faz pouco mais 12 km/L com a gasolina. Em um motor 1.0??? Estranho, não achas?
É Paulo esse artigo se for explorado a fundo, teria desdobramentos que iriam dar uma 2ª ou 3ª matéria. Essas novas gerações de central multimídia nos carros, estão se tornando tão integrados ao veículo, que em breve serão uma “extensão do painel” de instrumentos (as atuais já podem se comunicar na função de scanner com a central eletrônica do veículo via conector OBD-2 por bluetooth). Possuo um S.U.V antigo que veio equipado com Rádio/CD player, mas não durou um mês no painel depois que comprei o carro, pois era pra lá de pobre. Aí investi numa central multimídia (sem marca) com DVD, mas vou te dizer mudou tudo no veículo, pelo que agregou em serviços e entretenimento. Mas como você descreveu na matéria com maestria, “nem tudo são flores” Os problemas oriundos de compatibilidade com diversos tipos de chicote, fora as atualizações de firmware pois elas não existem; e se o modelo vier com problema de software, vai dar trabalho para correr atrás do prejuízo. Mas por outro lado, por tudo que tenho acompanhado nos sistemas mais novos, está havendo uma maior interligação com a central eletrônica do carro, no próprio chicote, e as funcionalidades estão se tornando ilimitadas, imagine um tablet (como descrito no título), com TV digital, integrado ao seu smartphone, que por tabela está integrado a internet e a contas de e-mail, aplicativo de mensagens instantânea com serviço de vídeo chamada… A coisa vai longe, o automóvel num futuro muito próximo pode se transformar numa extensão do seu escritório, ou do seu home theater. Que coisa maluca Paulo, mas acredito que isso será um marco na evolução dos painéis dos veículos do futuro. Ou seja, as centrais multimídia estão se tornando verdadeiros “canivetes suíços” das montadoras, vamos esperar que ainda surgirão muitas novidades oriundas dessa telinha. Abração.
Oi, Rogério,
Você acertou em cheio no seu comentário, não preciso acrescentar maia nada.
Eu não sei se você notou, a flexibilização aumentou o número de concessionárias abertas, mas as reportagens das emissoras de TV mostram que os consumidores sumiram, e me parece óbvio que tá todo mundo se segurando por falta de grana no orçamento. Portanto, péssimo momento para lançamento dos novos modelos. Mas, a fábrica faz o quê? Se o carro já está na linha de produção, ela vai encalhar tudo no pátio?
Na verdade Paulo toda indústria automobilística não esperava essa trágica pandemia, que fez um estrago astronômico na economia mundial. Todas montadoras trabalham em cima de cronogramas, e os lançamentos de um jeito ou de outro precisam ser feitos, mas as que puderem postergar, irão se sair melhor, mas no caso da Volks foi um tiro no pé o lançamento do Nivus agora. Na sua estreia deu de cara por concessionárias fechadas, e consumidor se sustentando com “caridade do governo” Vou te dizer, quem tiver alguma economia guardada, fará bons negócios no 2º semestre, pois as montadoras necessitarão desovar (a qualquer custo) seus pátios lotados de veículos, que agora nem as locadoras querem… Que sina hein ?
É verdade. No caso específico da Peugeot, cujo modelo 2008 novo eu queria ver de perto, a fábrica registrou o carro, mas a fabricação parece que vai ficar mesmo fora do país, e a proposta inicial de exibição furou totalmente.
A mim me parece que não basta abrir as concessionárias, o investimento em um carro na faixa de 100 mil é penoso até mesmo por entusiastas, e é óbvio que nesse abre e fecha do comércio, com o desemprego aumentando, ninguém se arrisca, nem mesmo o maior dos incautos.
Sobre o Nívus, chega a ser patético assistir no YouTube os analistas de plantão ficarem rodeando o carro no salão da fábrica, mas sem poder sair com ele para dar uma volta, ou seja, a conversa é puramente especulativa e ficao por aí. O Inmetro, segundo eles, reporta que o Nívus faz pouco mais 12 km/L com a gasolina. Em um motor 1.0??? Estranho, não achas?