Durante a década de 1970, a lendária cantora de Jazz Sarah Vaughn deixou registrada em estúdio a sua presença no Brasil e a sua confraternização com músicos, arranjadores e compositores locais. O seu afeto pela música brasileira iria durar até o fim da sua vida.
Historicamente, a criação da Bossa Nova pegou emprestado elementos jazzísticos e depois, com o passar do tempo, influenciou marcadamente o Jazz e praticamente todos os seus lendários músicos e intérpretes, particularmente aqueles adeptos do Jazz Moderno e suas variantes.
Sarah Vaughn, educada e criada no Jazz, tornou-se uma lenda, a tal ponto de ser chamada “A Divina”, entre outros apelidos carinhosos dados por seus pares.
Sarah esteve no Brasil diversas vezes, confraternizou com músicos, compositores, arranjadores, e a sua presença está documentada em gravações realizadas no Rio de Janeiro.
Por coincidência, eu tive um colega na universidade, professor de genética médica, que tinha sido músico no auge da Bossa Nova. E ele conviveu com aquele povo todo, alguns que ainda moravam na sua Niterói, como Sergio Mendes e outros. Gente que ele viu “nascer” para a música, que se inclinou para o movimento bossa novista de forma absolutamente espontânea.
E este colega me contou alguns incidentes curiosos, um deles quando Sarah Vaughn concordou em fazer uma brincadeira com um amigo do grupo, apaixonado pela cantora: o homem era notívago, acordava tarde, e um belo dia, Sarah foi bater na porta da casa dele de manhã bem cedo. E a turma ficou escondida, para ver a expressão do rosto do amigo, quando ele se deparou com a cantora na porta de casa. Lógico que todo mundo se esborrachou de rir.
Esse meu ex-colega conta também que a nossa querida Leny Andrade tinha hábito de ouvir discos de Sarah Vaughn, tentando assimilar o seu estilo. Mas, casualmente, quando Leny esteve no México com o show “Gemini V”, que fora lançado originalmente na boate Porão 73, localizada no Leme, Rio de Janeiro, ela conheceu e se tornou amiga de Ella Fitzgerald, e não é impossível que Leny tenha assimilado nuances vocais de ambas as cantoras, sem perder o seu próprio estilo de cantar.
As gravações no Rio de Janeiro
Sarah Vaugh gravou um disco hoje antológico, nos estúdios da RCA em Copacabana, com o título “O Som Brasileiro de Sarah Vaughn, em 1978:
Em 1979, Sarah volta ao Rio de Janeiro, quando então gravou o álbum “Copacabana”, com o subtítulo “Exclusivamente Brasil”:
Em ambos os discos, a contribuição de músicos e arranjadores locais é extraordinária. Basta ver a lista de pessoas que lá estiveram com a cantora dentro do estúdio e com participações em algumas faixas.
Dá gosto ouvir a belíssima voz de Dorival Caymmi ao contribuir com o vocal da sua clássica composição “Das Rosas”. E ainda a entrada inusitada de Milton Nascimento, no vocal de “Courage”, segunda faixa do lado B do antigo Lp.
Para mim, eu até hoje acho a interpretação de Sarah Vaughn em “Razão de Viver”, escrita por Eumir Deodato e Paulo Sergio Valle, uma das mais estupendas que eu ouvi até hoje! E o interessante foi que Leny Andrade já havia gravado na Odeon uma versão antológica desta música no álbum “Estamos Aí”, de 1965. Sem querer traçar paralelos, ambas as versões são igualmente brilhantes, amparadas, diga-se de passagem, na belíssima estrutura melódica da composição.
Sarah Vaughn, ícone do Jazz moderno, ainda gravou música brasileira, em discos como “Brazilian Romance”, de 1987, ou “Exclusivamente Brasil”, entre shows e aparições ao vivo no país.
A presença de Sarah Vaughn no Brasil ficou marcada, e o seu afeto pela música brasileira se estendeu até os seus últimos dias. Quem acompanhou a discografia da cantora percebeu a mudança na sua voz, com tom bem mais grave com o avançar da idade. Mas, tal evolução lhe trouxe um charme vocal insuperável, e nunca deixou os fãs pararem de lhe admirar até o fim da sua vida. Outrolado_
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Louis Armstrong, o menino de origem humilde que reinventou o Jazz
Paulo Roberto Elias
Paulo Roberto Elias é professor e pesquisador em ciências da saúde, Mestre em Ciência (M.Sc.) pelo Departamento de Bioquímica, do Instituto de Química da UFRJ, e Ph.D. em Bioquímica, pela Cardiff University, no Reino Unido.
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Um Brasil que sinto saudade, tempo que não volta mais.
Um Brasil que sinto saudade, tempo que não volta mais.
Ver Sarah interpretando canções brasileiras, ou em performances ao vivo, como com Simonal, entre outros, me dá uma profunda tristeza. De um Brasil que era sofisticado e charmoso, urbanizando-se. Um país de rica cultura, valorizada naquele tempo. Um país que não existe mais, senão em nossas lembranças analógicas.
Ver Sarah interpretando canções brasileiras, ou em performances ao vivo, como com Simonal, entre outros, me dá uma profunda tristeza. De um Brasil que era sofisticado e charmoso, urbanizando-se. Um país de rica cultura, valorizada naquele tempo. Um país que não existe mais, senão em nossas lembranças analógicas.